POUCA CHUVA

Municípios da região sofrem com segunda estiagem em 2020

Alguns municípios da região já estão abastecendo a zona rural com caminhões-pipas

*Anderson Ribeiro

Na lavoura de trigo, solo está seco e já apresenta rachaduras Foto: Guilherme Zorzi/Emater/Especial TP

Sem volumes consideráveis de chuva no Rio Grande do Sul, nos últimos meses, diversas cidades já estão sofrendo com a estiagem. A região busca medidas para reduzir as perdas em lavouras e pastagens. Além disso, alguns municípios já estão abastecendo áreas rurais com água potável. Com impactos na economia de inúmeras cidades gaúchas, a falta de chuvas não traz apenas aborrecimentos para quem precisa da água, mas também afeta economicamente as cidades com as perdas na produção agropecuária.

Em alguns municípios, na zona rural a situação também é complicada. Os produtores já estão passando dificuldades, pois os cam­pos estão secos e os animais já não têm o que comer e pouca água para beber. A MetSul Meteorologia adverte que o Sul do Brasil passará por mais uma estiagem que pode ser, em alguns locais, mais seve­ra do que a de 2019/2020, porque não houve recomposição hídrica suficiente. Com isso, pode ocorrer perda de produtividade, inclusive com quebra de safra em diferentes localidades, escassez de água para consumo humano e animal com ra­cionamento em alguns municípios, baixa acentuada de níveis de rios e outros mananciais como barragens e açudes, além de risco de fogo em vegetação.

BAGÉ E DOM PEDRITO Esta­mos passando por um período de forte estiagem na região. Conforme o engenheiro agrônomo da Secre­taria de Desenvolvimento Rural (SDR) de Bagé, Emerson Menezes, a equipe está buscando alternativas para aliviar a seca na zona rural de Bagé. “Está sendo realizada uma ação de transporte de água potável para os moradores da região da Co­xilha do Haedo, que se encontram sem água para o consumo. No que se refere a armazenagem de água, a partir de janeiro, a Patrulha Agrí­cola estará atendendo os pequenos produtores com a construção e re­forma de açudes”.

O produtor que quiser solicitar os serviços da Patrulha Agrícola ou pedir mais informa­ções, pode ir até a avenida Santa Tecla, 2780 ou pelo telefone (53) 3242 1798. “A orientação técnica para os produtores que cultivam lavouras de verão é de plantarem dentro do calendário agrícola da re­gião, objetivando minimizar possí­veis perdas. Os grandes produtores de arroz, por exemplo, já possuem barragens que garantem a irrigação das suas lavouras. Produtores de soja estão ainda plantando em atra­so, devido à baixa disponibilidade hídrica do solo”, informa Menezes.

Na zona urbana, de acordo com a assessoria de comunicação do De­partamento de Águas, Arroios e Esgoto de Bagé (Daeb), o acumu­lado do mês de novembro foi de apenas 40,4 milímetros. A barra­gem da Sanga Rasa está 1,5 metros negativos e a do Piraí, 1,25 metros abaixo do normal. “Ainda não tem perspectiva de racionamento, os ní­veis, até o momento, não são alar­mantes. Estão sendo controladas as previsões. Desde julho, não chove acima de 100 milímetros em um mês”.

Rodolfo Perske, do Escri­tório Regional da Emater/RS-Ascar de Bagé, explica que o panorama geral da estiagem no Estado é pra­ticamente igual. “Chuvas de verão não são uniformes. Mas em geral as lavouras estão mais atrasadas do que em anos anteriores. Isso acaba sendo preocupante porque sai fora da janela ideal de plantio. Temos um baixo percentual de lavouras de verão plantadas. Na pecuária, os produtores estão procurando vender alguns animais, pois com a falta d’água o campo tem me­nos oferta de pasto. As pastagens de verão estão na mesma situação das lavouras. Milho quase nada foi plantado em Bagé”, destacou.

Na Capital da Paz, a si­tuação atual das lavouras de ar­roz é boa, com irrigação bastante adiantada, informa a assessoria de imprensa da prefeitura. Mas o ar­roz também depende muito de chu­va, pois para o percentual da área plantada (+\- 20 %) não tem água disponível nos reservatórios para encerrar o ciclo.

“No plantio de soja, esti­mativa 120 mil hectares, as áreas semeadas cedo estão bem estabe­lecidas, as últimas estavam aguar­dando chuva com emergência e haverá alguns replantes. A área de soja foi 75% semeada. A estimati­va de área com arroz era de 36 mil hectares, mas caiu um pouco. Ain­da não tem registro de áreas aban­donadas por falta de água – mas poderá acontecer. A irrigação está bem avançada, mas há várias situ­ações como lavouras sendo banha­das para uniformizar, lavouras que estão sendo conduzidas na base do ‘banho’. Já começaram os pedidos de abastecimento de água para uso humano, faz uns 20 dias”, informou a assessoria.

