Da lona preta à residência na cidade: seu Argeu conta o que presenciou nos 28 anos de Hulha Negra

Argeu acompanha o crescimento da cidade há quase 30 anos Foto: Silvana Antunes TP

A segunda personalidade do especial 28 anos de Hulha Negra também é servidor da Prefeitura. Com chapéu e sorriso largo, Argeni Argeu de Quadros, de 61 anos, ou simples­mente Argeu, também carrega na história de vida, importantes me­mórias de um município que, para ele, apresenta grandes avanços.

Natural de Não-me-toque, seu Argeu chegou em Hulha Ne­gra em uma época em que a loca­lidade era considerada vila, ainda vinculada a Bagé. Sua chegada no município ocorreu através do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em busca de uma terra próspera e uma vida melhor, mas por pelo menos dois anos, conviveu com a dificuldade e a moradia em barracos de lona preta no assentamento Arvoredo.

Bastante conhecido na cidade pela alegria e presteza em ajudar ao outro, quando chegou trouxe a mulher e dois filhos. Já na região, pela falta de acesso à saúde e educação, começou a estudar as características do local e participou do processo de emancipação do município. “Era uma equipe grande, incorporamos como representantes do campo e discutíamos como fazer a cidade crescer. Acho que se conquistaram bons resultados, pois hoje temos uma prefeitura consolidada, salão paroquial, avenida pavimentada e outras obras estão em andamento. Temos lojas e o pensamento das pessoas também mudou. Antes havia certa rejeição com relação aos assentados, mas dizíamos que nosso objetivo era somar, pois tí­nhamos nossos filhos para estudar. Hoje temos acesso de estradas, a força dos assentamentos ajudou a conquistar maquinários. Hulha Negra cresceu muito, os primei­ros projetos foram conquistados, mas necessitamos de outros para implantação de indústrias, pois há falta de empregos e a indústria é essencial”, expõe Argeu.

Atualmente, seu Argeu é servidor concursado. Ele contou ao TP que até entrar para a Pre­feitura, atuava no campo como agricultor e implantou a rádio comunitária Terra Livre, pela ne­cessidade de comunicação entre as comunidades. Logo após, foi convidado a trabalhar na patrola da Prefeitura, mas só entrou após passar em um processo seletivo para a entrega de água nas comu­nidades. O cargo efetivo ocorreu em 2013 após passar no concurso público, quando também contou com o apoio de amigos. “Era uma época de seca. Sempre trabalhan­do, deixei o caminhão abastecen­do a caixa de água para fazer a prova. Fiz as questões, já que não podia sair antes, terminei a prova e segui entregando água. Recebi a notícia quando entregava água na comunidade Santa Elmira e pensei, vou continuar”, relembra.

Seu Argeu, que pensa em voltar para a região natal para ficar mais próximo dos familiares, diz que ainda tem muito o que contribuir na cidade. Ele conta que também já atuou na limpeza de açudes e diz acreditar que um dos maiores problemas da cidade está na falta de água. “Faz 30 anos que estou aqui e até agora o problema não foi resolvido. A ETA vai ajudar a amenizar, mas não vai resolver. O jovem tem que se mobilizar mais, temos um solo fértil, mas é necessário um projeto a longo prazo para termos água, técnicos e estudos para se chegar a uma solução”, conta.

Caseiro, pai de quatro filhos e avô de duas netas, seu Ar­geu – que cursou alguns semestres de Direito Administrativo na Uni­versidade de Passo Fundo-, conta só sair de casa para ir ao mercado. Ao TP, finalizando a entrevista, ele deixa seu lema e parabeniza a cidade. “Fui criado com uma família alemã desde os 7 anos. Os ensinamentos deles aliados a dos meus pais, resultaram o que sou hoje. Temos que nos comportar com as pessoas, meu lema é ser gentil. Parabenizo Hulha Negra, principalmente os jovens. Estou sempre dizendo a eles, estudem para termos grandes conquistas”, finaliza.

 

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