* Tailor Lima
Os índios de 1.500, não usei indígenas de propósito, só reverenciavam o Deus Sol quando se armavam as tempestades.
Antes de mais nada, sou filho de mineiro das minas de carvão, também me aposentei como mineiro, historicamente fui um soldado na defesa das nossas usinas, assim como defensor de políticas públicas que busquem alternativas para salvar Candiota da dependência comportamental-usinas.
Pois bem, a ‘tempestade’ socioeconômica do desemprego, déficit na saúde, na educação e muito mais, que paira sobre o nosso município de Candiota, não se formou com o desligamento da Usina Termoelétrica Fase C, em 31 de dezembro de 2024 – 17 dias atrás.
O declínio continuado da participação das usinas a carvão na matriz energética do Brasil, hoje em torno de 1,5%, é uma nuvem escura e visível há mais de duas décadas.
Nos últimos anos, claro como um relâmpago, estão aí as fontes eólicas (cerca de 15%), solar (cerca de 20%), térmica de biomassa (cerca de 10%) assim como o crescimento da geração de energias a partir das térmicas a gás natural e atômicas.
Em janeiro de 2011, sem apresentar explicações, a presidente Dilma Rousseff cancelou a visita para inaugurar a Fase C da Usina de carvão da CGTEE/Candiota. Conforme amplamente divulgado, à época, após descoberta que ONGs ambientalistas articulavam uma manifestação contra o funcionamento de Candiota 3.
Em 2017,como mais um trovão de alerta, foram fechadas as Usinas fases A e B da CGTEE, por questões ambientais e por descumprimento de acordos com o Ibama.
Não bastasse os sinais de tempestades sociais sobre Candiota, nos últimos anos, o Brasil foi hiper conectado com redes de transmissões de energia – do Oiapoque ao Chui.
Roraima, em plena Floresta Amazônica, único Estado do País que não está conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), com apoio do governo federal, caminha a passos largos na direção contrária à dependência da geração com combustível subsidiado pela Conta de Consumo de Combustível (CCC) e/ou importação de energia da Venezuela.
A vida nos ensina, não raro, que muitas vezes a solução dos nossos problemas não se resolvem necessariamente a partir das nossas convicções.
A propósito, há 11 anos, em artigo escrito neste espaço, sob o título “Carvão Mineral vs. Lixo Industrial”, escrevi: “Com ventos contrários e a água pelo pescoço, até que se direcione as velas, o nosso carvão mineral vale menos que biomassa, o lixo com grife”.
Com ventos contrário, que se redirecione as velas – isso também é transição energética necessária, urgente e agora questão de sobrevivência.
Menos visão econômico-político vertical (individual e grupos) e mais visão circular – comunidade, natureza e bem-estar social.
Com esperança e fé nos rituais dos povos indígenas, que aconteça o milagre – com menos pirotecnias.
Professor de História, advogado
e mineiro aposentado da CRM