ESPECIAL 30 ANOS HULHA NEGRA

“A obra de construção de um município sempre será uma obra inacabada em alguma data”, diz Marco Antônio

Marco Antônio foi o primeiro prefeito de Hulha Negra Foto: Arquivo TP

Marco Antônio Ballejo Canto, 63 anos, nasceu em Bagé, em 13 de outubro de 1958. Primeiro prefeito de Hulha Negra, totalizou 12 anos a frente do Executivo, com mandatos de 1993 a 1996, 2001 a 2004 e 2005 a 2008. Concorreu a cargos políticos três vezes, sempre para prefeito de Hulha Negra. Deixou a atividade política, em cargos eletivos, com 50 anos. De 1983 a 2017 exerceu o cargo de auditor-fiscal do trabalho no Ministério do Trabalho.

Em entrevista ao Tribuna do Pampa, ao ser solicitado para fazer uma análise dos 30 anos de emancipação de Hulha negra, o primeiro prefeito da cidade disse ser necessário comparar os distritos de Bagé, Hulha Negra e Tupy Silveira, com o que passou a ser o município de Hulha Negra. “A cidade de Hulha Negra é incomparavelmente melhor que era a vila de Hulha Negra. A vila sequer tinha uma padaria funcionando em 1992; a cidade possui ensino da creche ao polo universitário, amplo e diversificado comércio, bancos, dezenas de profissionais atuando na área da saúde, empresários bem-sucedidos e classe política que atua promovendo avanços permanentes. A vila se tornou uma cidade com o que chamamos de equipamentos urbanos típicos de cidades. O interior mudou pouco. Num primeiro momento, de 1993 ao início dos anos 2000, a substituição de grandes propriedades por assentamentos e poucas pessoas por quase mil famílias, em situação educacional e econômica muito precárias, trouxe instabilidades ao meio rural. Com o passar dos anos, alguns se consolidaram e avançaram, outros fracassaram, mas hoje o meio rural está estabilizado, pacificado, e os que conseguiram se manter vivem bem melhor, na média, que décadas atrás. Comparando com os demais municípios da região, Hulha Negra foi o que mais evoluiu e se alguém discordar é apenas a minha opinião”, analisou Marco Antônio.

Canto ainda compara o município com uma visão do que seria ideal. “Hulha Negra precisa evoluir muito principalmente na área da educação e nesta área, em especial, a classe política. Educação que só faz sentido se conhecimento se transformar em ações socialmente úteis. Educação de cada uma das pessoas que deveriam estudar para ficar melhor todos os dias. Hulha Negra já deveria ter todas as ruas pavimentadas e todas as calçadas feitas. Evoluiu muito e poderia ter evoluído mais”, destacou.

O TP também questionou o ex-prefeito acerca do que, para ele, deixou de fazer enquanto prefeito. “O que não fiz ou deixei de fazer porque não quis fazer, porque não tive recursos humanos e econômicos para fazer, por ter escolhido prioridades erradas, por não ter sido competente o suficiente para ter compreendido o melhor caminho naqueles momentos, não faz parte dos meus pensamentos hoje. Gosto de pensar no que pude realizar com o apoio de muitos. A obra de construção de um município e de uma sociedade sempre será uma obra inacabada em alguma data. Deveria ter exigido de meus assessores que estudassem mais. Alguns evoluíram, mas na média foi muito menos do que deveriam ter evoluído”, manifestou Canto.

Quanto ao que faria se fosse prefeito atualmente, Marco Antônio também expôs que é uma análise que não faz parte dos seus pensamentos, porém, de forma eventual, faz algumas indicações de ações. “Faria o centro administrativo voltar a ser centro administrativo; secretarias espalhadas pela cidade criam uma prefeitura em cada canto; desapropriaria o terreno baldio em frente a prefeitura e ali construiria um estacionamento para atender a prefeitura, o ginásio de esportes do colégio e a comunidade; iria ao judiciário, se preciso, para retomar a estação férrea antiga, base da origem do município, que hoje pertence a este e ali faria alguma coisa útil para a sociedade; municipalizaria do ensino fundamental e continuaria a nucleação de escolas priorizando os centros educacionais do ensino fundamental, Monteiro Lobato e 15 de Junho. Reduziria a frota de veículos e reavaliaria o transporte escolar que representam um investimento (ou custo se os valores forem mal aplicados) muito elevado. Daria prioridade na sede para as obras de pavimentação das ruas, faria ampla publicidade do polo da Universidade Aberta do Brasil visando fazer com que a comunidade se aproprie deste polo e estude no mesmo”.

O jornal ainda solicitou ao primeiro prefeito do município, para citar as principais benfeitorias feitas em seus mandatos. Segundo Canto, “a principal benfeitoria que um governante pode fazer não se retrata em obra física. Desenvolver significa de outra forma envolver as pessoas, suas ações, suas iniciativas, suas energias e fazer com que, motivadas e convictas de que o futuro será melhor, se movam em grupo para construir as coisas novas de que precisam para viver melhor. Acho que me saí bem nesta área”, destacou.

O ex-prefeito lembrou que o que fica, de forma permanente, realmente são as obras físicas, uma vez que nada permanecerá como foi em determinado tempo, pois as pessoas mudam, as ideias mudam. “Citarei cinco para não me estender: o centro administrativo capitão Hugo Canto; a ampliação da Escola Municipal Monteiro Lobato; o Centro de Atenção Integral à Saúde; o polo da Universidade Aberta do Brasil; o saneamento”.

Para finalizar, ao ser questionado pelo TP que legado ele acredita ter deixado para os hulhanegrenses, Marco Antônio Ballejo Canto diz gostar de pensar que fez parte de um movimento, o da emancipação, que mudou a história da região, antes e depois. “A palavra legado é bonita e até me faz pensar nos faraós do Egito, mas não penso em deixar legado até porque acredito que em poucos anos as coisas se perdem, viram memórias remotas. Importante, dizem os sábios, é dar valor ao que estamos vivendo hoje. Gosto de pensar que fiz parte de um movimento, o da emancipação, que mudou a história da região, antes e depois; que estudei em três universidades e além da formação universitária e pós-graduação, engenharia, tenho curso superior de formação política, que cursei durante o meu primeiro mandato; que fiz o que foi possível quando fui prefeito. Se quiserem uma sugestão, estudem para lembrar algo que estava esquecido ou aprender alguma coisa nova todos os dias”, concluiu.

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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