HULHA E PINHEIRO Guilher­me Zorzi, do escritório municipal da Emater de Hulha Negra, enfa­tiza que depois de fazer visitas a campo e levantamentos, já foi en­tregue um laudo para o prefeito da cidade, atestando que já há perdas bem significativas em razão da estiagem. “Infelizmente os volu­mes não foram muito expressivos nos últimos dias, mas já ajudam as plantas a apresentarem alguma re­cuperação, tanto pastagens, quanto lavouras de soja e milho que estão em fase de plantio e estabelecimen­to. Nos levantamentos que fizemos, as perdas chegaram em um valor financeiro de R$ 4 milhões de re­ais. É um montante significativo. A gente vai seguir acompanhando. A prefeitura tem um plano de tra­balho encaminhado para a Defesa Civil, para questões emergenciais”, explicou Zorzi.

“Observamos que na pe­cuária as perdas maiores é no gado leiteiro e de corte. Na ovinocultu­ra, os animais têm uma adaptação maior em se manter com pouco pasto. No gado, as pastagens já es­tão praticamente secas. O campo nativo também está mais atrasado, assim como as pastagens de capim sudão, milheto e outras pastagens de verão. Na parte das lavouras, já tem 30% de área de soja planta­da. Toda essa área está com baixa população de plantas e onde tem nascimento melhor, o desenvolvi­mento está atrasado. Isso gera im­pacto no potencial produtivo. As lavouras de trigo estão em fase de colheita, visualizamos boa produ­tividade, mas vai ter um pouco de prejuízo. O milho está na fase de implantação e sofrendo com a falta de chuvas. As lavouras de coentro, que tem uma área expressiva aqui em Hulha Negra, estão na fase da formação dos grãos e enfrentam a falta de chuva”, ponderou.

Lavoura de coentro com folhas secas e sementes ainda em formação Foto: Guilherme Zorzi/Emater/Especial TP

Conforme o secretário de Administração, Planejamento e Meio Ambiente de Hulha Negra, Héctor Bastide, estão realizando os levantamentos das perdas oca­sionadas pela estiagem. “Existem alguns laudos que ainda precisam ser feitos. Precisamos juntar es­ses documentos para que ocorra a construção/confecção do decreto de emergência”, pontuou.

O vice-prefeito de Pinhei­ro Machado, Jackson Luiz Fagun­des Cabral, garante que a estiagem já preocupa a cidade. “Já fizemos contato com a Emater e conselhos, além de produtores de soja. A Ema­ter vai nos abastecer com informa­ções da situação de perdas para que possamos, mais adiante, decre­tar situação de emergência. Em re­lação ao abastecimento de água na área urbana é mais tranquilo. Isso ainda não nos preocupa”, garantiu.

LAVRAS E CANDIOTA O pre­feito de Lavras do Sul, Sávio Prestes, ressalta que a estiagem já está acontecendo, embora tenham acontecido algumas precipitações de chuva. “Os mananciais não re­cuperaram. Estamos fazendo um plano de contingência. A primeira coisa foi uma reunião com o Sin­dicato dos Trabalhadores Rurais, porque as pequenas propriedades são as mais atingidas. Assumimos alguns compromissos, entre eles, que vamos fazer um cronograma de atendimento. Os tratores e re­boques-pipa vão fazer a entrega de água aonde falte. Temos um proje­to para ampliar a quantidade de be­bedouros, açudes e microaçudes, mas isso não vai adiantar se não chover. O problema já está instala­do a mais tempo, as nossas políti­cas são precárias para fazer todo o atendimento dessa rede de acumu­lação de água. Nós estamos prepa­rando os tratores e reboques-pipa, estamos em um processo adianta­do da compra de um caminhão­-pipa com 11 mil litros de água. O caminhão faz o trajeto muito mais rápido, então poderemos atender mais propriedades”, salientou.

Prestes informa também que está com um projeto na Se­cretaria de Planejamento para a aquisição de caixas d’água. “Não adianta passarmos o dia com o trator distribuindo 200 litros para uma propriedade e 300 litros para outra. Então, são caixas de 500 a 1000 litros que sustentam uma semana e assim vamos abastecen­do outras regiões. Vamos montar um plantão estiagem e vamos au­mentar a equipe de atendimento e investir na frota de equipamento e veículos que possam reduzir o sofrimento da comunidade rural”, completou.

Em Candiota a situação não é muito diferente das outras cidades. O prefeito Adriano Cas­tro dos Santos relatou que a es­tiagem já castiga os produtores rurais. “Estamos fazendo levanta­mento de perdas pela defesa civil, mas com indicativo de decreto de emergência. Já estamos entregan­do água no interior para famílias cadastradas e fazendo açudagem para os cadastrados”, comentou.

Lavouras de soja apresentam falhas no crescimento das plantas Foto: Guilherme Zorzi/Emater/Especial TP

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