O analfabeto político

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*Adoniran Lemos Almeida Filho

 

“O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro, que se orgulha e estufa o peito, dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil que de sua ignorância nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o explorador das empresas nacionais e multinacionais”

(Bertold Brecht)

Mais uma eleição se aproxima e com ela o dever cívico da participação popular na escolha das pessoas que irão nos guiar pelos próximos quatro anos. É voz corrente a afirmação de que o Brasil tem os políticos que merece. O que não é verdade. Temos os políticos que ESCOLHEMOS. Os políticos que ELEGEMOS.

E os políticos que temos – todos eles: os bons, os “mais ou menos” e os nem tão bons assim – são escolhidos não apenas quando você deposita o seu voto na urna eletrônica, mas também quando você se omite desse seu dever cívico.

Eu sei, eu sei…, você já deve estar querendo me perguntar: mas e se eu não gostar de nenhum dos candidatos? E se as IDÉIAS que eles, seus partidos e coligações defendem não representarem a visão de mundo em que eu acredito? Não seria até mais honesto da minha parte eu votar “nulo” ou “em branco” para expressar com clareza a minha inconformidade, ao invés de simplesmente aderir a uma ideia na qual eu não acredito?

E essa é uma ÓTIMA PERGUNTA, querido leitor e querida leitora.

Mais do que isso, é uma verdadeira angústia que tem afligido boa parcela da população a cada eleição. O receio de ser o fiador de um projeto e de ideias nas quais eu já não acreditava antes da eleição, e que, depois dela, venham a se mostrar exatamente aquilo que eu imaginava: projetos e ideias ruins. Não seria mais honesto eu fazer um VOTO DE PROTESTO?

Questão interessante, não é mesmo?

Então, deixe agora eu fazer uma pergunta para você. Você gosta de futebol? Se gosta, então me responda: o seu time precisa de um gol para ser campeão. Aos 49 minutos do segundo tempo o juiz marca um pênalti para o seu time. Você espera, naturalmente, que o melhor jogador, o “craque do time”, assuma a responsabilidade e bata o pênalti decisivo. Mas então ele se omite. Ele “lava as mãos”. Deixa outro bater o pênalti. O outro bate e erra. E eu lhe pergunto: o que você achou dessa atitude? Outra pergunta: o craque do time, que se omitiu, ainda tem legitimidade moral para reclamar de quem errou?

Você gosta de religião ou de história? Se gosta, então me responda: a quase dois mil anos atrás o Governador da Judéia, Poncio Pilatos, foi chamado a decidir uma questão trazida pelos fariseus contra um “falso profeta” e ele simplesmente SE OMITIU. Literalmente, conforme a tradição romana da época, “lavou as mãos” em uma bacia de prata, deixando que os outros decidissem a grave questão que lhe fora trazida. O que você acha, até hoje, da omissão de Pilatos?

A verdade é que tomar decisões, posicionar-se, nem sempre é fácil, MAS É NECESSÁRIO. Omitir-se nunca é o caminho.

Ah, mas e o VOTO DE PROTESTO? Não é uma forma também de se posicionar?

NÃO. Pelo menos não no atual sistema eleitoral brasileiro. Não esqueça que os votos brancos e nulos não entram na contagem. Eles são descartados. Portanto se toda a população de um determinado local resolver anular o seu voto como forma de protesto, e houver apenas um voto válido, o candidato que receber esse voto será eleito com 100% dos votos.

Logo, quando você anula ou vota em branco, na verdade você não está protestando contra nada mas apenas ajudando a eleger os maus políticos. Sim, pois os maus políticos já contam com isso, que os verdadeiros votos “de protesto” e de “inconformidade” sejam descartados da eleição.

E você, que queria tanto protestar contra os “maus”, ao anular o seu voto ou votar em branco, no fim das contas, está apenas ajudando a elegê-los…

Boa semana e até a próxima!

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