HULHA NEGRA PARA PRODUZIR...

“É uma terra que nos trouxe a felicidade”

Você ainda possui 2 notícias no acesso gratuito. Efetue login ou assine para acesso completo.

Cacilda e seu Chico prosperaram com muito esforço Foto: Divulgação TP

Sabe aquela história de um casal que começou do zero, passou por dificuldades, mudou de vida e prosperou no campo? É esta que também vamos contar nesta edição especial de aniversário de Hulha Negra. Para isso, contamos com o auxílio da extensionista rural da Emater de Hulha Negra, Maria Thomaz, parceira do Tribuna do Pampa ao levar a nossa reportagem até o assentamento Conquista da fronteira, distante cerca de 30 km da sede do município.

Os personagens desta história são Francisco Neto, 69 anos e Cacilda, 68 anos, que se tornaram moradores de Hulha Negra antes mesmo da emancipação. Naturais de Nonoai, cidade localizada no noroeste do Rio Grande do Sul e sem muitas perspectivas, resolveram se aventurar integrando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras (MST). “Ficamos um ano e seis meses acampados no Salto do Jacuí e depois mais dois anos em Vacaria até chegar em Hulha Negra, morando em barracos de lona – quando não rasgavam com a chuva e vento e, até consertar, ficávamos do jeito que dava e até meio no rigor. Nossa vinda para cá se deu em 1991, após sabermos que nestes campos havia possibilidade de se estabelecer”, conta seu Chico, como é conhecido na região.

Os primeiros quatro anos do casal, que na época já tinha dois filhos – hoje também assentados e moradores do campo – foi nas proximidades da Cooperativa de Produção, Trabalho e Integração Ltda (Coptil). Na época, além da falta de estradas, a comunidade convivia com a precariedade da educação e saúde. “Só tinha uma camionete rural e um trator. Quando tinha alguém doente esperava juntar algum grupo para levar ao atendimento. Até partos ocorreram na estrada, era horrível”, lembra a produtora. A residência atual de alvenaria substituiu uma em madeira, construída quando seu Chico e dona Cacilda se estabeleceram de forma definitiva na área onde residem até hoje, que ainda não contava com energia elétrica.

Conforme relatou seu Chico ao TP, para sobreviver eles trabalharam na colheita de milho e depois começaram a vender leite – quando surgiu a oportunidade de adquirir duas vacas e a produzir sementes de hortaliças para uma empresa de Bagé. “O que rendia era o leite e a semente. Como não tinha luz, à noite tirávamos leite e colocávamos em um tarro dentro de um poço que fizemos em uma vertente. Essa era a maneira de não estragar o leite e entregarmos junto com o outro que tirávamos na manhã seguinte. A partir daí as coisas começaram a melhorar”, conta seu Chico, relatando que a renda aumentou após uma parceria com o frigorífico Marfrig, na época Pampeano, através da plantação de cebola e tomate. “Eles faziam molhos para os enlatados e nós começamos a plantar. No período também colhíamos mel. Aí já estava tudo melhor, tínhamos alimentos e conseguíamos nos manter”, completou.

A luz chegou por volta de 1997, após a emancipação, mediante um pagamento em dinheiro e a abertura de buracos. “Junto com outros dois moradores abrimos oito buracos de 1,5 metros de fundura para a colocação dos postes. Na época ainda não tinha o Luz para Todos, tudo que íamos fazer era mais difícil”, conta o produtor.

A vida do casal seguiu sem mudanças de muita magnitude até 2005, ano de aposentaria de Cacilda A partir daí, a produção, que passou a contar com arroz orgânico, foi reduzida ao consumo próprio, até mesmo em razão da idade mais avançada. Em 2009 chegou a aposentadoria de seu Chico, e aliado com um problema de doença, o que também o fez reduzir a produção.

Hoje, o casal que mora em uma boa casa e consegue deslocamento fácil em estradas e dispõe de um bom carro, integra a Associação de Produtores da Reforma Agrária (Aprofara) e junto com outros integrantes, são os responsáveis pela produção e comercialização de pães, cucas e bolachas, com vendas para Hulha Negra e região. “A Aprofara surgiu após a formação de um grupo de idosos. Lá a gente realizava confraternização, cantava e estudava. Eu dizia que éramos idosos mas não estávamos mortos. Com o tempo surgiu um projeto para agroindústria, nos organizamos e passamos a produzir. Deu certo e hoje, além de produtos para a merenda escolar, vendemos para entidades e até o Exército”, contou o casal.

Na propriedade, conforme pode conferir a reportagem do TP, um pomar com frutos diversos, verduras e animais para consumo integram a área, além de uma bela plantação de flores, que recebem os visitantes da propriedade. “Hulha Negra é uma terra que nos trouxe a felicidade”, disse o casal.

Comentários do Facebook