DIA DO PROFESSOR

Amor, carinho e compreensão foram essenciais para a alfabetização de aluno com autismo em Candiota

No último dia 15 de outubro, foi comemorado o Dia do Professor, e nesta edição a equipe do jornal conta a história de amor e compreensão da professora Nilse Lima, que entre outras turmas, é a responsável pela área de alfabetização das séries iniciais da Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Francisco Assis Rosa de Oliveira (Faro), em Candiota.

Ao TP, a professora contou que dá aulas há aproximadamente 14 anos, sendo 10 anos na área de alfabetização dos alunos. Na Escola Faro, Nilse começou a lecionar no início deste ano de 2023, mas trabalha com as séries iniciais há cerca de quatro meses. Neste ano, ela está trabalhando, ensinando e se apaixonando pelo pequeno Nicollas Bueno Leite, 7 anos de idade, que foi diagnosticado com autismo um pouco antes de completar o seu segundo aniversário.

 

ALFABETIZAÇÃO

Professora Nilse e Nicollas estão avançando na alfabetização Foto: Lidiane Klauck/Especial TP

Apaixonado pelos palhaços Patati e Patatá, o pequeno aprendiz adora mostrar as tarefas que realiza para os colegas de classe, e entre suas atividades na escola, a sua preferida é escrever no quadro.

Ao falar sobre como está trabalhando a alfabetização do aluno, a professora Nilse explicou que utiliza os métodos fônicos e silábicos com o pequeno. “É claro que a alfabetização não vem com uma receita pronta, principalmente a de crianças autistas. Nós precisamos nos adaptar à realidade e necessidade do aluno, até mesmo no modo que ele aprende, para que possamos fazer o planejamento das aulas”, informou, reafirmando que cada aluno é diferente. “Então eu ensino mais pelo método fônico e o silábico, conhecendo as letras e os fonemas, até chegar à construção das palavras”.

Ao ser questionada sobre o tempo de espera até o resultado dar os primeiros sinais, Nilse disse que é um pouco demorado, pois conseguir a concentração de crianças com autismo é mais complicado, ressaltando que sempre precisa ter muita negociação. “Eu sempre falo para fazermos aquela atividade, e que depois ele vai poder fazer outras coisas que ele queira”, disse ela. “Quando eu cheguei, ele já tinha conhecimento do alfabeto, e mais ou menos em um mês e meio nós já conseguimos ver o resultado, e ele começou a ler as primeiras palavras sozinho”, relembrou, falando do sentimento e emoção que sentiu ao ver que seu trabalho estava realmente funcionando.

Para que Nicollas se sinta integrado com a turma, a professora sempre o chama para ler algumas palavras no quadro, e foi em um dia desses, que o pequeno surpreendeu a turma, a professora e a sua monitora. “Eu coloquei umas seis palavras no quadro e chamei ele para ler o que estava escrito. Quando ele conseguiu, eu me emocionei muito. É uma vitória muito grande, pois sabemos tudo o que passamos”, comentou,  exaltando a participação da monitora de Nicollas, Adenice da Silva, no processo de alfabetização, reforçando o seu papel e sua importância na sala de aula.

 

APOIO DOS COLEGAS

Na foto, Nicollas (na frente de azul) e Nilse juntamente com a turma Foto: Lidiane Klauck/Especial TP

Ao falar sobre as atividades diárias que o aluno realiza na escola, a professora ressaltou e elogiou o apoio que Nicollas recebe dos colegas de sala de aula, pois eles ajudam e vibram com cada vitória que o amigo conquista.

Além disso, a professora contou que muitas vezes, quando Nicollas não quer realizar as tarefas, os colegas vão até a mesa dele, conversam e tentam negociar algo para que ele realize a atividade. “Eles batem palmas para comemorar as atividades que ele realiza, e na questão da aprendizagem os próprios colegas o incentivam, e isso é muito bom”. A professora também comentou que está sempre preparando materiais que chame a atenção dele, e que ao mesmo tempo ensine também.

 

PROFISSÃO

 

Ao falar sobre a profissão, a professora ressaltou que esta é umas das únicas áreas que se comemora o avanço da outra pessoa. “Ser professora é algo gratificante, principalmente andar na rua e encontrar ex-alunos que nos reconhecem, e acho que não existe coisa melhor”, falando o quanto é grata por sua escolha, destacando que faz por amor e por gosto. “Eu sou realizada em ser professora”.

Na oportunidade, ela também comentou sobre a sua primeira alfabetização em alunos com autismo, no quinto ano do ensino fundamental. Emocionada, ela contou que atualmente o ex-aluno consegue ler livros, lembrando de quando ficou sabendo da notícia, que foi contada por ele. “Hoje ele lê livros, e ele sempre diz que quem o ensinou foi a professora Nilse”. Como acontece em todas as áreas de atuação, Nilse também disse que já passou por situações negativas, mas agradeceu por serem casos isolados e por atualmente contar totalmente com o apoio e a compreensão da família de seus alunos.

Já a professora e diretora da Escola Faro, Simone Costa, disse que independente do tempo de atuação, o processo de alfabetização é desafiador para todos os professores. “Nós encontramos desafios em cada turma que atuamos, e eu falo isso com muita propriedade, pois ajudei nesse processo de alfabetização de muitas crianças”, citou, ressaltando que a escola precisa ter pessoas que estejam disponíveis para ajudar as crianças, especialmente os autistas,  a passarem essa fase e serem alfabetizadas.

“E isso é o que nós temos aqui! Uma pessoa que é disponível, se mostra interessada e tem um olhar cuidadoso e vontade de fazer”, disse a diretora, ao falar da professora Nilse. Ainda, Simone disse que Nicollas teve um avanço muito grande e contou com uma profissional que se dispôs a fazer um trabalho mais direcionado.

 

FAMÍLIA DE NICOLLAS

 

A equipe do TP também entrou em contato com a mãe de Nicollas, Juliana Pereira Bueno, que contou como foi saber que o filho havia sido diagnosticado com autismo, e sobre a alegria em poder vê-lo lendo suas primeiras palavras.

Quando recebeu o diagnóstico do filho mais novo, Juliana disse que ficou sem saber como agir e pensou muito em como seria a vida de Nicollas daquele momento em diante. “Nós conversamos com os profissionais que atenderam ele desde cedo, para entender mais sobre esse assunto. Mas hoje, já estamos bem mais tranquilos com o desenvolvimento dele, principalmente nas tarefas da escola e o comportamento com os colegas”, contou a mãe, citando que hoje a família sabe que crianças com autismo só precisam de atenção, carinho e respeito, e que aprendem diariamente um pouco mais do mundo do filho.

Ao falar sobre a adaptação, Juliana disse que é preciso entender como Nicollas sente e enxerga as coisas ao seu redor, e que tem certeza de que ele tem grande capacidade para aprender, desde que seja compreendido. “Hoje, o trabalho que a professora Nilse e a monitora Adenice fazem com ele na escola, está dando resultado positivo na vida dele. Ele já está lendo as primeiras palavras, e são pequenos gestos como esse, que nos deixam mais tranquilos para o futuro dele, para que ele se socialize com as pessoas mais para frente”, relatou.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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