ENTREVISTA

Prefeito eleito de Pinheiro Machado fala como pretende administrar a cidade

Em sua nova gestão à frente do Executivo, Zé Antônio conta com o apoio de todos para que seja possível superar as dificuldades que o município enfrenta atualmente

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O Jornal Tribuna do Pampa inicia no impresso, com posterior reprodução no on line, uma série de entrevistas com os prefeitos eleitos de Candiota, Hulha Negra, Pedras Altas e Pinheiro Machado. O especial começa contando como o pedetista José Antônio Duarte Rosa, mais conhecido por Zé Antônio, pretende administrar a Terra da Ovelha a partir de 1º de janeiro de 2017. Seu vice-prefeito é Jackson Cabral (PSDB).

Eleito com 4.293 votos (52,84%), no último domingo, 2, pela coligação PDT, PSDB, PMDB e DEM, Zé analisa que, no primeiro momento, será bastante complicado governar Pinheiro Machado, pois será necessário colocar a “casa” em ordem. Para isso, ele conta com o apoio de todos. “Não só aqueles que nos ajudaram, que votaram em nós, mas os que foram adversários também. A eleição passou, o município segue, vai seguir sempre. Vai terminar a nossa administração e o município segue município. Vamos buscar um município melhor. E isso só vai acontecer se cada um de nós fazer a nossa parte. O Executivo correr, buscar, trabalhar, fazer gestão. O Legislativo também ajudar naquilo que for bom para o município e a população também vai ter que dar um pouquinho de si. Tive muitas manifestações de funcionários se propondo a ajudar a fazer aquilo que hoje eles não fazem. Esse sentimento aí é o que a gente espera não só daqueles que foram eleitos, os que trabalham no município, mas também a própria população. De alguma forma, todo mundo pode ajudar”, observa o pinheirense, de 63 anos, que já esteve à frente do Executivo municipal entre outubro de 2011 a dezembro de 2012.

Um dos problemas que ele pretende resolver, em sua nova gestão, diz respeito ao fundo de previdência que conta com mais de 200 servidores e está com déficit. “Pelo que se sabe, todos os meses o município tem que disponibilizar entre R$ 120, R$ 130, R$ 140 mil do caixa único (para o fundo)”, menciona.

Buscar o fortalecimento do Consórcio Público de Desenvolvimento Regional dos Municípios da Bacia do Rio Jaguarão (Cideja), composto por sete municípios da região, entre eles Pinheiro Machado, é uma das metas do seu novo governo, garante Zé.

TP: Como o senhor analisa a expressiva votação que obteve?

Zé Antônio: Foi uma boa votação. Houve, da parte da população, um entendimento a respeito da situação que a gente vive. Mas a gente também tem que levar em conta que dentro da coligação estavam os três partidos bem estruturados, bem fortes, que é o PSDB, o PDT e o PMDB, além da companhia do DEM, que é uma sigla que está ainda pequena em Pinheiro, mas que compôs e que no Estado tem representatividade. Tudo isso leva a soma, além do reconhecimento que a população teve agora dos 14 meses que a gente esteve à frente do Executivo, onde se conseguiu fazer um trabalho bem tranquilo. Todos os serviços que o município tinha que prestar, a gente prestou. Os eventos oficiais do município todos se realizaram de forma bem tranquila. Conseguimos diminuir a dívida naquele período. A relação com o funcionalismo foi uma relação muito boa, tranqüila também. Eu acho que tudo isso refletiu agora num momento em que a população se deu conta que viveu um bom período em 2012. Foi uma eleição tranquila, onde não se fez promessas. Não me comprometi de forma como na maioria das vezes os políticos fazem. Nós não temos compromisso, a não ser com o nosso trabalho, com o trabalho da coligação, que a gente entende que juntos um futuro melhor é realmente juntos mesmo.

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TP: Quais serão as primeiras ações que o senhor tomará assim que assumir?

Zé Antônio: Vamos tomar pé da real situação que o município passa. Até agora a gente não tem dados concretos em relação à situação, mas a gente sabe que é difícil, que as arrecadações diminuíram, que as estruturas administrativas algumas muito pesadas. Então, essas medidas vão ter que ser logo no início. Penso que a reestruturação administrativa é uma coisa que nós não podemos fugir, até porque hoje todos os entes federados (União e estados) estão procurando diminuir gastos, fazendo uma máquina mais enxuta. Pinheiro Machado tem uma estrutura muito pesada e a arrecadação tem ficado dentro de um patamar mais ou menos o mesmo. E a gente está vendo, ao longo do tempo aí, que o nosso orçamento não é um orçamento tão ruim dentro dos municípios da região Sul (do Estado). É um orçamento que está entre os seis, sete melhores da região, então mesmo assim está tendo essa dificuldade toda de prestar os serviços públicos básicos, e aí nós vamos ter que olhar, reestruturar a educação, repensar alguns programas de saúde, de atenção básica, fazer uma avaliação total.

Vejo também a situação bem complicada do parque rodoviário, as máquinas estão sucateadas, estão velhas. A gente precisa repensar isso tudo. Basicamente eu acho que nos primeiros meses vamos ter que se trabalhar nesse rumo.

 

TP: O Fundo de Previdência (FAPS) é um problema enorme para as administrações de Pinheiro Machado desde que foi criado há quase duas décadas. Como o senhor irá lidar com esta questão?

