ESTIAGEM

Candiota e Pedras Altas já registram falta de água potável no interior

De acordo com as prefeituras, caminhões-pipa já estão abastecendo algumas localidades

A falta de chuvas já acarreta fornecimento de água potável no interior de Pedras Altas Foto: Divulgação TP

O governador Eduardo Leite esteve, nesta terça-feira (14), no Palácio Piratini, com a diretoria de entidades que re­presentam os municípios e o setor agrícola para receber as demandas de quem vem sofrendo diretamen­te os efeitos da falta de chuvas. Conforme apurou o TP, apesar de muitos municípios já terem decretado situação de emergência, na região de cobertura do jornal impresso o cenário é de atenção e monitoramento constante.

Em conversa com a repor­tagem, na manhã desta quarta-feira (15), o prefeito Bebeto Perdomo disse que a situação é de alerta em relação à estiagem, mas que já foi preciso levar água potável até algu­mas comunidades do interior. “Em relação às lavouras, principalmente as de soja, estamos acompanhando e ainda tem chovido em algumas regiões isoladas, fazendo com que ainda não tenha surtido o efeito negativo. Já a falta de água potável vem ocorrendo há 15 dias por aqui, quando já começamos a levar um caminhão caçamba e um viniliq pipa (tanque flexível para trans­porte de água) da Defesa Civil para atender as comunidades do Arroio Mau, Cerro do Baú, Passo da Areia e no assentamento Nossa Senhora da Glória que estão sem água para beber”, contou.

CANDIOTA – De acordo com o extensionista da Emater local, Humberto Alves, o acumulado de chuvas de setembro a dezembro de 2019 de certa forma garantiu que as perdas nas lavouras não fossem significativas até agora. “Na época do plantio da soja, por exemplo, muita chuva também atrapalha. Os acumulados de setembro (155mm) fizeram com que retardasse o plantio; de 27 a 31 de outubro, os 200mm obrigaram alguns produto­res a replantar certas áreas devido ao excesso de umidade ter apodre­cido as sementes; em novembro (40mm) foi possível plantar apesar do estresse hídrico (quando a de­manda por água é maior do que a sua disponibilidade e capacidade de renovação em uma determinada localidade)”, explicou.

Ainda segundo o profissio­nal, apesar da situação ser favorá­vel em relação a outras regiões, o órgão continua atento aos números. “Em janeiro, com ocorrências no dia 1ª e no dia 10, o acumulado de chuvas chegou a 25mm apenas, mas nosso quadro está diferente da maioria das regiões que já de­cretaram situação de emergência. A atenção em Candiota é realmente em relação ao abastecimento de água para consumo e também para os animais”, afirmou Humberto.

Em contato com a Secreta­ria de Agropecuária e Agricultura Familiar de Candiota, a equipe afirmou que a Prefeitura já está le­vando água no caminhão-pipa para as comunidades do interior desde o dia 21 de dezembro. “Até agora já atendemos 70 famílias, numa média de 500l para cada uma, diante da falta d’água em função da estiagem”, informaram. Para as que precisam do abastecimento, a orientação é que entrem em contato diretamente com a Secretaria.

PINHEIRO MACHADO – O vice­-prefeito e coordenador local da Defesa Civil, Jackson Cabral, disse que em Pinheiro Machado também já há relatos de dificuldades de alguns moradores do interior em relação à água, mas não chegou até ele a informação de que tenham ficado sem o abastecimento. “Nesta terça-feira (14), conversando so­bre essa situação com o prefeito, acionamos a Emater para eles nos darem um parecer e monitorar a questão das perdas nas lavouras, eles já estão nos ajudando nisso. Vamos continuar acompanhando a situação, mas é provável que, se esse cenário persistir, vamos decretar emergência sim”, disse.

Ainda conforme esclareceu, para encaminhar o decreto é preciso haver uma série de perdas razoá­veis ou consideráveis com emba­samento legal, conforme as normas do órgão responsável. “Não é tão simples assim porque precisamos comprovar todos os danos nesse documento, mas continuamos acompanhando a situação de perto e em constante alerta”, garantiu Cabral.

