EXEMPLO

Hulhanegrense com limitações físicas se forma em Psicologia

Daniela Oliveira se formou em gabinete. Conforme ela, foi um momento muito especial Foto: Fotos: Divulgação TP

Esta é uma daquelas histórias em que paramos para pensar em como é nossa própria vida e que nos impulsiona a seguir em frente e lutar por novas conquistas apesar de qualquer obstáculo. Pois bem, a personagem desta matéria é Daniela Oliveira, de 37 anos.

O dia 4 do mês de janeiro de 2019 vai ficar para sempre marcado na memória da hulhanegrense. Foi a data em que ela recebeu o certificado de conclusão do curso de Psicologia, pela Universidade da Região da Campanha (Urcamp), campus Bagé.

Proveniente de um nascimento prematuro, aos sete meses de gestação, a vida de Daniela, uma jovem alegre e conhecida por todos, é marcada por cirurgias e atividades de reabilitação. Nem mesmo essa vida um pouco diferente, com cirurgias para alongamento de tendões e as sessões de fisioterapia e psicoterapia a impediram de crescer e lutar para ser uma pessoa independente e com conhecimento universitário.

Daniela (C) junto a colegas Isabel Ianzer e Veronica Portela

Em entrevista a reportagem do Tribuna do Pampa, Daniela, que ainda no nascimento foi acometida por uma paralisia cerebral causada por falta de oxigenação no cérebro, a impedindo de caminhar até os 7 anos de idade, contou um pouco sobre sua trajetória nos estudos, principalmente na universidade. “Sempre estudei em escola pública. Tinha dificuldade em algumas matérias como qualquer criança ou jovem, mas a principal foi a de locomoção, pois nos estudos sempre tive o apoio de colegas e professores”, relata.

Domitila (D), colega e amiga de Daniela

Especificamente quanto à faculdade, Daniela, que nas horas vagas gosta de sair e conversar com amigos, conta que a dificuldade foi sair sozinha para estudar. “Sempre fui super protegida. Normalmente a família de quem tem alguma deficiência tem medo que aconteça alguma coisa. Na minha não era diferente, minha mãe sempre teve esse medo e até começar a cursar a faculdade nunca tinha saído da cidade sem alguém comigo. Senti medo de andar, mas dentro da faculdade sempre pude contar com o apoio de colegas, que me conduziam. A espécie de pânico inicial começou a passar com o apoio de um grupo de cinco colegas que juntos, fazíamos os trabalhos da faculdade”, expõe.

Daniela, porém, fala de uma colega em especial, Domitile Brum, considerada por ela como uma espécie de anjo. “Com o tempo tudo foi se normalizando, as pessoas na Urcamp sempre estiveram ao meu lado, nunca me faltou nada, nem sempre tinha dinheiro para comprar o que comer, mas não faltava, podia contar com eles. Durante os estágios clínicos uma colega me ajudava levando almoço. A Domitile me dava carona, levava em muitos lugares que eu precisava no curso, foi um anjo de

Daniela e a mão Sandra

colega”, disse a psicóloga, que já aproveitou para agradecer a família e todos que a ajudaram a chegar onde ela chegou.

A PSICOLOGIA – Questionada a falar sobre a escolha do curso, Daniela diz ter sempre se considerado uma boa ouvinte e que através da psicologia, há a possibilidade de tu te colocar no lugar do outro. “Através do curso também foi possível me conhecer melhor enquanto pessoa. Sempre achei uma profissão linda, onde tu te colocas à disposição do outro sem julgar, tu és imparcial, escuta, orienta, chora ou ri, depende de cada situação”, explica a psicóloga, que acrescenta um posicionamento bastante interessante. “E o mais incrível, aprendemos que todo mundo tem uma deficiência ou dificuldade, digamos que ninguém é normal”, destaca.

FUTURO – Sobre o futuro, Daniela conta ter grandes expectativas. Ela disse também querer continuar estudando além de trabalhar na área. “Atualmente tenho um Benefício por Prestação Continuada (BPC), mas quero atuar, então penso em pegar meu registro e deixar currículos. Gosto de clínica mas vou atuar conforme as demandas e oportunidades. Também quero fazer uma pós-graduação. Vou em busca”, disse ela.

AOS DEMAIS – Solicitada a se dirigir à comunidade, mas principalmente aqueles indecisos quanto a sua capacidade, Daniela traz um conselho. “As pessoas devem estudar. Existem bolsas integrais, assim como foi a minha pelo Proesc, existem vários outros meios. Não há melhor forma de crescimento que através do estudo. Aos jovens que buscam desafios, estudem, busquem pesquisar, entender, questionar, pois não existem obstáculos intransponíveis, existem muitas coisas esperando para serem descobertas, e conhecimento é a fonte principal para isso”, orienta.
Por fim, Daniela Oliveira agradeceu a nossa reportagem. “Agradeço a oportunidade de relatar um pouco da minha história. Deus abriu a primeira porta pra mim e me orgulho de ser da Hulha Negra, meu município que amo aquela frase: “É da Hulha? sou e amo ser e estar na Hulha!”, concluiu.

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