EDUCAÇÃO

Gestores da região são contrários a retomada das aulas presenciais em setembro

Secretários dizem que municípios estão na lista dos 94% dos prefeitos do Estado que são contrários ao calendário de retorno das aulas proposto pelo Estado

Em Hulha Negra, alunos da rede pública municipal estão recebendo polígrafos com conteúdos escolares Foto: Divulgação TP

A sugestão inicial apresentada pelo Estado para a retomada das aulas presenciais de forma gradual a partir do próximo dia 31 de agosto gerou uma série de discussões a respeito do tema. Posições contrárias e a favor da retomada das aulas foram presenciadas principalmente pelas redes sociais.

O Estado propôs o retorno para as regiões que estiverem em bandeira amarela (risco baixo) e laranja (risco médio), sendo o primeiro nível a voltar o de Ensino Infantil, seguido pelo Ensino Superior em 14 de setembro; o Médio e Técnico, em 21 de setembro; os anos finais do Ensino Fundamental, em 28 de setembro; e os anos iniciais, em 8 de outubro.

Na ocasião, o governador Eduardo Leite justificou sobre a retomada proposta. “A retomada iniciaria pela Educação Infantil justamente porque, nessa rede, o cumprimento de dias letivos não é obrigatório. O envio dos alunos pelos pais, portanto, não seria compulsório. Nos Ensinos Fundamental e Médio, os alunos estão estudando por meio remoto, porque as crianças já têm autonomia para acessar as aulas. O mesmo não ocorre na Educação Infantil, no qual crianças de zero a cinco anos têm pouca condição de terem estímulos e de se manterem atentas por meio remoto”, detalhou o governador.

As manifestações contrárias da população que resultaram em posicionamentos contrários da grande maioria dos gestores municipais ficou enfatizada após uma pesquisa feita com os 442 prefeitos que compõem a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs). O estudo apontou 418 prefeitos, que representam 94% das respostas, declararam não concordar com a retomada das aulas presenciais dia 31 de agosto, iniciando pela Educação Infantil.

A pesquisa também apontou que, para 38% dos gestores, o retorno das aulas deve ocorrer apenas a partir da vacina para imunização da Covid-19. Outros 33% acreditam que as aulas só devam voltar com a diminuição de casos de coronavírus e 25% somente a partir de 2021. A maioria dos prefeitos gaúchos também discorda que o retorno deva ser feito pela Educação Infantil. O levantamento aponta que 57% dos prefeitos entendem que o retorno deva iniciar pelo Ensino Superior; 16% pelo Ensino Médio e Técnico; 15% pelos anos finais do Ensino Fundamental; e 3% pelos anos iniciais. Apenas 6% concordam que o retorno das aulas comece pelos alunos de 0 a 5 anos. Os gestores também defendem que a educação pública e a privada devam voltar ao mesmo tempo (86%).

Como justificativa para a rejeição da proposta, os prefeitos elencaram como principais problemas para o retorno das aulas o risco de contaminação de alunos e servidores públicos (92%); o cumprimento dos protocolos de saúde no transporte escolar (53%); falta de professores e a impossibilidade de contratar servidores devido ao período eleitoral (44%); falta de equipamentos de proteção individual, os EPIs (32%); e elevado número de casos de Covid-19 no município (29%).

Na quarta-feira (19) ocorreu um novo debate entre a Famurs e os presidentes das associações regionais com o governo do Estado, Ministério Público (MP) e Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS). Na ocasião, foi manifestada a posição contrária da Famurs, deliberada em Assembleia Geral na última terça-feira (18). “A posição da entidade, neste momento, é de inviabilidade. Nós temos uma preocupação com o risco que alunos e professores irão correr, não há notícias de diminuição de casos para as próximas semanas e há inúmeras questões práticas que preocupam os gestores, como transporte escolar e contratações”, justificou o presidente da Famurs e prefeito de Taquari, Maneco Hassen.

A Famurs também propôs que o diálogo seja retomado quando os números de casos de covid-19 diminuam de forma consistente, porém de acordo com a secretária de Saúde do Estado, Arita Bergmann, não há uma previsão para queda dos casos. “Não há uma resposta objetiva, uma data ou dia em que teremos segurança cem por cento, de que terminou a epidemia. Temos muitas dúvidas ainda, mas estamos monitorando”, declarou.

As propostas apresentadas pela Famurs estavam marcadas para entrar em discussão nesta quinta-feira (20) em reunião com a equipe do governo e com as secretarias de Articulação e Apoio aos Municípios, de Educação, de Saúde e de Justiça e Cidadania. O debate com a Famurs será retomado na próxima terça-feira (25).

Luani Roger, moradora de Hulha Negra, e mãe de Maria Eduarda, estudante do 9º ano da escola estadual Dalva Conceição Medeiros, disse ao TP ser contra o retorno das aulas apesar de possui apenas o celular para ter acesso a plataforma Classrrom para realização das atividades. “Sou contra a volta as aulas sem vacina, pois a Maria Eduarda encontra-se hoje em área de risco na área de saúde, ela tem Bronquite asmática e baixa imunidade. Assim como ela, tem muitas crianças que tem o mesmo problema e acredito que não tenham ainda maturidade para entender a real situação que estamos vivendo no Brasil. Verificando as pesquisas, apostam que o Rio Grande do Sul terá uma quantidade dos casos, e as crianças não terão os cuidados necessários particulares em ambiente escolar. Em casa ainda há nossa vigilância e na escola são muitos alunos para tomar conta e uma hora ou outra estarão expostos ao vírus”, manifestou.

