Flor… esta

caminhos

florestaPensar em primavera, esse lindo ensinamento da nossa mãe natureza, é quase como trazer à mente aquele antigo pensamento: “o amor está no ar…” e com certeza está, na alegre sensação que temos com todos os aromas e cores desse tempo que convida a nos olharmos com amor e admiração. Tudo que é belo inspira, cativa e seduz. Tempo de conceber a criação como propósito sagrado de todos os seres. Aprendendo e ensinando nessa pequena passagem pela fragilidade humana. A despeito de todos os passos dados para trás, a despeito do silêncio que assente, o tempo é de luz e criação.

Tempo de aprender que  a diversidade é bela, que todos tem direito a expressar-se, a simplesmente ser… Tempo de viver e respeitar a igualdade de todos os seres… Confiando e recebendo, expressamos o dom que somos, com a simplicidade dos justos. Todas as formas de ser e pensar, dos plenos silêncios aos barulhentos rumores do mais profundo ser, são bem vindas quando há amor e respeito. Quando há a consciência de que não há padrões para o ser e o sentir. A doce verdade repousa no ensinamento da natureza, a cada segundo… como o ensinamento desse sensível poeta sobre a lição da floresta:

…Na floresta só existe lembrança dos amorosos.
Os que dominaram o mundo e oprimiram e conquistaram
os seus nomes são como letras dos nomes dos criminosos.
Conquistador entre nós é aquele que sabe amar.
Dá-me a flauta e canta
E esquece a injustiça do opressor.
Pois o lírio é uma taça para o orvalho
E não para o sangue.

Na floresta não há crítico nem censor
Se as gazelas se perturbam quando avistam o companheiro
a águia não diz: que estranho.
Sábio entre nós é aquele que julga estranho apenas o que é estranho.
Ah, dá-me a flauta e canta
O canto é a melhor loucura
e o lamento da flauta sobrevive aos ponderados e aos racionais.

Na floresta não existem homens livres ou escravos.
Todas as glórias são vãs como borbulhas na água.
Quando a amendoeira lança suas flores sobre o espinheiro não diz:
“Ele é desprezível e eu sou um grande Senhor.”
Dá-me a flauta e canta
que o canto é glória autentica
E o lamento da flauta sobrevive
Ao nobre e ao vil.

Na floresta não existe fortaleza ou fragilidade
Quando o leão ruge não dizem:“Ele é temível.”
A vontade humana é apenas uma sombra que vagueia no espaço do pensamento
e o direito dos homens fenece como folhas de outono.
Dá-me a flauta e canta
O canto é a força do espírito
E o lamento da flauta sobrevive ao apagamento dos sóis.

Na floresta não há morte nem apuros.
A alegria não morre quando se vai a primavera.
O pavor da morte é uma quimera que se insinua no coração,
pois quem vive uma primavera é como se houvesse vivido séculos.
Dá-me a flauta e canta
O canto é o segredo da vida eterna
E o lamento da flauta permanecerá após findar-se a existência.


Kalil Gibran

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