Funcionalismo pinheirense permanece sem reajuste por impasse entre poderes

Projeto foi aprovado, porém prefeito vetou alegando que Câmara enviou fora de prazo. Presidente do Legislativo reclama que a matéria chegou com pouco tempo para análise

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Um rearranjo está sendo tentado para amenizar a situação. Reunião na Câmara deve acontecer na semana que vem com vereadores e membros da Prefeitura Foto: Gislene Farion/Especial TP

Um empurra-empurra de quem é culpado está esta­belecido. Assim daria para resumir o projeto de lei (PL) nº 11/2020, que trata da concessão da revisão geral anual dos ven­cimentos dos servidores públicos de Pinheiro Machado. A categoria está desde 2018 sem ter esses va­lores corrigidos e o atual cenário complicou ainda mais a situação.

A confusão se formou tão logo o prefeito Zé Antônio enca­minhou, nesta terça-feira (5), uma mensagem de veto ao próprio PL. Segundo a justificativa, a demora com que o Legislativo devolveu a matéria seria motivo de incons­titucionalidade. De acordo com a Lei das Eleições, 7 de abril é a “data a partir da qual, até a posse dos eleitos, é vedado aos agentes públicos fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remunera­ção dos servidores públicos que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição”. Conforme registro no próprio site da Câmara de Vereadores, o encaminhamento para sanção só ocorreu no dia 15 daquele mês.

Procurado pela reportagem, o presidente do Legislativo disse que a origem da demora para todo esse impasse foi do próprio governo. “O problema é que o PL já veio atrasado de lá, poderia ter vindo no começo do ano e entrou só em março na Câmara de Verea­dores. Fizemos os trâmites legais, houve sim uma semana de atraso nossa em razão da pandemia, mas foi tudo no prazo certo. Assim que as comissões liberaram, coloquei em votação e aprovamos por unanimidade”, justificou Renato Rodrigues (PSDB).

SIMPIM Em nota publicada em uma rede social ainda na noite da terça-feira (5), o Sindicato dos Municipários de Pinheiro Macha­do lamentou o ocorrido. Segundo consta, a presidente Ângela Régio Marques recebeu a visita do pre­feito Zé Antônio – que explicou que o PL foi enviado em tempo hábil para o Legislativo, aprova­do por unanimidade, mas que o retorno foi após o prazo previsto pela legislação eleitoral. “É do conhecimento de todos que desde 2018 os funcionários públicos municipais de Pinheiro Macha­do não recebem nenhum índice de reposição salarial, o Refeisul (vale-alimentação) já fechou três anos de atraso, sem falar nos sa­lários que ainda não terminaram de receber (do mês de dezembro de 2019) e esperamos pelo menos receber o salário de abril na data correta”, diz o registro.

Ainda conforme relatado, o prefeito ficou de enviar um novo Projeto de Lei (PL) para pagar pelo menos as perdas de janeiro 2020 – até agora um índice de 2,49% – e também estuda a possibilidade de voltar a pagar o vale-alimentação a partir do mês de junho. “Entendo perfeitamente a revolta e a situa­ção de cada servidor neste triste momento que estamos passando, onde estavam esperando um índice que não era o ideal para as perdas que os funcionários vem tendo ao longo desses três anos e quando vê vem uma notícia dessas”, disse a representante da categoria.

PREFEITO No início da tarde desta quarta-feira (6), a reporta­gem entrou em contato com Zé Antônio para tentar entender o im­passe e buscar um esclarecimento junto ao gestor do município. “Esse PL foi para a Câmara de Vereadores de maneira fracionada porque não teríamos como pagar tudo de uma vez. Diante das perdas do funcionalismo nesses últimos tempos e com o magis­tério já tendo conquistado seu aumento por causa do piso salarial da sua categoria, entendemos que a reparação deveria alcançar os servidores de todas as categorias”, explicou. Segundo o gestor, isso seria feito de forma escalonada nos próximos meses.

