
Os pesquisadores encontraram em Jaguarão, 64 espécies num único m² Foto: Fábio Torchelsen/Especial TP
No dia do Bioma Pampa, comemorado na última terça-feira (17), o grupo de pesquisa do Laboratório de Estudos em Vegetação Campestre da UFRGS, parte do Projeto PPBio Campos Sulinos-Pampa divulgou um dado inédito sobre a biodiversidade do Pampa, obtido, recentemente, em atividades de campo no município de Jaguarão, Rio Grande do Sul: um metro quadrado de campo nativo com 64 espécies de plantas. O número ilustra a enorme biodiversidade do bioma o qual, no entanto, segue desprotegido e sofre, anualmente, grandes perdas das suas áreas nativas e da sua biodiversidade, com impactos para as populações humanas.
Enquanto o público geral muitas vezes associa a biodiversidade brasileira aos ambientes florestais, ambientes de campo possuem uma biodiversidade equivalente.
O mesmo vale para o Pampa, um bioma cuja vegetação natural é dominado por campos que possuem uma biodiversidade rica e típica. O projeto PPBio Campos Sulinos – Pampa, um dos projetos do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), é um projeto nacional que visa ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira e subsidiar políticas públicas voltadas para a conservação e uso sustentável dos recursos naturais.
RECORDES
O PPBio Campos Sulinos-Pampa é coordenado pelo Prof. Dr. Valério DePatta Pillar, da UFRGS, e as atividades envolvendo levantamento da vegetação campestre pelo Prof. Dr. Gerhard Ernst Overbeck, também da UFRGS.
Na primavera de 2024, a equipe do Laboratório de Vegetação Campestre (LEVCamp) da UFRGS, liderada pela Pós-Doutoranda Ana Boeira Porto, realizou a amostragem da vegetação em cinco áreas campestres, seguindo protocolos de amostragem padronizados. Foi no município de Jaguarão, em uma área de campo nativo sob manejo pastoril, situada em uma propriedade particular, que a equipe de campo encontrou o metro quadrado mais rico em plantas já registrado no país: 64 espécies em um único metro quadrado. Registros anteriores já haviam documentado áreas de campo com mais de 50 espécies de plantas por metro quadrado. Uma área de Candiota em 2013 foi descoberta com 53 espécies no pequeno espaço, sendo superado por Quaraí em 2015, com 56 e agora o novo recorde é de Jaguarão.
BIOMA PAMPA
O Pampa brasileiro, uma região de campos nativos sob clima subtropical, abriga pelo menos 12.503 mil espécies de plantas, animais, fungos e bactérias, como foi revelado em um estudo publicado em 2023, coordenado pelo Prof. Gerhard Overbeck da UFRGS e com a colaboração de 120 pesquisadores de 60 instituições. Além de sustentar tamanha biodiversidade, os campos nativos fornecem importantes serviços ecossistêmicos para as pessoas, como abastecimento de água, armazenamento de carbono, alimentos e forragem. Ainda mais, o Pampa tem elevado valor cultural.
Apesar da sua alta importância para a biodiversidade, entre 1985 e 2023, o Pampa perdeu 3,5 milhões de hectares de campos nativos. A expansão de lavouras anuais (como soja e arroz) e de monoculturas de árvores exóticas (por exemplo, Pinus spp., Eucalyptus spp.) é a principal causa da perda dos campos nativos, apesar do potencial produtivo dos mesmos. “A pecuária extensiva em campo nativo é, comprovadamente, uma atividade econômica que é compatível com a conservação da biodiversidade”, ressalta Gerhard Overbeck. “Temos, com os campos do Pampa, a possibilidade de produzir carne de alta qualidade com base na vegetação nativa, sem degradar o meio ambiente. No Pampa, o gado é aliado à conservação da biodiversidade, e o uso pastoril do Pampa deve ser incentivado.”
Os pesquisadores concluem que, para garantir a conservação e o uso sustentável do Pampa, políticas públicas que incentivam a manutenção dos campos nativos e o seu uso, além de implementar exigências legais já existentes, como o Cadastro Ambiental Rural e os Programas de Regularização Ambiental. Isso também é importante já que hoje está bem estabelecido que a própria produção agrícola depende dos serviços ecossistêmicos fornecidos pela biodiversidade.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*