ALERTA

Saúde mental dos candiotenses preocupa gestores municipais

Quando pronto, Centro de Saúde Mental deverá ampliar os atendimentos Foto: Sabrina Monteiro TP

Os sentimentos e atitudes da população neste período considerado pós-pandemia de Covid-19 acionou o sinal de alerta de profissionais e gestores da saúde. Isso porque muitas consequências negativas têm sido detectadas e estão precisando ser tratadas para que problemas maiores não ocorram ou até mesmo vidas não sejam perdidas – fato que em algumas ocasiões não é possível evitar.
Exemplos disso são pelo menos três casos em que pessoas de diferentes idades foram encontradas já sem vida em Candiota nos últimos meses, onde, devido aos fatos, os casos foram tratados como suicídios. O último ocorreu recentemente, de um jovem morador da sede do município, comovendo a comunidade.
A reportagem do Tribuna do Pampa apurou que o Pronto Atendimento 24h da cidade está recebendo muitos casos de atendimentos, principalmente de crianças e adolescentes que procuram o local com algum indício de atentado contra a própria vida.
Cabe lembrar, que os municípios possuem redes de apoio com psicólogos e profissionais para atendimento da comunidade. Contatos para mais informações podem ser feitos nas Secretarias de Saúde ou Assistência Social, variando conforme o município.
SAÚDE

Equipes estão prontas para prestar apoio Foto: Divulgação TP

Um trabalho intensificado está sendo pensado pela equipe da Secretaria de Saúde de Candiota, com foco principal na implantação de um Centro de Saúde Mental. Conforme já anunciado pelo Tribuna do Pampa, o centro será na rua Acácio das Neves, no centro de Candiota, local que sediou o Comitê de Operações Emergenciais (COE) com atendimentos a pacientes com Covid-19. Originalmente, o imóvel construído pela Companhia Riograndense de Mineração (CRM) e repassado em comodato à
Prefeitura, foi idealizado como um Centro de Eventos, mas deverá ter outra finalidade nos próximos meses.
Em entrevista ao jornal, o secretário de Saúde Fabrício Moraes, o Bibi, explicou que o Executivo está com uma grande preocupação quanto ao tema e que o Centro de Saúde mental é uma meta para acolhimento. “Costumo dizer que vencemos a pandemia, mas agora precisamos vencer esse novo momento pós-pandemia. O nosso projeto tem o objetivo de tratar essas pessoas que ficaram isoladas, longe de amigos e atividades que faziam bem para a saúde mental. Assumimos o governo em meio a pandemia e já tínhamos essa preocupação e com isso, pois a depressão é silenciosa e no mínimo dobramos o número de atendimentos com psicólogos, levando a todas as comunidades, inclusive nos assentamentos e contratamos psiquiatra já no início do governo. Nós temos que ir até o problema, dificilmente ele chega até nós. Pensando nisso levamos psicólogos também para o interior, temos no 20 de Agosto e no 8 que é o centro das localidades, o coração da zona rural”, expôs Bibi, destacando saber que o Centro vai acrescentar muito por ser especializado, que irá também contar com outros tipos de atividades, inclusive físicas, além de receberem orientações para atividades domiciliares.
Quanto à procura por atendimentos, o gestor disse que há filas de espera, mas que basta procurar a Secretaria de Saúde ou uma unidade para passar por triagem e entrar para a lista dos atendimentos.
O jornal também conversou com a psicóloga e coordenadora da Saúde Mental de Candiota, Carla Aguzzi, que disse que voltar à normalidade está tendo um custo psicológico para a população. “Nesse período pós-pandemia já pudemos perceber que houve um aumento significativo de procura por atendimento psicológico e psiquiátrico. A depressão é considerada o mal do século, mas nesse período os casos vêm aumentando. Costumamos tratar o físico e não o emocional. A sociedade moderna, a internet, afastou o abraço, o olho no olho, tão necessário e cientificamente comprovado, que precisamos do toque e do acolhimento. As pessoas ficaram com medo da morte”, relatou, ressaltando aumento de síndrome do pânico, ansiedade e depressão, pois as pessoas não souberam lidar com o ambiente externo após a pandemia.
Quanto ao aumento no número de jovens que procuram atendimento, Carla faz referência ao uso abusivo de substâncias psicoativas como álcool e drogas. “Esse é um fator de extrema importância que também estamos trabalhando na prevenção, pois quanto mais jovem iniciar, maior a probabilidade de dependência química, depressão, e psicoses. Constantemente precisamos fazer encaminhamentos de internações”, explicou.
CENTRO DE SAÚDE MENTAL
O espaço que abrigará o Centro de Saúde Mental já passou por pintura externa, troca de luminárias e organização do acesso, por exemplo. Segundo o secretário, o prédio vai receber salas por meio de um projeto arquitetônico, onde cada espaço terá uma atenção especial tanto com cores como com mobiliários. “Já temos emendas parlamentares conquistadas que vão chegar e parte delas serão destinadas para a Saúde Mental. Nosso cronograma prevê inauguração do espaço para o Setembro Amarelo, vamos trabalhar fortemente para isso”, relatou Fabrício.
O Centro contará com atividades físicas orientadas, yoga, oficinas, atendimento psicológico além de todas as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS). “A ideia é fazer o acolhimento das pessoas, tentar transferi-las do consultório médico para o nosso centro de orientação. Ainda, haverá um espaço especial para pessoas com autismo e suas famílias, que servirá para orientações e cuidados”.
COMO VAI VOCÊ?
O Centro de Valorização da Vida (CVV), fundado em São Paulo, em 1962, é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal desde 1973. Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar – sob total sigilo e anonimato.
Os contatos com o CVV são feitos pelos telefones 188 (24h e sem custo de ligação) ou pelo site www.cvv.org.br, por chat e e-mail. Nestes canais, são realizados mais de dois milhões de atendimentos anuais, por aproximadamente 3,4 mil voluntários, localizados em 24 estados mais o Distrito Federal.
Além dos atendimentos, o CVV desenvolve, em todo o país, outras atividades relacionadas a apoio emocional, com ações abertas à comunidade que estimulam o autoconhecimento e melhor convivência em grupo e consigo mesmo.
JORNALISMO
O jornal Tribuna do Pampa adota uma postura de muita cautela na divulgação desses casos, sem, obviamente deixar de abordar, por dever de ofício. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a maneira como os meios de comunicação tratam casos de suicídio pode influenciar outras pessoas, se tornando um gatilho. Neste sentido, que sempre junto à notícia, divulgamos formas de auxílio e como ajudar as pessoas que se encontram nessa situação delicada.
Nesta semana, quando questionado sobre divulgações de casos de suicídios, o delegado da Polícia Civil Cristiano Ritta, falou que “é mais um problema de saúde pública do que segurança e evitam noticiar para não servir de gatilho para outras pessoas”.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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