Nesta edição, o jornal Tribuna do Pampa conta a história de mais uma pessoa que está passando pelo processo de mudança de gênero, a da jovem candiotense e menina transexual (nasce do sexo masculino, mas vive e se identifica como mulher), Kaetana Rodrigues Soares, 18 anos.
Cursando o primeiro semestre de Enfermagem na UniCesumar, Kaetana contou que começou a notar que não se encaixava com o gênero masculino, quando percebeu que não se imaginava vivendo a vida de um menino, e quando viu que o seu corpo não estava alinhado com a sua mente. Logo, ela começou a passar pelo primeiro passo da transição, redescobrir o que gostava e como gostaria de se expressar. “Acaba sendo tudo novo, e tu reaprende sobre ti. Naturalmente fui deixando o cabelo crescer, comprando roupas ditas como feminina e adaptando o universo feminino com o meu dia a dia de uma forma rotineira”, falou.
Ao ser questionada sobre o que a encorajou a passar por uma mudança radical, ela explicou que foi o fato de saber que estava vivendo uma outra vida. “Eu estava vivendo uma vida que não era minha, a disforia também era muito recorrente e que fazia eu só me limitar e ser infeliz. Depois que me descobri, o que me deu coragem foi o fato de saber que se eu não fizesse isso, eu ia ser uma pessoa triste e infeliz”.
APOIO FAMILIAR
Sobre o apoio e aceitação da família e dos amigos, a jovem respondeu que mesmo a família tendo mente aberta, não é algo fácil. “Eu nunca busquei a aceitação, sempre busquei o respeito e isso foi uma coisa que eu tive desde o início. Não vou dizer que foi fácil, porque não foi. Mesmo a minha família tendo mente aberta, acaba por ser difícil entender e compreender sobre”, ressaltou ela, dizendo que com o tempo todos respeitaram a sua nova identidade e deste modo continuam sendo uma família unida. Em relação aos amigos, ela disse que não teve nenhuma rejeição, pois todos sempre foram muito abertos e boa parte também faz parte da comunidade LGBTQIAPN+.
Em relação a pessoas que foram e estão sendo essenciais neste momento, Kaetana mencionou primeiramente o tio, que segundo ela, sempre deu apoio e suporte emocional mesmo morando em outro Estado. Na sequência, ela mencionou o apoio da mãe, que sempre foi sua inspiração e que também auxiliou na introdução ao mundo feminino, com roupas, maquiagem, cabelo e ensinamentos sobre os desafios de ser uma mulher na sociedade. “Por fim o meu amigo Enzo, que em todos os momentos da minha vida esteve presente e me ouviu diversas vezes falando sobre minhas dúvidas em relação a transição e me dando apoio, que é o mais importante”, acrescentou.
Na oportunidade, a reportagem do jornal também entrou em contato com a mãe de Kaetana, Paula Mendes Rodrigues, que falou brevemente sobre como foi o início da transição da filha. “Ela sempre se mostrou uma criança inteligente, carismática, alegre, dedicada e objetiva. No começou da transição eu fiquei muito perdida e sem saber muito como ajudar e o que fazer, porque era tudo muito novo pra mim também. Era o começo para toda a família, mas acredito que o amor constrói e fortalece”, ressaltou Paula, mencionando que acha difícil ser mulher e que sentiu muito medo de tudo que a filha poderia enfrentar como mulher, e o quão difícil é revelar a sua identidade para família, amigos e sociedade.
“Eu como mãe me sinto muito orgulhosa de ter uma filha forte, corajosa e determinada que criei com muito amor e carinho. Ela foca no objetivo, firma o pé e vai para a luta e posso afirmar que ela vai muito longe, pois sabe o que quer e não desiste. Nem o medo e a insegurança irão atrapalhar essa mulher. Quero que ela saiba o quanto eu a amo, respeito e admiro, e que estou aqui para o que ela precisar”, finalizou Paula.
NOVA IDENTIDADE
Quando se sentiu pronta para contar para o mundo sobre a sua nova identidade, Kaetana começou a se apresentar como mulher. Sobre a escolha do novo nome, ela disse que escolheu por ter um significado bonito e mencionou que também se inspirou na personagem de uma série, apenas acrescentou a letra K no início para combinar com o nome de suas primas. “Todas elas têm o K como inicial, e como a gente tem uma ligação muito forte, eu quis me incluir também”, explicou.
A jovem também já está buscando a troca de gênero e nome em seus documentos oficiais. Referente a isso, ela informou que a equipe da Secretaria da Mulher, LGBTQIAP+ e Igualdade Racial do município de Candiota está auxiliando nesta questão. Ainda, ela ressaltou que procurou a equipe logo no início por achar importante ter uma Secretaria voltada para esse público dentro do município, dizendo que além da documentação, também recebeu ajuda para fazer estágio na área que está cursando.
PARA QUEM ESTÁ NO MESMO PROCESSO
Para pessoas que estão ou pensam em começar a passar pelo mesmo processo, Kaetana deixou a mensagem que é preciso ter calma, pois é algo lento em todos os sentidos, como a adaptação das pessoas próximas, mudança física, documentação e aceitação própria. “Tenha em mente que nenhuma transição é igual, e cada um tem sua individualidade e não deve se comparar com os outros. Evite lugares perigosos e passe esse processo com otimismo, porque no final vale apena viver a tua vida de verdade”.
Ao finalizar, ela falou que o maior desafio é viver em um sistema que não aceita que as pessoas queiram viver com dignidade, e que desejam as mesmas coisas que qualquer outra pessoa, como emprego, direitos, afeto e principalmente poder viver em um país que o medo não prevaleça, e sim o respeito.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*