* José Giordâni da Silva Dornelles
O processo de privatização da Eletrobrás ocorreu de forma inusitada, sem discussão com a sociedade e em plena pandemia. A aprovação no Congresso Nacional ocorreu com margem estreita e com a promessa de construção de térmicas a gás no Nordeste, que provavelmente irá elevar o preço da energia elétrica. O relator da matéria no Tribunal de Contas da União foi contrário à aprovação da capitalização, fazendo vários apontamentos. A maior empresa de energia da América Latina, foi entregue a controladores do mesmo grupo que efetuou a maior fraude contábil da história do mercado de capitais brasileiro.
O empreendimento Termelétrico Candiota III (Fase C) entrou em operação comercial em 2011 e tem função estratégica de controle de tensão do sistema de transmissão da região, com fundamental importância para operação da segunda interligação Brasil-Uruguai. Para garantir o atendimento aos padrões determinados em sua licença de operação, a usina conta com tecnologia de abatimento de material particulado integrada ao sistema de dessulfurização, além de queimadores de baixo emissão de óxidos de nitrogênio e infraestrutura de monitoramento contínuo, procedimentos ambientais relativos ao consumo de água, tratamento de efluentes e destinação final de resíduos sólidos industriais também são rigorosamente adotados.
A usina tem algumas vantagens em relação a outro empreendimento recentemente instalado na cidade, como sistema de jigagem que reduz o teor de cinza e enxofre do carvão, melhorando a performance dos sistemas. Possui caldeira com queima tangencial que produz cinza utilizada pela Intercement de Candiota e Votorantin em Pinheiro Machado, sendo vital para a indústria cimenteira da região. O outro empreendimento possui caldeira com leito fluidizado, inviabilizando o aproveitamento pela indústria cimenteira.
Recentemente a escola SATC de Santa Catarina, realizou pesquisa em relação ao subproduto do dessulfurizador (equipamento que utiliza cal para capturar enxofre dos gases) para fabricação de tijolos, tendo resultado positivo em relação à insumos tradicionais. Há possibilidades de avançarmos em projetos como o carboquímico, reduzindo a dependência de importações de metanol, amônia e uréia, resultando em menor exposição a volatilidade externa (os principais exportadores atualmente estão em guerra).
O carvão de Candiota é a fonte de energia mais barata disponível no país para gerar o syngas, com estabilidade e garantia de fornecimento no longo prazo, com custos inferiores a U$ 20/Ton. Além disso, em períodos de seca as térmicas garantem a estabilidade e segurança do sistema interligado de energia brasileiro.
O fechamento da Usina Fase C de Candiota, teria em tese um impacto econômico e social descomunal na região, com consequências imediatas nos setores de mineração, cimenteiro, na cal importada do Uruguai, comércio, serviços, prefeituras e outras ramificações da economia regional. Seria uma atitude danosa, cometida contra uma região já debilitada em termos de desenvolvimento industrial, econômico e social.
O próprio presidente Lula tem afirmado que o Brasil possui uma matriz energética limpa, que os grandes poluidores foram e são os países ricos, que aliás não financiam compensações aos países em desenvolvimento. Candiota possui 38% do carvão nacional, que pode ser utilizado de forma transitória, sustentável e com muito mais retornos positivos que negativos à sociedade brasileira.
Desse modo defendemos a racional utilização desta riqueza nacional e somos fortemente contrários ao fechamento da Usina Térmica de Energia Elétrica Fase C.
* Presidente Municipal do Psol Candiota/RS e funcionário da Eletrobrás CGT Eletrosul Candiota.
