SOLIDARIEDADE

33ª Semana do Migrante faz resultados práticos em Candiota

Frio, cultura e emprego são temas recorrentes entre as centenas de pessoas que vem de fora buscar esperança na Capital Nacional do Carvão

Nesta semana aconteceu uma espécie de acolhimento em Candiota

Nesta semana aconteceu uma espécie de acolhimento em Candiota Foto: J. André TP

Encerra no próximo domingo (24), a 33ª Semana do Migrante. Com o tema “A vida é feita de encontros”, a semana atenta para as questões de acolhimento e receptividade daqueles que chegam aos municípios de outras partes do país ou do mundo, em busca de perspectivas e crescimento.
Na região, ações estão ocorrendo através da Coordenação da Pastoral das Migrações da Diocese de Bagé, com o apoio da Cáritas Diocesana. A programação da Semana iniciou no último dia 16 de junho em Bagé, devendo se estender até o próximo dia 24.

Em Candiota, através da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, a Semana ganhou uma atividade em virtude do grande número de migrantes encontrados no município pelas obras da UTE Pampa Sul. A grande maioria vem nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Na verdade, devido a isso, no município, as ações não ficam apenas na reflexão e vão para ações práticas.

Uma roda de conversa foi realizada no salão da Comunidade Católica na noite desta quarta-feira (20) com diversos migrantes, oportunidade em que os participantes puderam relatar suas histórias de vida e se sentir acolhidos.

Conforme o frei Rinaldo Matter Eberle, responsável pela paróquia, o local tem servido como ponto de busca de auxílio dos migrantes que chegam ao município e passam por necessidades até se instalar. “Estamos constantemente tentando auxiliar essas pessoas. São muitas histórias de lutas por sobrevivência e dias melhores. A paróquia tem servido como refúgio e busca de alento. Já conseguimos realizar muito, mas esperamos fazer mais por essas pessoas”, afirmou o frei.

Ao enfatizar a necessidade de acolhimento dos migrantes, o religioso lembrou do lema da Semana do Migrante, “Braços abertos sem medo de acolher”, assim como a campanha lançada pelo papa Francisco, “Compartilhe a Viagem”, que convoca a todos a caminhar com os migrantes, visto a situação migratória fazer parte da história da humanidade. “Devemos amar ao próximo, acolher de braços abertos, eles necessitam do nosso apoio. Não devemos ter medo de partilhar”, concluiu o frei.

Durante a roda de conversa e também na agência do Sistema Nacional de Emprego (Sine) do município, a reportagem do TP pode registrar histórias que retratam bem as dificuldades, os anseios e as conquistas que as pessoas enfrentam ao chegar de fora numa terra desconhecida em busca, principalmente, de emprego.

Em busca de emprego

O baiano Valnei disse que veio tentar uma vida melhor

O baiano Valnei disse que veio tentar uma vida melhor Foto: Gislene Farion TP

Moisés dos Santos Carvalho, 39 anos e natural da cidade de Abaetetuba, no Pará, veio para Candiota em abril do ano passado por considerar que este seja o foco do mercado de trabalho. Entre um emprego e outro como encarregado na área de montagem de andaime, nos últimos dois meses, a rotina por aqui é baseada em aguardar uma oportunidade através do Sine. “Venho todos os dias aqui e acabei fazendo uns contatos, mas por enquanto na minha área não apareceu nada”, lamentou. Apesar disso, comemora o fato de não estar sozinho nessa busca já que a esposa veio junto. “É bom a gente saber que tem uma companheira fortalecendo, mas ela anda assustada é com esse frio. A gente só sai da terra da gente porque tá precisando mesmo, ainda mais que lá é sempre verão, é muita diferença.” Ele conta ainda que, apesar de estar a mais tempo que a esposa, foi preciso acostumar com a nova realidade climática. “Tem que ter força de vontade pra encarar porque não é fácil, a barreira não é pros fracos”.

Já o encanador industrial Valnei Santos Ferreira, 26 anos, natural da Bahia, até então desempregado, pensou em seguir os passos da cunhada que há 11 anos veio para Candiota em busca de emprego. Apesar de contar com a ajuda dos parentes em terras gaúchas, disse que veio tentar dar uma vida melhor para a esposa e os dois filhos que deixou em casa. “Tenho que conseguir pra mim e pra garantir o deles também. Não desisto do meu sonho não. Eu sou persistente naquilo que eu quero, se não consigo aqui, vou conseguir lá. Os meninos estão me esperando, se a nossa barriga de adulto ronca de fome, imagina as crianças lá?! Não dá pra desistir.”

Famílias ressaltam generosidade dos candiotenses

Raiane, Raíza e Naná vieram do Pará

Raiane, Raíza e Naná vieram do Pará Foto: J. André TP

As jovens Raiane Carvalho, 23 anos, e Raíza Ferreira, 24, estão tentado se acostumar em Candiota. Elas vieram de Canaã dos Carajás – cidade localizada ao sul do estado do Pará, distante mais de 800km da capital Belém. Para chegar a Capital Nacional do Carvão elas percorreram mais de 3,5 mil km.

Na noite desta quarta-feira (20), a reportagem do TP conversou com elas durante o encontro de migrantes promovido pela igreja católica. O marido de Raiane foi o primeiro a vir para Candiota há cerca de um ano. Ele é mecânico montador e está atuando nas obras da UTE Pampa Sul. Ela, a enteada Nayellen Lopes, a Naná (18 anos), e a filhinha de dois aninhos, estão há seis meses por aqui. “O povo é muito acolhedor e tem muito bom coração. Estranhamos o custo de vida, que é bem alto”, disse.

O marido de Raíza, que também é montador mecânico, chegou em fevereiro deste ano e da mesma forma já está atuando nas obras da nova usina. Ela e a filha de dois anos chegaram em maio. Raíza está apavorada com o frio. “Quando começa, chega me dar uma agonia. Lá, quando faz 23 graus nós já estamos com frio”, conta.

As duas famílias estão recebendo auxílio, segundo elas, tanto da igreja como da Prefeitura, principalmente no que diz respeito a roupas, pois eles sequer tinham vestuário de inverno.

A jovem Naná, que cursa o último ano do ensino médio na escola Jerônimo Mércio da Silveira, quer ser engenheira civil e pretende cursar a faculdade na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), portanto não pretendendo sair tão cedo da região. “Vi que a faculdade de Engenharia da UFPel é uma das melhores do Brasil e é ali que quero me formar”, projeta.

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