PERFIL

Médico pinheirense se dedica há 40 anos à comunidade

Formado na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Ruy Celso seguiu os passos do pai

Ruy Celso Pereira Ratto é médico, apaixonado por cães e muito querido pelos pinheirenses Foto: Divulgação TP

Um cachorro de ócu­los escuros, boné e camiseta do Sport Club Internacional. Essa é a foto do perfil nas redes sociais de um dos mé­dicos mais respeitados de Pinheiro Machado. Os registros com amigos e muitos exemplos da gastronomia mostram seu lado extremamente sociável e apaixonado pela culinária. Considera a maçonaria a sua segunda medicina. As publicações no Facebook revelam um cara cheio de personalidade, inteligência e bom humor. Disse que só não externa opiniões políti­cas e acredita que a receita para manter um ambiente saudável na internet é o respeito.

Enquanto isso, o feedback da população mostra exatamente o que ele representa: um amigo, um ídolo e até quem sabe um anjo, no sentido mais puro e sincero da palavra. Para responder a reporta­gem, que fez contato com o médico pelas redes sociais, Ruy Celso Pereira Ratto, o Meco, usou alguns dos tradicionais instrumentos de trabalho: o papel e a caneta. Não receitou nada, mas aceitou expor algumas de suas opiniões e dividir um pouco da sua história com nossos leitores. Para todos, temos certeza que boas lições.

HISTÓRIA – Nascido na então Cacimbinhas em 11 de junho de 1949, filho de Nilda Pereira Ratto e Ruy da Cunha Ratto, irmão da Maria da Graça, Maria de Fátima, Rosa Lucia e Leo­nor, Ruy Celso é o primo­gênito da família. Seu parto contou com a ajuda do pai, que era médico e faleceu quando ele ingressou na faculdade. O jovem seguiu a carreira do patriarca e no ano de 1978 concluiu a gra­duação no curso de medici­na na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), cidade onde passaram a residir assim que perderam o pai. No ano seguinte retorna­ram para a terra natal, onde começou a trabalhar no recém-inaugurado Posto de Saúde de Torrinhas e fez do consultório do pai o seu.

Sobre o apelido, a reportagem compartilha a explicação escrita pelo próprio Meco Foto: Divulgação TP

MEDICINA Solicitado a fazer um comparativo entre a medicina daquela época com a dos tempos atuais, segundo ele, agora trata-se de uma atuação muito espe­cializada. “Fazer medicina era muito difícil: não havia ultrassom, tomografia, o raio X era precário e faziam poucos exames de labora­tório. Era uma medicina mais na intuição, que agora não existe mais. Meu pai era muito melhor médico do que eu 50 anos atrás. Tratava desde unha encra­vada até ameaça de aborto, fazia partos em condições precárias e todos os tipos de pequenas cirurgias”, detalhou.

Conforme lem­brou, hoje em dia prati­camente não existem os clínicos gerais e os médicos estão constantemente em busca da especialização. “A medicina antiga era mais romântica e acho que mais humana. Ingressar no curso de medicina também ficou mais difícil. Têm-se que fazer um ótimo segundo grau, curso pré-vestibular de qualidade e dificilmente se vê um médico negro, não por ser negro, mas por ser pobre. A medicina ficou muito elitizada e por isso menos humana”, avalia.

Ruy Celso também opinou sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), o qual considera o melhor de todo o mundo. “Só que há muita verba mal ad­ministrada, desvios, má canalização de recursos. Seria preciso reeducar go­vernantes, médicos, profis­sionais da área e usuários a utilizarem esses recursos de forma mais racional”.

CORONAVÍRUS Sobre a pandemia do novo corona­vírus, o médico pinheirense a considera somente menos grave que a da gripe espa­nhola – que começou em 1918 e deixou um saldo de, no mínimo, 50 milhões de mortos pelo mundo. “Ela, a Covid-19, era inevitável, mas ninguém estava prepa­rado para enfrenta-la. Acho que há muitas verdades escondidas no mundo sobre a pandemia e quem mentir menos será herói na pós­-pandemia”, disse. Além disso, há ainda outros pro­blemas que impactam de forma complexa a vida dos brasileiros da atualidade em meio a uma das maiores crises sanitárias de todos os tempos. “Existe uma crise ideológica e uma crise institucional muito grave, isso é lamentável. As mortes são reais, lamentáveis, mas isso de certo modo também era previsível. O mundo tinha medo de uma guerra atômica e estamos vivendo uma guerra biológica”.

Para Meco, o mu­nicípio de Pinheiro Ma­chado também está diante de uma crise econômica por consequências que vão além da pandemia do coro­navírus, mas que acabou se agravando ainda mais em função dela. “Em termos de pandemia, a Saúde tem pes­soas capazes, competentes e, acima de tudo, humanas no sentido amplo da pala­vra. Faz o que pode e o que não pode dentro das suas limitações. Essas meninas e meninos que trabalham aqui não são funcionários, são anjos”, registra.

Ruy Celso, a medicina e os cães estão juntos ao longo da vida Foto: Divulgação TP

AMOR PELOS CÃES A relação de carinho e respei­to mútuo entre Ruy Celso e os animais é incomparável e admirável. “É por amor. Eu sempre fui apaixonado por cães. Vivia com eles, dormia na rua com eles, almoçava e jantava com eles. Nisso não mudei nada desde o meu primeiro cão. Quando fiz 18 anos meu pai queria me dar um fusca, troquei por um cachorro”, confessou.

Além dessa parce­ria diária – na sala da sua casa, no banco da praça e algumas vezes até no con­sultório, o médico também convive com a sobrinha que é uma das voluntárias e idealizadoras do Grupo de Proteção Animal Unidos Para Amar (GPA UPA). Segundo contou, ela é ain­da mais apaixonada pelos animais que ele. Para tentar mudar a triste realidade dos animais errantes do município, atualmente são 24 cães sob a tutela de Meco. O número é bem grande e o amor também.

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