Até então sem vacina capaz de cessar a contaminação pelo novo coronavírus, o uso de máscara e o distanciamento social continuam sendo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as formas mais indicadas de combate à doença que já causou mais de 125 mil mortes no Brasil. Diante disso, a nova realidade vem impondo uma série de desafios no dia a dia da população em geral e no modo de prestar os mais diversos tipos de serviços.
Há alguns dias, o Tribuna do Pampa conversou com dois proprietários de academias para entender como tem sido esse “novo normal”, as principais mudanças e o período de total adaptação para os envolvidos. Apesar de também ligadas à saúde, o governo do Estado não reconhece o serviço como atividade essencial e, por isso, somente academias de municípios classificados na bandeira amarela (baixo risco de contaminação) e laranja (médio risco) do modelo de Distanciamento Controlado estavam autorizadas a abrir. Recentemente, as localizadas na bandeira vermelha (alto risco) passaram a atender com 25% da capacidade.
CANDIOTA – Na Capital Nacional do Carvão, o jornal conversou com Alline Munhoz Corrêa, da Mania de Malhar, que fica na sede do município. Por lá, segundo ela, os serviços foram interrompidos de 20 de março a 27 de abril – conforme decreto municipal, que autorizava somente o funcionamento de atividades consideradas essenciais.A reabertura foi possível desde que seguissem uma série de protocolos sanitários para evitar a disseminação do vírus e a educadora física comemorou, ainda mais que a academia é sua única fonte de renda.
Desde então, professores e alunos estão diante de uma nova realidade em Candiota. “Quanto à mudança de horários começamos a ter limites de alunos por hora, quase atendimento personalizado devido ao espaço e o limite de pessoas por metro quadrado imposto pelo decreto municipal. Então atendemos por hora e dia marcado;os alunos passaram a usar máscara no interior da academia e durante o treino; o álcool gel fica exposto na entrada e no interior da academia para o uso contínuo dos alunos e funcionários. Quanto à higienização dos aparelhos é feita pelo próprio aluno quando sai do aparelho ou por nós professores; os aparelhos e colchonetes também são higienizados e passamos a distribuir desinfetantes para facilitar toda essa higienização”, relatou.
Sobre a adesão, ela disse que alguns alunos do grupo de risco resolveram não continuar com os treinos nesse período de pandemia, mas a maioria fez questão de seguir pelos benefícios que os exercícios trazem. “Vários alunos além de visarem a estética estão visando a saúde. Praticar exercícios físicos aumenta a imunidade, melhora a autoestima, diminui o estresse, melhora a saúde mental, reduz o risco de doenças cardíacas, diabetes, colesterol, osteoporose, alguns cânceres e outras doenças, então, por todos esses e outros benefícios, estão aceitando as condições e se mantendo na academia”, disse Alline.
PINHEIRO MACHADO – Com a maioria do período classificado em bandeira vermelha no modelo de Distanciamento Controlado, a realidade do município foi um pouco mais desafiadora no setor. Em conversa com o jornal, Ricardo Oliveira Moreira, proprietário do Centro de Treinamento Funcional ROM, contou que também precisou intensificar os cuidados com a higienização e que estabeleceu outro tipo de contato com seus colaboradores: o virtual.
Além da preocupação com o risco de contaminação, os resultados em relação à saúde física e mental das pessoas e a necessidade de se manterem ativas também receberam um olhar diferenciado. “Na primeira semana a qual ficamos fechados, gravamos vídeos para que os clientes treinassem em casa com os materiais que possuíam, adicionamos ainda ex-alunos e outros amigos na qual tínhamos o contato e compartilhamos esse material. Na segunda semana começamos a atender os clientes em suas casas, higienizando o material a cada início e fim de aula. Alguns preferiram se manter em isolamento, então seguimos produzindo três treinos diferentes por semana durante quase três meses”, relatou.
Além disso, Ricardo contou sobre a necessidade que a pandemia impôs dele se especializar ainda mais. A atividade, assim como para a candiotense, também é a única renda dele. “No segundo mês liberaram a abertura dos estúdios e clínicas de pilates, acabei fazendo o curso e conseguimos trabalhar adaptando esse método à nossa realidade. Mas foi há algumas semanas, em razão do aumento do contágio, que sentimos a real necessidade de utilizar os meios digitais. Foi o jeito de possibilitar que as pessoas pudessem se manter ativas, devidamente acompanhadas e corrigidas do conforto de suas casas. A grande maioria aceitou muito bem, todos entenderam que era para o seu bem, por sua própria segurança”, disse o treinador.
Segundo ele, era inevitável a desistência de alguns alunos, mas o período também vem abrindo portas para que outras pessoas procurem o estúdio. “Têm os que querem treinar em razão da estética sim, mas a maioria é porque precisa – que apresentam crise de lombalgia, artrose, problemas articulares, taxas altas etc. É um público que necessita da atividade física para manter a autonomia, independência, alívio das dores e, claro, dentro do processo perder gordura que também melhora a saúde. Fato é que, independente do método, os processos de aprendizagem devem ser sempre respeitados e as limitações de cada aluno levados em conta acima de tudo, mas a experiência tem sido incrível”, descreveu. Atualmente, o treinador já atende pessoas de outros estados por videochamada e garante que os resultados são excelentes. Ainda conforme avaliou, a pandemia fez com que todos saíssem da sua zona de conforto e buscassem alternativas: “todo o estresse dessas adaptações agora estão dando frutos”.
Saúde regulamenta medidas de proteção em academias
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) publicou, na última semana, a Portaria nº 582/2020, que dispõe sobre medidas de prevenção da Covid-19 para as atividades esportivas e práticas corporais, profissionais ou não. Estão inclusos no dispositivo quaisquer estabelecimentos que envolvam exercícios físicos, práticas corporais ou desportivas, como academias de ginástica, dança, lutas marciais e afins, sejam públicos, privados ou comunitários, realizados em ambientes abertos ou fechados.
Entre as principais medidas elencadas no documento estão priorizar atendimentos remotos ou ao ar livre; vedar contatos físicos; obedecer limite de ocupação de acordo com a bandeira do Distanciamento Controlado vigente; disponibilizar álcool em gel 70% para trabalhadores e clientes; fazer a higienização dos ambientes a cada três horas, ou dos objetos compartilhados a cada uso (como aparelhos de musculação, colchonetes e outros). Bolas não podem ser compartilhadas.
O texto ressalta a importância de promover mudanças no ambiente para evitar que as pessoas fiquem muito perto umas das outras e também o incentivo ao cuidado pessoal, como pedir que cada pessoa leve poucos objetos pessoais, utilize garrafas individuais, não compartilhe toalhas, limpe regularmente o celular com álcool em gel, mantenha unhas aparadas e cabelos presos, entre outras indicações.
Para o controle das pessoas que frequentam o local, a portaria ainda indica manter uma lista de presença, com contatos de emergência atualizados. O uso de máscara é obrigatório, mesmo em ambientes abertos. Sobre a circulação de pessoas, o texto traz a necessidade de definir corredores com fluxo em sentido único; aferir a temperatura de todos que ingressarem no local; entre outros.
Trabalhadores em grupo de risco não deverão exercer atividades presenciais. Para os clientes nesses grupos, deverão ser ofertados horários exclusivos para eles. Os atendimentos deverão ser agendados. As práticas esportivas em formato coletivo seguem vedadas, sendo que poderão ocorrer treinos individuais de lutas ou artes marciais.