Claramente incomodado, ele criticou a falta de agilidade do Poder Legislativo para votar a matéria. Mais de uma vez o pre­feito disse que os parlamentares falharam em não promover uma sessão extraordinária para respei­tar o prazo legal – 7 de abril. “Em regime de urgência poderia ter sido votado e liberado de volta, mas optaram pela tramitação de forma normal e não deu tempo. Eles encaminharam depois do dia 7, que era a data máxima para a sanção. Se eu fizesse isso haveriam dois erros: alteração do conteúdo de origem (pela emenda que retirava os agentes políticos) e pela aprovação fora do prazo da lei eleitoral”, disse Zé Antônio.

Durante a conversa, o pre­feito afirmou que alguns verea­dores priorizam outras situações ao invés de procurar reverter a situação caótica que o município se encontra. “Lamento e fico muito triste por ver que tem gente dentro do Legislativo que está mais pre­ocupada com política, desgaste do governo e talvez pensando em ganhar eleição do que com o fun­cionalismo e o município. Se eles não querem apoiar o Zé Antônio, tudo bem, não me apoiem, mas eles não têm o direito de jogar con­tra a população, os trabalhadores e o município”, afirmou.

O gestor foi duro ao exigir que o Legislativo assuma o erro e não fique fazendo politicagem. “O que poderia acontecer se san­cionado? Abriria mais passivos trabalhistas dos agentes que foram eliminados do recebimento da reposição e mais dinheiro do mu­nicípio teria que ser retirado para isso. Queriam que eu continuasse cometendo os mesmos erros que fez Pinheiro Machado chegar na situação atual, mas eu não sou irresponsável. Quero que o Legis­lativo assuma o que fez. Não me venham dizer que foi culpa minha, porque eu mandei em tempo hábil. Eles tinham todas as condições para aprovar antes do prazo e não fizeram”.

EMENDA Durante a tramitação, o Legislativo detectou uma con­tradição nos artigos apresentados na lei. Conforme documentos disponíveis no portal eletrônico, o Executivo propunha que os agentes políticos de ambos poderes (pre­feito, vice-prefeito, secretários e vereadores) não recebessem a revi­são geral anual e logo em seguida incluía esses cargos na proposta.Neste sentido uma emenda supres­siva foi apresentada pela Comissão de Legislação, Justiça e Redação Final, sanando a contradição.

Há um entendimento no Legislativo, que esta correção ao projeto do Executivo, ajudou a atrasar a tramitação. Ao fim, o pro­jeto foi aprovado por unanimidade com a emenda.

DIÁLOGO Em uma rede social, os vereadores Ronaldo Madruga (Progressistas), Fabrício Costa e Sidinei Calderipe (ambos do PSB) chegaram a anunciar uma transmissão ao vivo para tratar do assunto. Horas depois, com os âni­mos mais calmos, houve indicativo para um diálogo entre os poderes. Os parlamentares afirmaram que vão aguardar a manifestação do Executivo junto à Comissão de Finanças e Contas Públicas.

Segundo Ronaldo, a de­cisão surge “com o objetivo de construir juntos a melhor maneira de resolver o impasse da reposição salarial aos servidores públicos, evitando ainda mais perdas para os mesmos. Não vamos responder as provocações e adjetivos pejo­rativos que tem se propagado nas redes sociais, principalmente por quem teria que ser exemplo. É um momento de unirmos esforços em prol dos funcionários públicos, que amargam com mais de três anos com salários atrasados”, publicou em uma rede social.

Para a reportagem, o ve­reador informou que o envio do pedido de comparecimento na pró­xima semana deve ocorrer ainda na segunda-feira (11). “No entanto, preciso que os demais componen­tes da comissão estejam de acordo, o que acredito que estarão. É para uma conversa amistosa e para encontrar um ponto de equilíbrio que vá ao encontro dos servidores públicos e possa ser mitigada a perda inflacionária nos salários”, afirmou.

No mesmo sentido, o pre­feito havia dito pela manhã que ainda buscaria alternativa para possibilitar pelo menos algum tipo de repasse para o funcionalismo público, mas para isso ocorrer precisava contar mais uma vez com a agilidade do Legislativo para decisão sobre o veto.

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