ÁGUA

Cideja e Instituto Padre Josimo comemoram conclusão de projeto de construção de cisternas

Foram construídas 283 cisternas entre os municípios de Candiota, Hulha Negra, Pedras Altas e Aceguá

Transmissão ao vivo serviu de anúncio de conclusão das obras e celebração Foto: Reprodução TP

Transmissões ao vivo e presta­ção de contas na Câmara de Vereadores de Candiota ser­viram de celebração pela conclusão de um importante projeto para os municípios de Candiota, Hulha Negra, Aceguá e Pedras Altas: o de construção de cisternas para famílias do interior dos municípios.

Promovido pelo Consórcio Público Intermunicipal de Desen­volvimento Econômico, Social e Ambiental da Bacia do Rio Jagua­rão (Cideja), através do presidente e prefeito de Candiota, Adriano dos Santos, o primeiro encontro virtual contou ainda com a participação da secretária do Cideja, Débora Cappua, do coordenador do Insti­tuto Cultural Padre Josimo (ICPJ), frei Sérgio Görgen, do prefeito de Herval, Rubem Dari Wilhelnsen, do prefeito de Piratini, Vitor Ivan Gonçalves Rodrigues (Vitão), da vereadora do MDB de Aceguá e secretária do Fórum das Águas, Liziane Jardim – representando o coordenador Edmundo Picler, e do deputado federal Dionilso Marcon (PT/RS).

Na oportunidade, foi co­memorado o fim de um projeto concluído no mês de junho. Foram construídas 283 cisternas, sendo 180 em Candiota (comunidades 20 de Agosto, Cerros, Che Guevara, João Antônio, Paraíso, Madrugada, Passo do Salso, Pátria Livre, Pitan­gueiras), de 51 em Hulha Negra (comunidades Santa Elmira, Con­quista da Fronteira, Capivara A, ca­pivara B, Banhado Grande, Tapete Verde, Nova Querência, Jaguarão, Palmeiras), 27 em Aceguá (comu­nidades Conquista do Jaguarão e Santa Vitória, e quilombos Vila da Lata e Tamanduá), e 25 em Pedras Altas (comunidades do Nascente, Cerro do Baú, Areal, Coxilha do Fogo e quilombo da Solidão), todas em pequenas propriedades rurais.

O projeto surgiu após frei Sérgio buscar exemplos no Nor­deste do país da tecnologia social de acesso à água em razão da dificuldade das famílias com a estiagem. “O objetivo geral dessa tecnologia social é proporcionar o acesso à água de qualidade e em quantidade suficiente para o con­sumo humano às famílias de baixa renda e residentes na zona rural. É uma alegria muito grande concluir esse projeto”, explicou o frei.

O prefeito de Candiota, Adriano dos Santos, lembrou da luta para que o projeto ocorresse e tantas famílias fossem beneficia­das. “Foi um desafio muito grande para o município, pois havia certa rejeição pelas cisternas na região devido a projetos que não deram certo. Mas foi uma conquista muito importante, era um recurso que estava perdido em Brasília – mais de R$ 1 milhão em repasse – e con­seguimos com o apoio do deputado Marcon, redirecionar e ajustar esse valor para investir nas cisternas”, expõe o prefeito, acrescentando que o projeto contemplou ainda uma contrapartida financeira no valor de R$ 2.199,22.

Adriano frisou ainda que o projeto deverá ter prosseguimento, com ampliações, porém a pan­demia deverá atrasar o processo. “Antes encontrávamos açudes secos, água parecendo ferrugem, muitas pessoas não tinham água de qualidade instalada e precisavam buscar na casa do vizinho, mas hoje a gente comemora, já temos muitas famílias com água de quali­dade e isso é graças à união de pes­soas sérias, instituições e empresas capacitadas”, destaca o gestor, ressaltando o objetivo de busca de recursos para a construção também, de cisternas de produção com mais capacidade de armazena­mento, pois “com a conclusão das 283 cisternas, a região demonstra a força que tem e a capacidade de execução de projetos.

Na ocasião, Liziane Jardim também ressaltou a importância do projeto para os municípios, princi­palmente para Aceguá. Em contato com o TP, o coordenador do Fó­rum das Águas, Edmundo Pikler disse considerar o projeto de uma profundidade social muito grande. “Todo ano, com a estiagem, as pes­soas começam a pedir água. Com a construção das cisternas vislum­bramos a armazenagem de água, mesmo que não seja suficiente para uma estiagem longa. Lamento que na minha cidade (Aceguá) o projeto não tenha sido maior, não tenhamos avançado ainda mais, pois fazemos parte da chamada Coxilha Seca – linha que passa ao longo do nosso município, onde a escassez de água muito grande. Há um trabalho no município quanto à construção de poços artesianos, mas a água não tem tanta qualidade em razão dos minerais. Por isso, vejo na cisterna a forma de vencer a dificuldade da água na cidade”, afirma Pikler, aproveitando a oportunidade para parabenizar frei Sérgio pela incansável busca de soluções para o projeto e o Cideja pelo trabalho, assim como todos os envolvidos, incluindo o secretário do Ministro do Desenvolvimento Social Osmar Terra na época de articulação, Caio Rocha, que tam­bém foi fundamental na conquista do recurso.

