Mais esperto que o diabo

Faz algum tempo que escrevi aqui que nem com apoio de Lula o candidato do governo à eleição na Argentina ganharia. De vez em quando eu erro, mas seguidamente acerto nas minhas avaliações. A Argentina vinha fazendo um pêndulo, à esquerda, a direita e depois à esquerda. Acontece que o atual governo não entregou o que prometeu e naturalmente o país voltaria para um governo de direita.

De repente, não mais que de repente, surgiu um candidato de extrema direita, um sujeito aparentemente destrambelhado, com um discurso algo ridículo, fantasioso e destruidor de tudo que está instituído faz tempo e caiu nas graças da maioria do povo. É um discurso que se repete, mas o povo continua o mesmo povo, que continua fazendo os mesmos erros e acertos. Assim, quem é mais velho já viu Jânio Quadros, Collor de Mello, Bolsonaro, Trump e mais recentemente Milei. Se alguns dizem que Bolsonaro é um sociopata, este Milei está mais na cara que é. O sujeito tem uma imagem deprimente, na maioria das vezes em que é fotografado. Mas é do time dos diferenciados.

Vou classificar de diferenciados neste texto os que são “mais espertos que o diabo”. Como Trump e Bolsonaro, Milei faz pose de que não é político e é contra tudo que existe no sistema político que segundo ele está tudo errado. Milei é deputado federal desde 2021. Não dá para comparar com Bolsonaro que era deputado há quase três décadas. Mas ambos se apresentaram contra a classe política, como Trump, que dizia não ser político, mas assumiu o controle do Partido Republicano antes de ser presidente.

Se para estes o sistema político é o diabo, eles sem dúvida conseguiram por algum tempo serem mais expertos que o diabo. Por algum tempo.

O problema é que uma vez eleitos, a primeira coisa a fazer é se abraçar com o diabo. No Brasil Bolsonaro acabou se associando ao Centrão de todos os corruptos que ele fazia de conta que não aceitaria como parceiros, como sempre aceitou antes de ser eleito presidente. Na Argentina Milei já está de amplos afagos com Macri e outros da direita que perderam para ele no primeiro turno.

Tudo normal.

Milei deve fazer o mesmo caminho de Bolsonaro e Trump. Resta saber se quem está no governo no Brasil e nos Estados Unidos serão suficientemente competentes para evitarem a volta dos delírios da estupidez tão característicos daqueles que se mostram da extrema direita, que não são muito diferentes dos que estão na extrema esquerda. Lula quando assumiu a primeira vez já era um político de centro-esquerda. E só um pouco à esquerda.

Nos últimos doze meses morei mais de cinco em Buenos Aires. O argentino não dá o devido valor a empresa petroleira estatal que oferece combustíveis a baixos preços.

Milei quer acabar com o Banco Central da Argentina. Isso parece pior que o Banco Central independente como temos hoje no Brasil. No mais, a economia da Argentina já é informalmente muito dolarizada. Mas há muito mais loucos no mundo do que conseguimos imaginar.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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