
Maitê junto aos pais na festa de 1 ano Foto: Divulgação
Uma criança alegre, que se da bem com todo mundo, com uma rotina normal. Assim foi descrita a pequena Maitê Schneider Ballejo Canto, de 1 ano e 2 meses pelos pais, Marco Igor Ballejo Canto, 62 anos, e Rejane Schneider Silva, 46 anos, de Hulha Negra, em entrevista ao Tribuna do Pampa, para falar sobre a filha que tem Síndrome de Down.
A pauta ocorre em virtude do mês de março também ser lembrado por ter o dia 21 como o Dia Mundial da Síndrome de Down, uma data de conscientização global para celebrar a vida das pessoas com a síndrome e para garantir que elas tenham as mesmas liberdades e oportunidades que todas as pessoas.
Muito amada desde a descoberta da gestação, Igor Canto conta que a descoberta da gravidez foi uma grande surpresa pela idade do casal, mas também motivo de muita alegria. “A gente sabia de alguns riscos da gravidez em razão da nossa idade, mas fizemos todo pré-natal, exame de translucência nucal e ultrassom morfológico e nunca apareceu o Down e a princípio corria tudo normalmente, mas a Maitê se movimentava pouco na barriga, fato que nos preocupou adiantou em uma semana seu nascimento”, contou.
A DESCOBERTA DO DOWN
A pequena nasceu no dia 15 de janeiro de 2024, na Santa Casa de Caridade de Bagé e segundo o pai, transformando a vida de toda família, especialmente a do casal que já possuía filhos de outros relacionamentos. “Na hora do parto cesárea foi meio complicado. Estava junto com a Rejane para acompanhar tudo e quando ela (Maitê) foi retirada, não chorou. A médica Jussara Mello, muito atenciosa, levou para atendimento. Fiquei nervoso, o tempo parecia que não passava. Quando cheguei na sala escutei a médica falar que ela tinha sintomas de Down”, relatou Igor.
O pai conta que os momentos foram de tensão, pois a bebê precisou de oxigênio, assim como outros exames para o diagnóstico final da síndrome. “Quando olhei no rostinho já vi que era Down, mas guardei pra mim inicialmente para não preocupar a Rejane que estava em recuperação. O momento foi desgastante, de tensão, mas minha única preocupação era que estivesse tudo bem com elas”.
Ele conta que até a mãe ver a filha na madrugada do dia 16, por volta da 1h, mesmo tendo nascido na manhã do dia 15 foi angustiante. “A Maitê estava na UTI, aí surgiram possibilidades de problemas de coração e audição, que depois foram descartados, graças a Deus, pois sempre tive muita fé e não fico antecipando as coisas, apenas fazia minhas orações para que tudo desse certo”.
Ao TP, a mãe falou sobre a notícia da síndrome. “Quando o Igor me contou foi um momento de muita emoção. Mas nada mudou, apenas surgiu a preocupação de como agir, como cuidar diante das coisas da vida, literalmente voltar para a escola”, diz Rejane.
SENTIMENTO E DIFICULDADES

Mãe da pequena mudou a rotina para se dedicar aos cuidados da filha Foto: Divulgação
Rejane conta que o único sentimento ao ter a filha com Down foi o de insegurança. “Insegurança diante do desconhecido, é bem complicado pra gente que não conhece. Os 10 dias de UTI foram difíceis, pois era apenas eu e o Igor que podíamos ficar com ela (Maitê), mas ela nunca ficou sozinha”.
O pai complementa dizendo que o apoio da família foi importante, mas que pra eles, os pais, o que interessa é que a filha está em pleno desenvolvimento, que por vezes nem lembram que ela tem a síndrome, apenas nos dias de tratamento especializado em Bagé. “Minha irmã Mônica veio morar na Hulha pra nos dar apoio, a Rejane mudou a vida pela Maitê, passando a ficar em casa pra cuidar da nossa vida (Maitê). Mas Hulha Negra abraçou a Maitê, pra nós ela é uma criança linda, sem nenhuma diferença. A gente só vê que ela tem Síndrome de Down quando olha uma foto”, diz o pai emocionado e ao mesmo tempo com um sorriso no rosto ao falar da pequena filha.
O TP perguntou a família sobre as dificuldades enfrentadas. Os pais relataram que apenas ter acesso a atendimentos especializados encontrados apenas em Bagé. “Deveria ser mais vezes, mas todas as quartas a Maitê faz fisioterapia na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), além de tratamento com fonoaudiologia, onde a Isabel Lamas tem um atendimento diferenciado. Faço exercícios em casa para auxiliar semanalmente, mas o que nos falta é terapia ocupacional. Não dirijo para levar ela nos atendimentos em Bagé, o que dificulta também, mas a Maitê está com desenvolvimento bom, ela tem acompanhamento mensal da pediatra. São dificuldades, mas sabemos que estamos bem com relação a muitas mães”, expõe Rejane.
PRECONCEITOS
Em 2025 ainda há muita luta por igualdade de direitos e posições e muitas vezes, por respeito. O preconceito, seja de raça, situação financeira ou física ainda acontece e bate na porta de muitas famílias. Questionados sobre a preocupação quanto a sofrerem algum tipo de preconceito pela síndrome da filha, Igor Canto conta que até o momento não passaram por nenhum problema e que também não buscam olhar essas questões, pois no dia a dia tratam a filha como uma criança normal, como se ela não tivesse sido diagnosticada com Síndrome de Down. “Não passamos por nada. Gostamos tanto da nossa filha, temos tanto amor e carinho e nenhuma pessoa preconceituosa vai acrescentar nada em nossa vida. São pensamentos que temos de família, que torna o preconceito uma coisa muito pequena. Pode acontecer mais adiante pra ela (Maitê), mas pra nós não. Quando ela nasceu eu era vice-prefeito, um homem público e ela sempre participou e esteve junto em tudo, festas, carnavais, encontros. Jamais ela foi ou será escondida. Ela tem uma vida normal na sociedade e é isso que vai fazer diferença pra ela. Ela é muito querida, muito amada, carinhosa, adora música e violão”, manifesta Igor, que também deixa uma mensagem. “As pessoas devem aprender amar e respeitar os outros como gostariam de ser amados e respeitados”.
MÚSICA À MAITÊ
A conversa com os pais da pequena Maitê foi finalizada com a letra de uma música escrita pelo pai, Igor Canto, em homenagem a filha. Emocionado, ele disse ao jornal ter pego um violão e apenas cantado. “Se eu tivesse que falar, o que passou no meu pensamento, desde a hora que nasceu, foi um misto de sentimentos. O medo do desconhecido, mas a certeza de querer demais, minha pequena e amada, Deus te mandou para me dar a paz. Voltei pra escola todo inseguro, mas descobrindo muito de você, o seu olhar com este brilho intenso, foi nos fazendo muito te querer, tua delicadeza e meiguice, e este jeito estranho de se dar, nos enche cada dia os nossos dias, e só pensamos em te amar e amar. Maitê, é um sonho é a vida, que me da a força e o sentido de viver. Maitê, amor de criança, és muito especial, e eu adoro ter você”.
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