* Reportagem em parceria com o Jornal Folha do Sul
Nesta semana, os olhares se voltaram para a Rainha da Fronteira, após a Polícia Federal (PF) ter deflagrado na terça-feira (13), a Operação Coactum III, que apura possíveis crimes de inserção de declaração falsa em prestação de contas eleitorais, conhecido como ‘caixa dois eleitoral’, organização criminosa, peculato e lavagem de capitais, além de outras suspeitas criminosas contra a Administração Pública. O fato teve repercussão não só estadual, mas também nacional.
Na ocasião, 72 policiais federais executam 34 mandados de busca e apreensão domiciliar e pessoal, e para fins de sequestro de bens, nas cidades de Bagé, na capital gaúcha Porto Alegre e Florianópolis, em Santa Catarina. A decisão foi expedida pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS).
Conforme a PF, a ação era desdobramento da Operação Coactum II, feita em maio deste ano, quando foram apreendidas mídias, dinheiro em espécie e colhidos uma série de elementos de prova sobre os delitos investigados. Naquela ocasião, dois servidores foram presos em flagrante por crime de peculato, sob acusação de posse de valores recolhidos de funcionários municipais.
A PF afirmou que, segundo apurado, pelo menos desde 2017, servidores públicos comissionados (CCs) do município de Bagé seriam obrigados a pagar parte de seus salários. “Os valores exigidos foram vertidos para fins eleitorais sem a devida declaração como receita auferida perante à Justiça Eleitoral. A prática popularmente conhecida como ‘rachadinha’ teria possibilitado o desvio de mais de R$ 10 milhões”, diz a polícia.
APREENSÕES E PRISÃO
Em Bagé, os mandados foram cumpridos na casa do prefeito Divaldo Lara. Foram apreendidos telefones de diversos alvos para fins de investigação, bem como diversos bens para fins de ressarcimento ao erário, tais como placas de geração de energia solar, equipamentos de musculação e exercícios cardiovasculares, cães de raça do canil de Divaldo (os animais ficaram sob a guarda do prefeito), um trator e um veículo, além de artigos de luxo como adega de vinhos e joias. Ainda, 1.454 dólares e mil euros.
O filho de Divaldo, Rafael Lara, de 26 anos, foi preso em flagrante acusado de apropriação de diversos notebooks e computadores pertencentes à Prefeitura de Bagé. Ele pagou fiança e foi liberado.
Também foi realizada a apreensão administrativa de armamento e munições, como uma espingarda calibre 12, com 25 munições, uma pistola 9mm, com 46 munições, entre outras munições, em razão do indiciamento da esposa do prefeito, a policial civil Priscila Lara. A Polícia também investiga os vereadores Rodrigo Ferraz (PL), atual presidente da Câmara, e Michelon Apoitia (PL).
Em Porto Alegre foram cumpridos dois mandados de busca pessoal e um domiciliar, sendo apreendidos uma motocicleta de luxo e um veículo, avaliados em mais de R$ 100 mil cada, além de R$ 7 mil em espécie.
Prefeito classifica operação como eleitoreira e teatral
O prefeito Divaldo Lara realizou uma coletiva de imprensa na manhã de quarta-feira (14), no Salão Nobre da Prefeitura, no centro da cidade, acompanhado por um dos advogados de defesa, Cristiano Guersinguer. Logo após, foi emitida uma nota falando sobre a operação da Polícia Federal em sua casa. Divaldo classificou a ação como eleitoreira e teatral e frisou que é orquestrada com fins políticos, às vésperas do início da campanha.
Divaldo falou, ainda, sobre as mais de 100 denúncias respondidas desde que assumiu a cadeira de prefeito, de todas elas inocentado. “Quando as acusações não são comprovadas, não temos o mesmo destaque na mídia, porque o interesse da oposição é acusar, não provar”, disse. “Nunca me escondi, nem nas maiores crises, como a pandemia, não é agora que vou me esconder”, pontuou.
A nota afirma que a Coactum III foi a terceira operação da PF na casa do prefeito, todas ocorridas durante o governo Lula, sobre o mesmo processo. “Me acusam de rachadinha sem ao menos ter uma única pessoa que denuncia isso. Não há testemunha. Nunca fui apontado por desvio e irregularidade em nenhuma das obras que realizamos”, disse.
Ele explicou sobre a casa, bens e um trator apreendido. “Minha casa foi construída em 2012, adquirida pela minha esposa, que é uma advogada – antes de ser policial civil – advogou em mais de cinco mil processos. É dela a casa, não é minha. Foi construída por ela”. Segundo o prefeito, ele só se mudou para lá dois anos mais tarde, e que tudo está declarado.
Sobre o trator que foi levado, garantiu que o maquinário foi adquirido há cinco anos. “Financiado por ela (Priscila), pago por ela. Vão ter que devolver, como as outras coisas que também levaram”, pontuou. “Porque foi irregular, foi teatral”, disse. “Foi tão irregular que nem o desembargador sabia que estava carregando a TV. Ele disse: ‘Não, devolve a TV’”. Divaldo rebateu, enfim, que tudo o que foi levado tem origem, e que isso será comprovado. “Eu respeito o trabalho dos agentes, porque cumprem ordens, eu entendo, mas não fecho os olhos para o que o Brasil está vivendo”, expôs.
Além disso, Divaldo esclareceu que o valor apontado como desviado é irreal e será comprovado durante o processo. “O desembargador foi induzido ao erro pela PF”, disse.
Por fim, Divaldo falou que não foi coincidência a ação a três dias da campanha eleitoral e no dia 13. “Confio na justiça, nos meus advogados, na minha conduta e no meu trabalho. O que aconteceu foi um circo às vésperas da campanha. É o preço por não me calar e enfrentar o PT em Bagé, no Rio Grande do Sul e no país. E vou continuar”, manifestou.
PRIMEIRA-DAMA
Priscila Lara, esposa de Divaldo, é investigada, segundo a PF, por teoricamente se privilegiar de informações como policial civil. Sobre isso, Divaldo ponderou que está ciente de que sua família está sendo atacada justamente para que, assim, ele seja atingido. O prefeito mencionou que ela é uma das poucas primeiras-damas da história recente do município que não aceitou um cargo público. “A Priscila leva uma vida simples, cuidando do amor maior da vida dela, que é a nossa filha. Isso é uma injustiça”, destacou. “Eu espero que o delegado responda por isso que está acusando ela”, completou, ao sustentar que Priscila é uma servidora do Estado e que o prefeito sequer sabe da rotina dela dentro da delegacia. “Tenho certeza da inocência dela”, reiterou. “Ela será inocentada. Não existe uma vírgula de dúvida na conduta dela”, acrescentou.
PASSAPORTE
Após a coletiva, vereadores de oposição ao governo, protocolaram um ofício na PF pedindo a apreensão do passaporte do prefeito Divaldo. Segundo eles, a solicitação é uma medida preventiva para evitar uma possível fuga do país, baseada, ainda de acordo com os vereadores, na informação de que grandes quantias em dólares e euros foram encontrados em sua residência e declarações sobre planos de residir na Espanha. O pedido se apoia no artigo 320 do Código de Processo Penal, que permite a apreensão do passaporte como medida cautelar, como divulgaram.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*