PANDEMIA

Restrições ao comércio preocupam autoridades municipais e empresários

Bandeira preta e restrição de horários deixaram o comércio de portas fechadas, com permissão de serviços essenciais e ruas vazias em Hulha Negra durante à noite Foto: Silvana Antunes TP

O modelo de Distanciamento Controlado determinado pelo governo que deixou todo o Rio Grande do Sul em ban­deira preta ocasionou restrições severas ao setor comercial. Até o dia 21 de março devem funcionar apenas estabelecimentos com co­mercialização de produtos consi­derados essenciais. A medida vai ao encontro do esforço coletivo de redução da circulação de pessoas para reduzir o contágio pelo novo coronavírus.

Restaurantes, bares, lan­cherias, lanchonetes e sorveterias foram autorizados a comercializar os produtos via tele-entrega, pague e leve e drive-thru até as 20h e, posteriormente, seguindo a norma que suspende as atividades até as 5h, esses estabelecimentos só podem funcionar por tele-entrega.

Mercados, supermercados e hipermercados puderam ficar aber­tos até as 20h (clientes que entrem antes das 20h podem ficar até as 21h), mas ficaram impedidos de vender presencialmente produtos considerados não essenciais, que deveriam ser deixados fora do al­cance do público, seja coberto por lona ou por fita.

Apenas farmácias, hospitais e clínicas médicas; serviços funerá­rios; serviços agropecuários, vete­rinários e de cuidados com animais em cativeiro; assistência social e atendimento à população em estado de vulnerabilidade; que realizem atendimento exclusivamente na mo­dalidade de tele-entrega; postos de combustíveis sem aglomerações em lojas de conveniência, os dedicados à alimentação e à hospedagem de transportadores de cargas e de pas­sageiros, especialmente os situados em estradas e rodovias, inclusive em zonas urbanas, e hotéis e similares foram autorizados a funcionar.

O comércio de produtos não essenciais com portas fechadas acabou gerando preocupações e até manifestações em alguns municí­pios devido ao impacto econômico que as restrições estão causando aos empresários.

O Tribuna do Pampa con­versou com prefeitos, presidentes de associações comerciais e empresá­rios a respeito do impacto financeiro nos municípios e de uma forma geral, a preocupação com a saúde da população anda entrelaçada com as consequências econômicas.

 

PREFEITOS – O jornal contatou os prefeitos da região para um posicionamento quanto ao impac­to causado pelo fechamento do comércio. De Pinheiro Machado, o prefeito interino Ronaldo Madru­ga diz não ter uma resposta acerca da contribuição do comércio para a disseminação do vírus para que fossem determinadas restrições tão rigorosas. “As farmácias e mercados estão funcionando com um enorme fluxo, existe aí um contrassenso. A minha defesa é que o comércio funcione com 25% da capacidade, pois hoje as pessoas só veem uma fachada, mas por trás existem famílias autônomas que dependem disso para viver, para pagar suas contas. É muito fácil fazer a crítica, de dizer que não está se pensando na vida, pensamos sim, mas pensamos também na necessidade das pessoas se man­terem”, frisou.

Madruga diz não ter em números o impacto causado com o fechamento do comércio, mas afirma ser negativo. “É uma cadeia, se não há consumo, não há receita e se não há receita, não há inves­timentos, comprometendo ainda mais a situação financeira em um momento que existe ainda mais demandas, com menos recursos. Cada vez que fecha o comércio, só piora. Aguardamos a volta da co­gestão para que os municípios com suas características e seu número de pessoas com Covid controlado, possam adequar o funcionamento do comércio”, afirmou.

Renato Machado, prefeito de Hulha Negra, de forma breve dis­se à reportagem estar preocupado. “A situação é bem grave, é muito preocupante. As pessoas seguem gastando para se alimentar e se­guem trabalhando, mas os recursos começam a diminuir. A Prefeitura depende de impostos e tudo isso nos preocupa bastante”, manifestou o gestor.

Da Cidade do Castelo, o prefeito Bebeto Perdomo disse que o impacto negativo é o mesmo presenciado nos demais municípios apesar de não ser tão acentuado em razão do comércio ser pequeno. “Estamos sentindo e vamos sentir a queda na renda das pessoas e, consequentemente, do comércio da área urbana. É um efeito avassala­dor e não vamos ficar de fora pela diminuição de recursos, inclusive os cofres públicos sofrerão impactos em razão da baixa arrecadação de impostos. Não temos essa redução explícita em números ainda, mas estamos preocupados e apreensivos com o futuro”, ressaltou o prefeito de Pedras Altas.