HULHA NEGRA – O jornal fez contato com a assessoria de im­prensa da Prefeitura que até o fechamento desta edição não havia repassado a atual situação do município.

FÓRUM DAS ÁGUAS – Nesta terça-feira (14), em contato com o coordenador do Fórum de Desen­volvimento Regional, Manejo das Águas e Coambate às Estiagens (Fórum das Águas) e vereador em Aceguá, Edmundo Picler (MDB), a reportagem apurou que ainda não há ações sendo planejadas neste sentido. “Em Aceguá, podemos dizer que estamos em uma situação favorável se comparado aos muni­cípios do Estado que já sofrem as consequências da falta de chuva. Sobre os outros municípios ainda não temos um quadro das atuais condições porque a última reunião ocorreu em dezembro e estamos no período de recesso”, informou.

O Fórum foi criado em 2007 diante da necessidade e das dificuldades enfrentadas pelos municípios do Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimen­to Econômico, Social e Ambiental dos Municípios da Bacia do Rio Jaguarão (Cideja) nos períodos prolongados sem chuva. Fazem parte Aceguá, Candiota, Herval, Hulha Negra, Pedras Altas, Pinhei­ro Machado e Piratini.

ESTADO – Para tratar do assun­to, esteve com Eduardo Leite o coordenador-geral da Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), José Odair Scorsatto, o diretor da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), José Al­cindo de Souza Ávila, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva, e o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), Paulo Pires. Eles levaram um do­cumento que reúne dez demandas do setor agropecuário, elaborado em conjunto com técnicos do Exe­cutivo.

Governador recebeu documento com demandas dos órgãos que representam os municípios Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini/Especial TP

Ainda na sexta-feira (10), o governador já havia se reunido com representantes das secreta­rias da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural e do Meio Ambiente e Infraestrutura e com a Defesa Civil para discutir medidas a serem tomadas. O boletim mais recente da Defesa Civil contabiliza, até o momento, 44 municípios em situação de emergência devido à estiagem. As culturas mais afetadas são milho, fumo, soja e feijão.

DEMANDAS DO SETOR

* Prorrogação de todas as dívidas dos produtores rurais que tenham origem no crédito rural pelo prazo de 120 dias, tempo que se entende hábil para busca de soluções definitivas para os prejuízos decorrentes da estiagem.

* Prorrogação das parcelas de todos os contratos de investimentos, inclusive os do âmbito do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), vincendas em 2020, para um ano após a última parcela, que hoje consta nestes contratos.

* Repactuar em até dez anos os valores do crédito agropecuário, man­tendo os encargos contratuais; criar linhas de crédito, dentro do Manual do Crédito Rural, para as cooperativas, empresas e fornecedores, que permitam às mesmas repactuarem as dívidas dos produtores rurais atingidos pela estiagem.

* Criação de uma linha de crédito emergencial para agricultores fami­liares com teto máximo de R$ 20 mil, com prazo de cinco anos, sem taxas de juros.

* Ampliação do zoneamento do plantio da soja para 31 de janeiro e do milho para 29 de fevereiro, com intuito de aumentar a janela de plantio, viabilizando o amparo do crédito oficial para o plantio mais tardio das culturas.

* Aumento da cota em 50% por animal e 50% por limite de Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) do milho de balcão Conab, como forma de suplementação da dieta da pecuária e ampliação dos locais de distribuição.

* Antecipação dos pedidos do Programa Troca-troca de forrageiras e também o aumento do valor por beneficiário de R$ 300 para R$ 500 para antecipação do plantio e ampliação da disponibilidade das forrageiras de inverno para a pecuária.

* Rebate ou prorrogação nos pagamentos do Programa Troca-troca para amenizar o endividamento dos agricultores afetados pela estiagem.

* Apoio estadual e federal de assistência social para agricultores fa­miliares e trabalhadores de baixa renda não segurados, que não têm acesso ao crédito rural e que dependam exclusivamente da agricultura de subsistência.

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