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“A comunicação foi o que me salvou”, conta Nael Rosa sobre livro da sua trajetória

O comunicador Nael Rosa é conhecido em toda a região pelo trabalho que realiza Foto: Dione Rodrigues/Especial TP

Uma história de miséria, depressão, maus-tratos e superação transformada em obra literária. É isso que vem fazendo o jornalista Nael Rosa, de 49 anos, natural de Pelotas e que se mudou para Pinheiro Machado aos 5 anos de idade – onde viver grande parte de sua vida. Atualmente ele reside em Piratini.

Quem acompanha suas redes sociais tem se deparado com trechos do livro “Da senzala à Casa Grande”, que pretende lançar no primeiro semestre de 2022. “Caso eu consiga uma editora de médio porte, pois nesse sentido tenho certa ambição, pretendo que a venda ocorra em todo o Brasil e talvez eu lance ao final de 2021”, afirmou. Segundo ele, a história pretende alcançar pessoas a partir dos 15 anos que passam algum tipo de dificuldade como ele passou, mas também considera a leitura interessante para várias faixas etárias e públicos.

INICIATIVA – Para a reportagem, Nael contou que a ideia de escrever um livro surgiu há cerca de cinco anos. “Mesmo estando desempregado há quase dois anos, falo de renda fixa, há muito tempo não passo mais fome, portanto, entendi que eu sou um exemplo de superação da miséria. Passei muita fome, inclusive entre 1994 e 1996, com dois filhos de colo, então percebi que minha vida literalmente falando é um livro. Foi assim que resolvi conta-la após 18 anos de análise psicológica devido à depressão, maus-tratos e abusos sexuais na infância”, revelou.

O LIVRO – Questionado sobre o título do livro, Nael acabou revelando a peça-chave de sua história, o que foi determinante para transformá-lo no que é atualmente: a comunicação. “O nome ‘Da senzala à Casa Grande’ se dá em virtude de alguns episódios ocorridos de 1997 até metade de 1998, quando ainda vivíamos uma espécie de apartheid em Pinheiro Machado. Só frequentava o Clube Comercial gente da raça branca e até mesmo em frente à entidade os negros evitavam passar, acredito que não se sentiam bem, uma vez que, antes de eu ser digamos promovido, só o porteiro e a cozinheira eram negros”, disse.

Ele contou que começou limpando o pátio do clube, passou para a limpeza das boates ganhando R$ 5 e para a limpeza da fossa, quando ganhava R$ 50 – e entende isso como a senzala; depois foi trabalhar na cozinha, na copa e só então garçom no salão principal, onde ocorriam os grandiosos jantares do Lions Club. Mas no ano de 1997, Nael passou a ser repórter do Jornal Folha da Cidade e isso mudou tudo. “Chegou um dia em que o proprietário do jornal, Ricardo Leon, disse que eu ia cobrir o jantar do Lions, foi aí que ele me fez escolher em que eu iria realmente atuar e eu escolhi o jornal. Naquela noite, cheguei meio desajeitado portando um estojo com uma máquina fotográfica e ninguém entendeu nada, afinal, eu era o garçom. Sentei à mesa, fui anunciado como repórter e entendi que eu havia chegado à Casa Grande, já que o salão da entidade praticamente não recebia negros”, explicou.

REPERCUSSÃO – Com trechos publicados no Facebook, o jornalista disse estar recebendo retorno bastante positivo do público que o acompanha. “Já tenho recebido muitos pedidos do livro, pois alguns não entenderam que ainda estou escrevendo. Na verdade, os milhares de seguidores que tenho não imaginavam que, por exemplo, eu passei fome, fui abandonado com dois filhos de colo, não tinha onde morar, me envolvi com drogas, tenho depressão e, em 2007, tentei suicídio. É muita história que, ainda bem, está aguçando a curiosidade de quem acompanha meu trabalho pelas redes sociais”, avaliou.

Como mensagem, Nael entende que vai proporcionar aos seus leitores um motivo para acreditar na superação. “Por pior que seja o que a fome, a miséria, os maus-tratos e a violência podem causar, existe sim uma saída. Depende de sorte, talento dado por Deus, no meu caso para a comunicação, e muito trabalho. Considero sim uma ascensão, pois como relatei, um ano depois eu cheguei ao salão de festas do Clube Comercial e não foi como empregado”, disse.

COMUNICAÇÃO – Quando questionado, o jornalista confirmou que a comunicação foi a saída para tudo que passou. “Recentemente a comunicação também foi a saída, em setembro de 2018, para sair da última crise de depressão. Quando escrevo ou estou ao microfone sinto toda dor psicológica ir embora, me encontrei, não sei fazer outra coisa a não ser escrever ou comunicar em um microfone. Deus me mostrou o caminho e desde 1997 eu e meus filhos não passamos mais fome dado ao meu trabalho, seja ele escrevendo ou falando”, conta com orgulho do que faz.

CARREIRA – Nael Rosa atuou no Jornal Folha da Cidade (de 1997 a 1999); em seguida uma passagem relâmpago pelo Jornal A 1ª Folha, pois não conseguiu dar continuidade devido à crise de depressão; Rádio Nativa FM de Piratini de 2001 até janeiro de 2019; retorno ao A 1ª Folha, hoje Tribuna do Pampa, (de 2010 até 2011); Blog Eu Falei Piratini de 2012 até 2019 e depois, com o mesmo nome, um site que está no ar atualmente.

Sobre o retorno ao rádio, onde ficou conhecido regionalmente, o jornalista acredita que não é o momento – não descartando o encerramento da carreira e nem mesmo uma volta futuramente. “Quando você sintoniza na emissora, no caso de quem está do outro lado, quer sempre alguém que eleve seu astral e como somos humanos é impossível dar gás todos os dias o ano inteiro. Não tenho mais esse gás, então dizer que não quero mais é um exagero, mas no momento, realmente quero dar um tempo e me dedicar ao jornalismo escrito e ao livro”, confessou em bate-papo com a reportagem.

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