Zé Antônio: Esse é um dos problemas mais sérios que o município hoje convive. Está totalmente exaurido, sem fundo, e a cada ano aposenta mais pessoas, mais atendimento de pagamento pelo o fundo e, ao mesmo tempo, o que a gente vê é que os concursos não aconteceram, então não entram novos contribuintes, e isso é um problema seríssimo.

Foi feita uma auditoria extraordinária no município, onde apontou os quatro últimos prefeitos, inclusive eu, no último ano. O Tribunal (de Contas do Estado – TCE-RS) fez essa auditoria, detectou os problemas é nós estamos respondendo esse apontamento. Dentro da defesa que estamos fazendo, a gente tem alternativas assim: temos que buscar, da parte do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), uma parcela que ficou, que foi paga a pessoas que não contribuíram com o fundo, mas que entraram no fundo, que foi um dos problemas que teve quando foi criado. Isso aí nós temos que buscar. É complicado, é difícil, mas nós temos que buscar.

Outra saída, para tentarmos dar um pouco de sustentabilidade ao fundo, é fazermos concurso público, colocar gente para dentro do quadro, se esqueça dos contratos emergenciais, se esqueça essas formas todas de alocação de pessoal, de recursos humanos e fazer concurso. Será um trabalho complicado, porque nós vamos ter que adequar índice de folha, vamos ter a nossa regularidade fiscal, enfim, mas nós temos que buscar isso, não tem outra saída.

 

TP: O senhor ganhou a eleição com quatro partidos coligados. Três deles com representação na próxima câmara de vereadores e que lhe darão sustentação política. Eles serão contemplados no governo com cargos? De que forma?

Zé Antônio: Quando a gente concretizou a aliança, em 2012, quando tive que assumir a prefeitura naquela época, foi um período bem complicado. Não houve transição, não houve nada, então nós tivemos que pegar tudo depois que estávamos dentro da prefeitura. E aí se precisava muito da câmara, para podermos encaminhar suplementação de verbas. Toda aquela situação que se estabeleceu, a câmara tinha que ajudar e, naquele período, a gente procurou o presidente da câmara, na época era o vereador Cabral, hoje meu vice-prefeito, e a gente disse “Cabral queres participar do governo?, queres indicar alguém?”.  E naquela época ele me disse que não, que fizesse o que tinha que fazer que a bancada do PSDB iria me apoiar. E realmente isso aconteceu. Da mesma forma, o PMDB. E aí foi quando eu pude, naquela época, nomear os secretários, todos pessoas do quadro funcional, que já foi uma enorme poupança. Todos já eram funcionários públicos, com exceção de um ou dois que recebiam FG (função gratificada). Os salários deles já eram salários maiores que o salário de secretário, então não teve despesa a mais.

Agora, quando nós concretizamos a aliança, também já ficou isso definido. Os partidos vão ter os cargos, vão ter as funções dentro do governo, porém tudo o que se puder aproveitar, pessoas filiadas que estão dentro do quadro funcional do município, vai ser dessa forma. Vamos tentar trabalhar dessa maneira, dando aquilo que a gente colocou no plano de governo, que foi utilizar o funcionalismo em cargos de chefia, valorizar o funcionário público dessa forma, porque não tem outra saída. Se nós não juntamos as pessoas para trabalharmos em torno de uma coisa só, onde cada um se sinta também responsável pelo o que se está se passando e pela melhoria que nós vamos buscar, se não for dessa forma, nós vamos continuar na mesmice e nas dificuldades que estamos passando hoje. É preciso uma nova atitude e essa atitude que a gente imagina é dessa forma, procurando diminuir custos, valorizar o funcionalismo, tirar o máximo de cada um que possa ajudar o município a sair dessa situação que se encontra.

 

TP: O discurso de mudança ganhou em Pinheiro. O que vai mudar de fato na cidade nos próximos quatro anos?

Zé Antônio: A mudança que a gente imagina, primeiro, será melhorar a cidade no que diz respeito a sua estrutura de limpeza, iluminação, melhoria das vias públicas, no interior também. Está muito abandonado. As estradas do interior estão precárias. O primeiro passo, a primeira mudança será mudarmos essa situação. E depois o que temos que mudar é a forma de enxergar o município. Não podemos mais pensar num município sozinho. Só no nosso município, só na nossa cidade. Nós temos que pensar também em fazer coisas junto com as outras. Um exemplo grande que ficou do mandato passado foi a concretização do Consórcio Cideja, onde nós apostamos muito e muita coisa boa venho através do Cideja. E muita coisa melhor tem para acontecer ainda. O Cideja trouxe todo aquele maquinário (para recuperação de estradas), que foi distribuído para todos os municípios, mas tem muita coisa mais para se fazer em termos de consórcio. Um exemplo é a compra de medicamentos, compra para todos. Isso aí é uma coisa que nós temos que buscar. Não conversei ainda com nenhum dos prefeitos eleitos (dos municípios que integram o consórcio), mas eu acho que no momento tiver oportunidade é isso que a gente tem que uma começar a tratar porque é uma das alternativas que tem. E a outra será tentar buscar, de todas as formas, empresas que se estabeleçam não só em Pinheiro, mas que se estabeleçam na região, para que nos gerem empregos. Nossa população está carente de empregos. A gente vê os jovens todos abandonados, sem perspectivas. Gente sempre pensando em ir para longe, e que antes esse longe que assumia, que acatava, esse longe que era a região de Caxias (do Sul), já não está recebendo daquela forma que recebia, aí fica mais difícil. Nós temos que pensar em nós. As coisas podem acontecer, podem se renovar, podem mudar, enfim é a nossa região, eu acredito nisso aí.

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