Maria Eduarda (foto) estuda em casa utilizando o celular. Ela sofre de bronquite asmática e baixa imunidade Foto: Divulgação TP

Secretários de Educação se posicionam sobre o
tema e afirmam continuar com aulas remotas

Com base na pesquisa feita pela Famurs, a reportagem do Tribuna do Pampa contatou com os secretários de Educação de Candiota, Hulha negra, Pedras Altas e Pinheiro Machado. Na oportunidade, os gestores manifestaram o posicionamento dos prefeitos e, portanto, dos municípios quanto à pauta.

CANDIOTA – No município, o secretário de Educação, Valmir Cougo disse terem sido retomadas as entregas de materiais aos alunos e plantões nas escolas pelo fato do município não concordar com o calendário proposto pelo Estado. Ele explicou que o envio do conteúdo impresso somente foi interrompido no período em que a região apresentava índices mais elevados, mas que ainda assim, somente uma parcela de alunos não teve acesso aos materiais. “Para nós, o calendário não oferece nenhum atrativo, do ponto de vista que não temos nenhuma garantia, nenhuma certeza. Estamos constantemente conversando com a comunidade escolar, professores e conselhos de educação e não concordamos com o retorno, o prefeito Adriano dos Santos tem sido categórico de que primeiro precisamos nos preocupar com a vida. Por isso, não temos nenhuma aspiração de começar as aulas apesar de estarmos preparados com plano de contingência e equipamentos de proteção e higiene necessários para as escolas”, destacou.

HULHA NEGRA – Na cidade, após uma paralisação de envio de material por duas semanas ocorrida através de uma orientação do COE, a entrega foi retomada seguindo novos protocolos de higiene e cuidados de saúde.

Junto aos materiais impressos, os alunos estão recebendo um questionário com perguntas sobre uma possível retomada das aulas em setembro, meios digitais que podem ser utilizados pelos alunos e ferramentas de informações mais acessíveis. Ao TP, a secretária de Educação Adriana Delabary explicou que a pesquisa serve para planejar as próximas ações da área no município. “Fiz essa pesquisa para enviar aos alunos antes da divulgação por parte do Estado de vontade de retomada. O objetivo foi levantar dados e fazer projeções apesar do município não estar em conformidade com o entendimento feito pelo Estado. Não concordamos com a retomada das aulas, muito menos pela Educação Infantil, mas o governo abriu para que os gestores resolvam o que for mais viável para o município”, manifestou.

PEDRAS ALTAS – A secretária de Educação de Pedras Altas, Cilene Tardiz, disse que o município, assim como a grande maioria dos municípios da Zona Sul, é totalmente contra o retorno das aulas presenciais. “Vivemos um momento de crescimento do vírus da Covid-19 em toda metade Sul, por isso acreditamos que não é o momento correto para retornar as atividades escolares presenciais. Acreditamos e defendemos a importância de uma educação pública e gratuita de qualidade, mas nesse momento devemos pensar prioritariamente na saúde e na segurança dos alunos, pais, professores e servidores”, expôs.

O município continua com a entrega e apostilas na residência dos alunos mantendo o protocolo municipal. A gestora também contou que juntamente com as apostilas são ofertadas vídeoaulas para esclarecimento de dúvidas. “Os vídeos são feitos pelos próprios professores. Eles servem para esclarecer sobre os materiais, em especial para os alunos do 9° ano que terão uma etapa diferente no futuro. Esses alunos estarão ingressando no Ensino Médio em 2021”, explicou Cilene, acrescentando sobre o desafio previsto para 2021. “Nosso grande desafio é de realizar um calendário que possa contemplar aulas presenciais que não foram dadas em 2020 e também a retomada das atividades ofertadas em meio físico a todos os alunos da nossa rede municipal. Estamos conscientes que tudo isso só será possível através do surgimento da vacina, porém estamos esperançosos e confiantes que ela vai ser fabricada o mais rápido possível”.

PINHEIRO MACHADO – Jackson Cabral, secretário de Educação e vice-prefeito de Pinheiro Machado disse que o retorno inicialmente proposto é impossível. “Não tem como voltar quando os casos estão aparecendo dia a dia. Achamos um equívoco do Estado. Não temos previsão de retorno, nós vamos retomar somente com total segurança de saúde para alunos, professores e funcionários”, afirmou o gestor.

Quanto às aulas, o secretário disse que continuam no mesmo ritmo, alunos que não possuem acesso a internet, recebem o conteúdo impresso. “Estamos atingindo 100% dos alunos e até o mês de julho obtivemos retorno de 83% dos alunos, um índice bem positivo e bastante satisfatório. Nossas atividades seguem, os materiais enviados pelos alunos avaliados  e aguardando o desfecho dessa pandemia em parceria com o Conselho Municipal de Educação, sendo tudo registrado e regulamentado”, explica Cabral.

 

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