 

 Empresários mostram apreensão
com futuro dos empreendimentos

O TP também conversou com associações comerciais e empresários em busca de um panorama dos municípios no setor. Em nome dos empre­sários, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Hulha Negra (Acihune) Pedro Silveira, disse que a situação para comércio formal já estava bastante difícil no decorrer da pandemia e com a bandeira preta o setor está mais afetado. “Vários estabelecimentos tiveram que encerrar as atividades. Houve uma queda de 25 a 30% na receita, todo tipo de comércio é afetado, principalmente os que trabalham com itens considerados não essenciais por não poderem abrir seus estabelecimentos. Esses, além de serem comércios pequenos e geralmente com um faturamento baixo, no final do mês tem impostos e boletos para pagar”, lembrou.

Pedro Silveira Foto: Divulgação TP

Silveira destacou que todo comércio sofre com as restrições. Ele tam­bém afirmou faltar controle e fiscalização por parte das autoridades. “Em todas as esferas governativas e de saúde houve falta de fiscalização, principalmente em razão daquela parcela da população que não soube entender a gravidade desse vírus, causando prejuízos para o município, estado e país”, concluiu.

Representando Hulha Negra, após questionamento do jornal, Ivone Plauth, proprietária da Lancheria e Sorveteria Mundial disse que a própria população é responsável pelo momento atual e que é necessário ter consciên­cia. “É preciso mudar hábitos para ajudar um ao outro, mas isso não acontece. Está sendo um momento difícil este da bandeira preta, principalmente pela desigualdade, pois todos que estamos trabalhando necessitamos do nosso trabalho. Penso que se todos se unissem não precisaria fechar as portas de muitos comerciantes, mas aqui no nosso ‘mundão’ é assim, cada um por si”, ressaltou.

Ivone, que está trabalhando no sistema de tele-entrega ou pegue e leve até às 20h, disse que o momento ainda é melhor que em 2020 e precisa agradecer a Deus. “São tempos difíceis onde ainda estamos aprendendo a nos adaptar as novas mudanças. Está sendo diferente do ano passado onde tivemos que ficar 15 dias com a lancheria fechada, sem poder atender ninguém, agora por mais que o cliente não possa entrar, estamos podendo trabalhar”, contou.

Também de Hulha Negra, Sonivete Oliveira Tasso, da loja Rosa de Saron, falou sobre sua situação como empresária do ramo de confecções. “Vejo o atual quadro da pandemia preocupante, como vimos falta de UTI, mutações do vírus, tudo piorando. A bandeira preta tem sim gerado impactos no meu estabelecimento, pois não podemos trabalhar mesmo tendo aluguel, IPTU, IPVA e demais boletos que não estão com datas alteradas em razão do fechamento do comércio. Aí pergunto: como fizemos? Meu comércio está parcialmente fechado, foi comprometido com a queda nas vendas, não consegui me adaptar em razão das vendas na cidade ocorrerem quase que totalmente no formato físico”, relata.

A empresária diz não concordar com as medidas impostas pelo gover­no. “Se é pra fechar não deveria fechar tudo? Os pequenos estabelecimentos estão sendo os mais prejudicados, enquanto mercados estão abertos e com aglomerações, muitas vezes sem higienização adequada dos carrinhos. Sugiro que possamos abrir, mas com restrições ao atendimento de uma pessoa por vez e tomando os devidos cuidados”, questionou.

Clarque Rostan Foto: Divulgação TP

Em Candiota, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e da Associação Comercial, Industrial, Serviços e Agropecuária (Acisa), Clarque Rostan, falou sobre a situação geral do comércio da cidade. Ele disse que a situação está bem complicada em razão das atividades estarem suspensas ou limitadas. “No comércio em geral as vendas desde março de 2020 estão muito abaixo das metas e das médias, deixando os comerciantes já sem capital. Agora enfrentamos uma grande crise financeira com a suba das mercadorias, insumos, mercadorias quase que semanal. Estamos vendo uma onda de Covid-19 maior do que no início da pandemia, são números preocupantes para pais de família, comerciantes e prestadores de serviços, pois há aluguel, luz, impostos mensais pra pagar e principalmente funcionários que dependem desta renda pra pagar suas contas.”, expôs.

Rostan também disse ver um aumento no desemprego mas ser oti­mista quanto aos novos decretos. “As empresas e prestadores de serviços estão cortando os gastos pra poder sobreviver. Buscamos e esperamos que os novos decretos sejam favoráveis ao funcionamento dos nossos serviços, claro que com toda a segurança para receber nossos clientes”, disse o presi­dente das entidades.

Por fim, como empresário, Clarque falou do próprio estabelecimento, a Mástter Informática. “Estamos há um ano sem ministrar cursos de informá­tica, chegamos a uma queda de 40% na receita mensal. Nos demais serviços, antes do novo decreto, tivemos uma queda em nossas vendas mensais de 45%. Agora, já completando a segunda semana de restrições no funciona­mento do comércio, temos muito mais quedas em vendas e prestações de serviços”, expôs.

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