Um cachorro de óculos escuros, boné e camiseta do Sport Club Internacional. Essa é a foto do perfil nas redes sociais de um dos médicos mais respeitados de Pinheiro Machado. Os registros com amigos e muitos exemplos da gastronomia mostram seu lado extremamente sociável e apaixonado pela culinária. Considera a maçonaria a sua segunda medicina. As publicações no Facebook revelam um cara cheio de personalidade, inteligência e bom humor. Disse que só não externa opiniões políticas e acredita que a receita para manter um ambiente saudável na internet é o respeito.
Enquanto isso, o feedback da população mostra exatamente o que ele representa: um amigo, um ídolo e até quem sabe um anjo, no sentido mais puro e sincero da palavra. Para responder a reportagem, que fez contato com o médico pelas redes sociais, Ruy Celso Pereira Ratto, o Meco, usou alguns dos tradicionais instrumentos de trabalho: o papel e a caneta. Não receitou nada, mas aceitou expor algumas de suas opiniões e dividir um pouco da sua história com nossos leitores. Para todos, temos certeza que boas lições.
HISTÓRIA – Nascido na então Cacimbinhas em 11 de junho de 1949, filho de Nilda Pereira Ratto e Ruy da Cunha Ratto, irmão da Maria da Graça, Maria de Fátima, Rosa Lucia e Leonor, Ruy Celso é o primogênito da família. Seu parto contou com a ajuda do pai, que era médico e faleceu quando ele ingressou na faculdade. O jovem seguiu a carreira do patriarca e no ano de 1978 concluiu a graduação no curso de medicina na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), cidade onde passaram a residir assim que perderam o pai. No ano seguinte retornaram para a terra natal, onde começou a trabalhar no recém-inaugurado Posto de Saúde de Torrinhas e fez do consultório do pai o seu.
MEDICINA – Solicitado a fazer um comparativo entre a medicina daquela época com a dos tempos atuais, segundo ele, agora trata-se de uma atuação muito especializada. “Fazer medicina era muito difícil: não havia ultrassom, tomografia, o raio X era precário e faziam poucos exames de laboratório. Era uma medicina mais na intuição, que agora não existe mais. Meu pai era muito melhor médico do que eu 50 anos atrás. Tratava desde unha encravada até ameaça de aborto, fazia partos em condições precárias e todos os tipos de pequenas cirurgias”, detalhou.
Conforme lembrou, hoje em dia praticamente não existem os clínicos gerais e os médicos estão constantemente em busca da especialização. “A medicina antiga era mais romântica e acho que mais humana. Ingressar no curso de medicina também ficou mais difícil. Têm-se que fazer um ótimo segundo grau, curso pré-vestibular de qualidade e dificilmente se vê um médico negro, não por ser negro, mas por ser pobre. A medicina ficou muito elitizada e por isso menos humana”, avalia.
Ruy Celso também opinou sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), o qual considera o melhor de todo o mundo. “Só que há muita verba mal administrada, desvios, má canalização de recursos. Seria preciso reeducar governantes, médicos, profissionais da área e usuários a utilizarem esses recursos de forma mais racional”.
CORONAVÍRUS – Sobre a pandemia do novo coronavírus, o médico pinheirense a considera somente menos grave que a da gripe espanhola – que começou em 1918 e deixou um saldo de, no mínimo, 50 milhões de mortos pelo mundo. “Ela, a Covid-19, era inevitável, mas ninguém estava preparado para enfrenta-la. Acho que há muitas verdades escondidas no mundo sobre a pandemia e quem mentir menos será herói na pós-pandemia”, disse. Além disso, há ainda outros problemas que impactam de forma complexa a vida dos brasileiros da atualidade em meio a uma das maiores crises sanitárias de todos os tempos. “Existe uma crise ideológica e uma crise institucional muito grave, isso é lamentável. As mortes são reais, lamentáveis, mas isso de certo modo também era previsível. O mundo tinha medo de uma guerra atômica e estamos vivendo uma guerra biológica”.
Para Meco, o município de Pinheiro Machado também está diante de uma crise econômica por consequências que vão além da pandemia do coronavírus, mas que acabou se agravando ainda mais em função dela. “Em termos de pandemia, a Saúde tem pessoas capazes, competentes e, acima de tudo, humanas no sentido amplo da palavra. Faz o que pode e o que não pode dentro das suas limitações. Essas meninas e meninos que trabalham aqui não são funcionários, são anjos”, registra.
AMOR PELOS CÃES – A relação de carinho e respeito mútuo entre Ruy Celso e os animais é incomparável e admirável. “É por amor. Eu sempre fui apaixonado por cães. Vivia com eles, dormia na rua com eles, almoçava e jantava com eles. Nisso não mudei nada desde o meu primeiro cão. Quando fiz 18 anos meu pai queria me dar um fusca, troquei por um cachorro”, confessou.
Além dessa parceria diária – na sala da sua casa, no banco da praça e algumas vezes até no consultório, o médico também convive com a sobrinha que é uma das voluntárias e idealizadoras do Grupo de Proteção Animal Unidos Para Amar (GPA UPA). Segundo contou, ela é ainda mais apaixonada pelos animais que ele. Para tentar mudar a triste realidade dos animais errantes do município, atualmente são 24 cães sob a tutela de Meco. O número é bem grande e o amor também.