
Na foto, representantes do Executivo, Legislativo e convidados na audiência pública Foto: Gislene Farion TP
Uma verdadeira aula de meteorologia. Assim podem ser resumidas as duas horas de audiência pública, ocorrida na tarde da última terça-feira (6), na Câmara de Vereadores de Pinheiro Machado. Os responsáveis pelas informações foram os acadêmicos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Fernando Rafael, Gabriel Cassol e Diulio Patrick. O trio também faz parte da equipe da Sigma Meteorologia.
A reunião foi proposta pela Comissão Temporária Especial de estudo e divulgação das possibilidades de investimentos econômicos relativos ao microclima do município, que conta como membros os vereadores Fabrício Costa (PSB), Cabo Adão (PSDB), Jaime Lucas (MDB), Gilson Rodrigues (PT) e Wilson Lucas (PDT). Conforme a justificativa, a intenção do grupo era tornar público os dados obtidos a partir das estações meteorológicas instaladas em Pinheiro Machado e assim buscar alternativas para fomentar o desenvolvimento local.
Além do grupo de estudantes, da comunidade em geral, dos representantes do Legislativo e do Executivo, a audiência contou ainda com a participação do chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Clima Temperado, Jair Nachtigal.
SIGMA METEOROLOGIA – Além de comentar sobre os resultados obtidos desde a instalação dos equipamentos em Pinheiro Machado, a equipe da Sigma Meteorologia lembrou que a ferramenta não serve apenas para constatar temperaturas e colocar as cidades em destaque – tanto pelo frio intenso quanto pelo calor. “A meteorologia é extremamente importante para a área da agricultura, por exemplo, pois possibilita a prevenção de impactos dos fenômenos atmosféricos, o gerenciamento e o planejamento das atividades agrícolas, bem como o zoneamento agroclimatológico”, disseram.

A equipe da Sigma Meteorologia falou sobre o trabalho desenvolvido no município Foto: Gislene Farion TP
Durante a apresentação, o trio lembrou que, em 2018, Pinheiro Machado registrou o inverno mais frio de todo o Rio Grande do Sul. Além disso, exibiram as aparições na mídia desde que o projeto teve início. Estes momentos, segundo eles, dão visibilidade tanto para o trabalho realizado, bem como para colocar o município em evidência. “É com a divulgação desses dados que as pessoas vão começar a entender que o que buscam lá na serra gaúcha, nós também temos aqui”, disse Fernando. Além dos registros no próprio Tribuna do Pampa, o trabalho dos acadêmicos foi mostrado no Estadão, GaúchaZH, RBS TV, G1 e até no horário nobre da Rede Globo, durante o Jornal Nacional.
Apesar de todo o prestígio conquistado até agora, fruto de muito trabalho, os alunos da UFPel alertaram para a necessidade de recursos financeiros para viabilizar a continuidade do projeto. De acordo com o grupo, a universidade não custeia nenhum dos gastos e contam apenas com recursos próprios e de colaboradores. “Atualmente nós precisamos de R$ 1.200 para voltar a ter três estações funcionando corretamente no município, realizar a compra de um novo sensor de temperatura e umidade, um abrigo meteorológico e ainda a troca do anemômetro (equipamento que mede a velocidade do vento)”.
EMBRAPA – Para o representante da Embrapa, Jair Nachtigal, a potencialidade do município já foi devidamente comprovada pela Sigma e agora existe um longo caminho a ser trilhado. “Pinheiro Machado é único. Não existe nenhum outro município no mundo que tenha as mesmas características de clima, de solo e de cultura que existe aqui. O desafio é o que vem a seguir, de como usar essas características tão peculiares para benefício próprio”.

Além dos estudantes da UFPel, Jair Nachtigal (D) esteve representando a Embrapa Foto: Gislene Farion TP
Segundo o profissional, um dos alertas a se fazer é em relação às condições de infraestrutura dos municípios que buscam atrair turistas e fomentar determinadas produções. “Precisa ter luz, precisa ter ponte, precisa ter acesso e precisa ter mercado. Não é só o clima e não é só a vontade. Todo esse desenvolvimento depende de um conjunto de fatores que muitas vezes definem o sucesso e o fracasso de determinada atividade”.
Além disso, Jair lembrou ainda sobre a importância das entidades se unirem em prol de melhorias e, consequentemente, obter o desenvolvimento econômico que almejam diante dos dados. “Esse é o desafio que cabe a todos nós, juntando as inteligências, reunindo instituições como a UFPel, a Embrapa, a Emater, a Prefeitura, a Câmara de Vereadores e a própria comunidade para viabilizarmos algumas soluções para cada região e lembrar que ninguém começa grande e que isso não acontece de uma hora para a outra”, explanou.
DEPOIMENTOS – Enquanto os vereadores Cabo Adão (PSDB) e Wilson Lucas (PDT) agradeceram a disponibilidade dos convidados e lembraram da importância de dar continuidade ao trabalho, Jaime Lucas (MDB) foi um pouco além. “Saio daqui muito satisfeito por ver esses três meninos dominarem uma matéria que está em pauta e que é de suma importância para vários setores. Eu, como produtor rural, muita coisa aprendi com eles. Para mim, esse encontro foi muito significativo tanto na vida particular, como empresário rural e também vereador, porque além de tudo eu quero ver o meu município se desenvolver. Acredito em turismo e acredito nesse projeto, porque realmente são dados impressionantes que eu não tinha conhecimento. Saio daqui renovado, energizado e convicto de que precisamos buscar mecanismos para também viabilizar a aquisição de aparelhos mais modernos para termos dados ainda melhores”, disse.
De acordo com o vice-prefeito e secretário da Educação, Cultura e Desporto, Jackson Cabral, a pauta é bastante interessante e merece ser agregada a um trabalho que já vem sendo desenvolvido em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em Pinheiro Machado. “Sou responsável pela pasta do Turismo dentro da Prefeitura e vejo que ele é bem problemático, porque várias ações são necessárias para que as coisas aconteçam. No ano passado, trabalhamos muito em cima do Plano Municipal de Turismo que está agregado ao trabalho regional da Associação Pampa Gaúcho de Turismo (Apatur) e com certeza vamos incluir o frio como um dos objetivos para atrair esse turista para Pinheiro Machado. É importante salientar que são diversas questões que precisamos debater, o Poder Público estimular e ainda contar com o investimento que vai precisar partir da iniciativa privada”, lembrou.
Além disso, Cabral comentou sobre a importância da Câmara de Vereadores proporcionar esse tipo de debate. “Preciso parabenizar os membros dessa comissão pela excelente iniciativa e acredito que esse é o papel do Poder Legislativo: trazer a discussão de assuntos importantes como o clima em benefício do desenvolvimento local. O Poder Executivo, dentro daquilo que tem conseguido, está apoiando o trabalho da Sigma. Entendemos que agora estamos tratando de dados oficiais, que hoje estão devidamente catalogados e só dessa forma os órgãos de imprensa podem divulgar. Tudo isso só foi possível graças a esse projeto, que deve ser parte importante da inclusão de Pinheiro Machado como ponto turístico da nossa região”, disse.
Em bate-papo logo após o encerramento da audiência pública, o presidente da comissão, Fabrício Costa (PSB), já sinalizou para a reportagem que passos seguintes devem ser dados na próxima semana. Ao que tudo indica, de modo a unir forças em prol do desenvolvimento regional, o assunto deve ser levado aos demais municípios do Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental da Bacia do Rio Jaguarão (Cideja).