Na terça-feira (11), a professora da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Jacqueline Piccoli, apresentou, no Seminário Final da Saúde da População Negra no Brasil, os resultados da pesquisa sobre o uso de anti-hipertensivos pela população negra. O evento ocorreu no Ministério da Saúde, em Brasília. O objetivo do estudo é estabelecer a epidemiologia da hipertensão na população negra da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, bem como, avaliar a eficácia e a segurança dos medicamentos anti-hipertensivos distribuídos pelo Programa do Governo Brasileiro Farmácia Popular.
A pesquisa, coordenada por Jacqueline, iniciou em 2013 com o apoio do Programa de Extensão Universitária do Ministério da Educação (Proext/MEC) e, em 2014, foi contemplada com o financiamento, por meio de Chamada Pública, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e do Ministério da Saúde (CNPq/MS), com execução de 24 meses. Dos oito pesquisadores selecionados na chamada, a professora da Unipampa é a única representante da Região Sul do Brasil no evento. Apesar dos resultados já conhecidos, o estudo segue em andamento.
Sobre a seleção do projeto na Chamada Pública nº 21/2014 (CNPq/MS), a professora explica que se tratava, especificamente, de estudos de avaliação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. A intenção era produzir “conhecimentos para o aperfeiçoamento e a efetiva implementação de ações de promoção da saúde da população negra no Brasil e para a excelência dos serviços de atenção básica, de média e alta complexidade, no âmbito do Sistema Único de Saúde”.
Para a coordenadora da pesquisa, “é importante que a população e os profissionais de saúde saibam das especificidades no tratamento da população negra, inclusive há recomendações divulgadas na Política Nacional de Saúde Integral da População Negra”. No dia 30 de maio, os resultados do estudo foram expostos durante uma audiência pública realizada na Câmara de Vereadores de Uruguaiana.
SAIBA MAIS – O estudo, desenvolvido por professores da Unipampa e de outras instituições, acompanhou mais de 200 pessoas autodeclaradas pretas ou pardas que fazem uso de anti-hipertensivos, distribuídos pelo Programa Farmácia Popular, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. A maioria dos participantes é composta por mulheres.
Sobre a hipertensão, a pesquisa constatou altas taxas de falhas no tratamento. Além disso, comprovou que os pacientes têm dificuldade de adesão à terapia. Jacqueline afirma que “mesmo nos pacientes que apresentam boa adesão, a eficácia nem sempre é satisfatória”. A pesquisa mostrou que a maioria das pessoas em tratamento estava com doses apropriadas dos medicamentos, de acordo com as diretrizes atuais para tratamento da hipertensão, porém, ainda assim não atingiam o controle adequado. “Esses achados sugerem que não basta apenas que o paciente tenha acesso a medicamentos considerados ideais segundo protocolos vigentes, mas que é preciso um melhor monitoramento desse tratamento e adoção de estratégias que melhorem a adesão terapêutica”, alerta Jacqueline.
Em relação à segurança, o estudo mostrou que os anti-hipertensivos, que são amplamente distribuídos pelo Programa Farmácia Popular e usados pela população, são seguros no que se refere a possíveis efeitos de mudança celular. Quanto aos parâmetros genotoxicológicos, isto é, à capacidade de alguns agentes químicos danificarem a informação genética de uma célula, os resultados exigem atenção. Há alguns anti-hipertensivos – como os inibidores da enzina conversora da angiotensina (ECA) captopril e maleato de enalapril – que podem diminuir a visibilidade celular e causar danos em nível de DNA, conforme o aumento do pico plasmático. Já a hidroclorotiazida, pode gerar dano ao DNA independente dos níveis plasmáticos.
A pesquisa mostra, ainda, a prevalência da hipertensão arterial sistêmica na população estudada. Apesar de estarem em tratamento, 51% das pessoas acompanhadas têm hipertensão não controlada; 9% apresentam hipertensão resistente, isto é, um tipo raro de hipertensão que não é controlado mesmo com o uso de três ou mais medicamentos anti-hipertensivos de diferentes classes.
Após a apresentação do estudo, em Brasília, os comitês avaliador e técnico do Sistema Único de Saúde (SUS) solicitaram os dados numéricos da pesquisa para o estabelecimento de novas diretrizes e recomendações para o tratamento e controle da hipertensão arterial sistêmica (HAS) em negros. “Estamos bastante satisfeitos. A Unipampa foi muito elogiada e o nosso trabalho recebeu avaliação final como excelente”, conta Jacqueline.
Conheça a equipe executora da pesquisa:
Jacqueline da Costa Escobar Piccoli (coordenadora), Michel Mansur Machado, Patrícia Dutra Sauzem,
Vanusa Manfredini, Ivana Beatrice Mânica da Cruz e Matias Nunes Frizzo