INCLUSÃO

“É muito triste ver crianças e adultos com preconceito”, diz mãe de autista candiotense

Luciana Elicker (D), junto ao filho Gabriel e a professora de AEE Elenara Gonçalves Foto: Divulgação TP

Durante a roda de conversa sobre autismo realizada na escola Dario Lassance, um dos depoimentos foi de Luciane da Silva Elicker, mãe do Gabriel Elicker Ribas, de 12 anos, autista e estudante do 7º ano do educandário.

Ela relatou a todos os presentes sua história com o filho e destacou a importância do acolhimento e compreensão. Em razão do dia 18 de junho ser o Dia Mundial do Orgulho Autista, o Tribuna do Pampa destacou uma história que serve como exemplo de superação, mas principalmente de amor incondicional.

Cabe lembrar que a data foi celebrada inicialmente em 2005, pela organização americana Aspies for Freedom. No Brasil, especificamente em Brasília, um grupo de pais, familiares e amigos de pessoas com autismo aderiu ao movimento, e desde então a data tem se tornado mais popular no país a cada ano. O objetivo é mudar a visão negativa quanto ao autismo, passando de “doença” para “diferença”.
DIAGNÓSTICO – Luciane Elicker relatou que Gabriel foi diagnosticado inicialmente na época da escolinha com hiperatividade até chegar a escola Dario Lassance, sempre sendo tratado como uma criança hiperativa.

A mãe, por outro lado, disse ter começado a observar algumas características no filho. “Quando vi uma matéria no Fantástico, percebi que alguns sintomas e reações tinham a ver com situações apresentadas pelo Gabriel, mas levava ele no Centro de Reabilitação e Apoio, o CRA, e não tinha esse diagnóstico, assim como também no neurologista. Foi então que comecei a gravar vídeos do Gabriel em casa e levei ele no médico, relatando as características do autismo que se relacionavam com algumas apresentadas pelo meu filho que era agitado, chorava muito, não tinha hora para dormir, sempre sentava no chão e fazia movimentos repetitivos”, relatou.

Luciana, que é mãe e pai de Gabriel e do menino Bernardo de 8 anos, falou ao TP sobre a confirmação que se tratava de TEA. “Acabei trocando de médico, que solicitou exames e veio o diagnóstico do autismo. No momento fiquei chocada, pensando em como iria proceder. Na ocasião, o médico passou medicação para o Gabriel ter um comportamento melhor e chegaram os acompanhamentos com psicólogo e psicopedagogo”.

Gabriel recebe muito apoio e auxílio na escola Foto: Divulgação TP

PIOR MOMENTO – A mãe de Gabriel falou das dificuldades enfrentadas com o filho. “Na teoria é uma coisa, na prática outra. As professoras reclamavam que ele não parava na sala de aula, que andava pelos corredores, que não interagia com os colegas. Mas a médica atual dele me passou um laudo para levar a escola dizendo ser obrigatório auxiliar e ter um profissional para trabalhar diretamente com o Gabriel”.

Luciana destaca, porém, a depressão do filho durante a pandemia de Covid-19. “Foi a pior fase, o Gabriel entrou em depressão, ficou um ano sem ir a escola, não consegui fazer com que ele acompanhasse as aulas online.  Ele chegou a manifestar que era um estorvo na minha vida e que queria morrer. Foi o pior momento da minha vida, pedi para sair do emprego para cuidar do meu filho, pois não tinha tempo”, expôs.
Ela ainda contou que precisou praticamente frequentar a escola para o filho voltar a estudar e agradeceu a professora Cassiane pelo apoio, assim como os colegas e a escola como um todo pelo ótimo acolhimento. “Ele só ia para a escola se eu ficasse na frente e ele me enxergando na janela, pois antes ele vomitava, desmaiava, chorava e gritava, tinha crises fortíssimas. Durante três meses fiquei na frente da escola, às vezes ele entrava às 13h, outras às 14h, até a turma se acomodar e ficar calma para ele também ficar. Foi tudo com muito carinho da turma”, relatou.
NOVA FASE – Luciana contou que após a chegada da professora Elenara Gonçalves as coisas começaram a melhorar e a fase ruim faz parte do passado. “Hoje ele é uma criança que interage, conversa com todo mundo, não gosta de ser tocado, se ele gosta, gosta, se não gosta não adianta insistir. Gosta de sair, dançar, estar na minha volta e do irmão dele. É uma criança muito inteligente, com muitos elogios na escola e quando tem dificuldade converso e tudo é compreendido. Falo que é muito importante os colegas e amigos terem empatia. Preconceito é a pior coisa que tem, ele chegava em casa chorando e questionava porque era diferente. Tivemos períodos complicados, em que professores chamavam ele de louco e até sofreu preconceito e agressão física na escola, estas últimas situações que nem os professores sabiam, mas hoje está tudo bem, estou sempre por perto na escola e tudo que eu falo para o Gabriel ele segue”.
Por fim, Luciana, mãe do Gabriel que sonha em ser policial para proteger as mulheres, deixa um recado. “É muito triste as crianças e adultos terem preconceito”.
* ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO

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