
Tarde foi dividida por estações para orientação de produtores e estudantes presentes Foto: Emater/Especial TP
A propriedade da família Outeiro Câmara, localizada no assentamento Estância Velha, interior de Hulha Negra, serviu como exemplo para produtores e estudantes de agronomia, além de divulgação do Programa Gestão Sustentável da Agricultura Familiar, desenvolvido pela Emater. Na quinta-feira (7), aconteceu uma Tarde de Campo na propriedade, onde na abertura do evento, a família apresentou a sua trajetória de vida enquanto assentados da Reforma Agrária, desde a chegada ao município no início dos anos 2000 até os dias atuais.
Na oportunidade também contribuíram com informações o secretário de Agropecuária de Hulha Negra Luis Fernando Rehling Lima e o vice-prefeito Marco Igor Ballejo Canto, citando as ações realizadas pela municipalidade junto à família, especialmente nas atividades relacionadas à legalização da agroindústria.
A família Câmara contou como estruturou a propriedade, inicialmente com a atividade leiteira e, mais recentemente com a agroindustrialização de panificados e doces. Composta por Eliziane, Edson, Henrique, Hérica e Milena, a família apresenta uma característica marcante da agricultura familiar com atividades diversificadas, dividindo o tempo entre a bovinocultura leiteira, a produção de trigo, frutas e hortaliças, visando o incremento da parte de doces e conservas em sua agroindústria Cozinha da Tia Zane.
Com quatro temas principais, a tarde de campo foi iniciada com a estação Agroindústria, conduzida pela extensionista social da Emater de Hulha Negra Cármen Cáceres Leite e apoio da equipe de Engenharia e Arquitetura da Prefeitura de Hulha Negra, composta pelos engenheiros José Maiquel Duarte e Carina Leitzke, além da arquiteta Raíssa Quadros, abordando o Programa Estadual de Agroindústria do Rio Grande do Sul e das necessidades estruturais que configuram as instalações de uma agroindústria.

Autoridades municipais acompanharam família Outeiro Câmara na apresentação da agroindústria Foto: Emater/Especial TP
Na segunda estação, Saneamento Ambiental da Propriedade e Ações para a Qualidade da Água, o professor Gabriel Bruno do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul) Campus Bagé e Marciane Fischer, do Instituto Padre Josimo, juntamente com a extensionista social Jocasta Pedroso da Emater de Hulha Negra, demonstraram como foi estruturado o sistema de tratamento dos efluentes, explicando a técnica de fertirrigação utilizada para escoamento e absorção dos resíduos pelas plantas recuperadoras, além do trabalho de proteção realizado na fonte de água da propriedade.
A terceira estação abordando Políticas Públicas foi conduzida pelo extensionista rural da Emater de Hulha Negra Guilherme Zorzi e o médico veterinário fiscal do Sistema de Inspeção Municipal (SIM) de Hulha Negra Marcus Leitzke, com a colaboração de Henrique Outeiro, demonstrando a aplicação das diversas políticas públicas que a família acessou para desenvolver suas atividades, entre elas as Políticas de Abastecimento Institucional – Programa Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Programa Estadual de Agroindústria Familiar (PEAF), além dos programas de acesso ao crédito em níveis estadual e federal como Feaper e Pronaf, destacando também as políticas públicas criadas a nível municipal, como o Programa Municipal de Agroindústria que possui um fundo com recursos aportados pela Prefeitura para o fomento das agroindústrias locais, além do Programa Municipal de Florestamento e o Programa de Melhoramento Genético.
A quarta estação abordou o Programa Gestão Sustentável da Agricultura Familiar sendo conduzida pelo Médico Veterinário Alexandre Primo Alves, do Escritório Regional da Emater de Bagé e pelo extensionista rural da Emater de Hulha Negra Alex Sandro Dutra de Oliveira com apoio do técnico Vinícius Andina, do Departamento Fiscal da Prefeitura de Hulha Negra. Foi apresentado o Programa de Gestão a níveis estadual e local, o trabalho realizado na propriedade da família Câmara, elencando os avanços expressivos a nível de renda e valor adicionado da propriedade nos últimos quatro anos, citando também as ações de aspecto ambiental e social.
Vinícius demonstrou como a inserção da agroindústria provocou aumento de renda para a família e os impactos na economia do município marcados pelo início da atividade das agroindústrias legalizadas, além de informar sobre as questões fiscais relacionadas ao bloco de produtor rural e nota fiscal eletrônica, que será exigência para todos os agricultores a partir de 1º de janeiro de 2021.
Prestigiando o evento, os agentes financeiros Sicredi e Banrisul de Hulha Negra além do Banco do Brasil – agência Bagé, oportunizaram aos presentes acesso às informações relativas ao crédito rural. O público superior a 70 pessoas foi composto por agricultores de Hulha Negra, Bagé e Dom Pedrito, contando também com a presença do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bagé Nelson Wild e da primeira turma de Agronomia do Campus Bagé do IFSul.
GESTÃO SUSTENTÁVEL – O programa desenvolvido pela Emater em Hulha Negra segue uma legislação e um trabalho continuado em todos os municípios com sede da Emater no estado. Em Hulha, segundo Zorzi, são 36 famílias instruídas e a ideia é fazer um acompanhamento das propriedades. “É realizado um diagnóstico para se ter uma visão de todos os aspectos, não só da produção. Temos produtores de leite, grãos, orelícolas e as agroindústrias. É uma das metas do programa estar dentro das propriedades que representem o sistema de produção do município. Tentamos traçar com a família um planejamento de atividades e ações que atentem também para as áreas social e ambiental”, explica.
O extensionista disse ainda, que através de visitas frequentes é possível passar ao governo indicadores de receitas e despesas, custos específicos. “Isso ajuda a saber como está a margem de lucro, depreciação de benfeitorias (desvalorização de bens imóveis, maquinários ou equipamentos) e capacidade de investimentos. É um programa com resultados interessantes e facilitador de acessos”, conclui Guilherme Zorzi.

Área e projeto do novo prédio também foi apresentado durante o evento Foto: Emater/Especial TP
A AGROINDÚSTRIA – A Cozinha da Tia Zane foi inaugurada em 2016 e surgiu a partir de uma pequena feira que a Eliziane Outeiro (a Tia Zane) e o filho Henrique faziam na cidade, vendendo hortaliças e junto com isso as cucas. Conforme contou Henrique ao TP, a cada semana os pedidos aumentavam e chegou a tal ponto que foi necessária a legalização, em 2016, e a construção do primeiro prédio modesto, veio o fornecimento para o PAA e o PNAE, merenda escolar, Exército Brasileiro e outros estabelecimentos comerciais. Hoje a agroindústria atende quatro municípios da região – Hulha Negra, Candiota, Bagé e Aceguá – e se prepara para a construção de um novo prédio, mais amplo, e que comporte a demanda de produção que aumenta a cada dia.
Segundo a família, receber todos na propriedade foi uma alegria. “Compartilhar os desafios, sonhos e projetos com todos nos deixa ainda mais motivados. Foi um momento único, e esperamos que tenha contribuído de alguma forma para os presentes. Seja como informação, seja como motivação!”, expôs Henrique.