Uma segunda transmissão ao vivo contou também com a participação do jornalista do ICPJ Marcos Corbari, do presidente da Coptil de Hulha Negra, Emerson Capelesso, das articuladoras so­ciais Lara Rodrigues da Silveira e Marciane Fischer, da assistente administrativa Rosane Barcé e dos pedreiros responsáveis pela cons­trução das cisternas, José Ademir Machado e Sérgio Ferrareis.

Representando integrantes da cooperativa, Capelesso lembrou que todo ano as famílias sofriam muito com a falta de água, prin­cipalmente em comunidades mais distantes. Ele também falou sobre o problema enfrentado pelos pro­dutores para se chegar a uma boa qualidade do leite sem ter uma água de qualidade. “O armazenamento da água vai resolver o problema dos produtores, pois agora eles não precisarão mais buscar e tomar água de açude. Acho que todos es­tão de parabéns, temos que seguir lutando, pois a demanda por cis­ternas é ainda maior, ainda temos muitas pessoas que precisam de água de qualidade”, afirmou.

Além das cisternas, produtores receberam um filtro de barro Foto: Divulgação TP

Lara lembrou que o projeto foi concluído por meio de uma engrenagem e de uma equipe estruturada. Ela também lembrou dos cursos de formação realizados para as famílias e pedreiros, bem como das visitas comemorativas. “Reuníamos famílias onde estavam sendo construídas as cisternas e passávamos orientações sobre funcionamento do reservatório, reparos e conservação da água. As famílias também receberam um fil­tro de barro para armazenar a água dentro de casa. Foi um trabalho fantástico”, manifestou Lara.

Uma melhor qualidade de vida para a mulher também foi ressaltado. “Quando chegávamos na casa das famílias, geralmente tratávamos com as mulheres, que mais sofriam com a falta de água de qualidade. É a mãe que não tem água para dar ao filho, para fazer comida, lavar roupa. Foi um projeto muito em benefício das mulheres”, ressaltou Marciane.

Débora Cappua comple­mentou falando sobre a parte buro­crática do projeto. “Todo processo realizado era comprovado via Sig­-Cisterna. Acompanhamos desde a busca por recurso até a finalização das cisternas e é uma satisfação ver esse projeto concluído”, afirmou.

Já a assistente adminis­trativa Rosane Barcé lembrou do período de cadastro das famílias e prestação de contas. “Falar desse trabalho é importante. Foram momentos importantes e ficamos muito satisfeitos em participar dessa construção”, expôs.

PROJETO Trata-se de cister­nas construídas pelo sistema de placas, utilizadas para captação de água da chuva e mantendo capacidade de até 16 mil litros. O projeto contempla a construção da cisterna – que fica parcialmente enterrada ao lado da unidade ha­bitacional -, a instalação de calhas coletoras da água da chuva junto ao telhado, um sistema intermedi­ário de limpeza que garante que o primeiro volume de precipitação que limpa o telhado não se misture com a água potável, uma bomba manual de sucção desenvolvida pela própria equipe do ICPJ e um filtro de barro onde são aplicadas pastilhas de cloro para o tratamen­to final da água a ser consumida pela família.

Os pedreiros José Ademir Machado e Sérgio Ferrareis fala­ram do privilégio em fazer parte do projeto construindo as cister­nas. “Ver a felicidade das famílias que não iam mais precisar andar quilômetros para conseguir água é muito bom”, disse Ferrareis. “Chegamos ao final com sucesso, vimos nos olhos das pessoas o sofrimento por não ter água e depois o prazer de ter água após a chuva e de não ter que tomar água de açude”, expôs Ademir.

“Achei que nunca ia ter água boa”, diz produtora de Candiota

Reservatório permite o armazenamento da água para o período de grande estiagem Foto: Divulgação TP

A construção das cisternas transformou para melhor a vida de 283 famílias da região. A reportagem do Tribuna do Pampa conversou com a pro­dutora da comunidade Paraíso, do interior de Candiota, Marlene Pens, para saber de que forma o equipamento trouxe melhorias para a família.

Com 49 anos e residindo há 20 na localidade, dona Mar­lene, que ao lado do esposo tem a renda proveniente do campo através do plantio, relatou que antes da construção da cister­na, dependia de ajuda para ter água de qualidade para beber e preparar os alimentos. “Tinha só uma caixa pequena e quando terminava tinha que pedir água para os vizinhos até para beber. Tomar banho e lavar roupas era com água de açude, assim como para os animais”, conta.

A produtora passou o ve­rão 2020 – meses de janeiro e fevereiro – já com a cisterna. Questionada a relatar de que for­ma sua vida mudou após a cons­trução do reservatório, com uma voz que mostrava felicidade, ela diz não precisar mais andar pela comunidade atrás de água para consumo. “Achei que nunca ia ter água boa, de qualidade. Nesse verão nunca fiquei sem água. Pre­feitura sempre auxiliou também e estamos muito felizes. Esse é um projeto que deve continuar, ainda tem muita gente que precisa ter acesso a uma boa água”, finaliza.

Comentários do Facebook