SÉRIE DE ENTREVISTAS

Será um governo de continuidade, mas de mudanças, avisa Adriano dos Santos

O prefeito eleito de Candiota também pretende, entre outras ações, contratar uma consultoria para avaliar o trabalho realizado pelas secretarias municipais

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A série de entrevistas que o Jornal Tribuna do Pampa está publicando com os prefeitos eleitos da região encerrou nesta sexta-feira, 28. A última entrevista do especial é com Adriano dos Santos (PT), que governará a Capital Nacional do Carvão a partir de janeiro de 2017 a dezembro de 2020. O bageense, de 41 anos, se elegeu prefeito de Candiota com 2.974 votos (43,59%). Segundo ele, é um governo novo, mas os candiotenses podem ficar tranquilos. “Temos uma equipe muito boa para gestionar o município pelos próximos quatros anos. Vamos estar muito próximos da comunidade, até porque a gente vai querer fazer a construção coletiva, debate do orçamento do município e nós vamos lançar já nos primeiros três meses de governo algumas prioridades, como a manutenção das nossas estradas e a limpeza urbana”, comenta. Também está nos planos do novo chefe do Executivo firmar parceria para solucionar o problema da iluminação pública, assim como debater com a comunidade e tentar inserir no orçamento participativo a construção de calçadas, a fim de embelezar a cidade.

O item empreendedorismo receberá atenção especial da futura administração municipal. “Vamos focar muito no empreendedorismo, buscando o nosso comércio, nossas indústrias, nossas empresas locais, para fazermos um grande debate”, destaca o novo prefeito. De acordo com ele, a intenção é que a cidade possa se desenvolva economicamente através do aperfeiçoamento dos negócios já existentes no município.

Outra ação que Adriano pretende colocar em prática é a contratação de uma consultoria para que a mesma avalie como as secretarias municipais estão desenvolvendo seus trabalhos. “O prefeito é avaliado o tempo inteiro por toda a população. Os secretários também vão passar por isso. Vamos estabelecer metas e objetivos para, dentro de um ano, serem alcançados. Depois vamos avaliar isso com a pesquisa, com a população, para termos um termômetro. Assim que a gente consegue enfrentar a questão da gestão pública. Educação, saúde é o básico que tem que ser feito por uma administração. O que a gente tem que avaliar é se isso está sendo bem feito”, ressalta.

Adriano é formado em Direito pela Universidade da Região da Campanha (Urcamp). Nasceu na Rainha da Fronteira e ainda bebê veio morar em Candiota com os pais. Antes de entrar para a política, o prefeito eleito trabalhou como garçom, repórter, entregador e vendedor de jornais, supridor de supermercados e ainda administrou restaurante. Na vida pública, enfrentou dois pleitos para vereador, porém não se elegeu em nenhum. No governo Folador, atuou como coordenador de Regularização Fundiária, junto à Procuradoria Jurídica, e foi chefe de Gabinete e secretário municipal de Educação.

O petista, que integra a coligação PT, PTB, PSB e PCdoB, agradece ao atual prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador (PT), pela oportunidade e declara que nunca teve pretensão de governar a cidade. “Foi uma construção de vida. Não seria o candidato se não tivesse a unificação do partido”, afirma o marido da professora de Educação Física, Adriana Langort, com quem tem uma filha de 10 meses, a Luíza, e uma filha do coração (enteada), a Isadora, de 8 anos, a qual se emociona muito ao falar.

 

TP: Qual a explicação para uma vitória com mais de mil votos de diferença diante de adversários fortes como os que o senhor enfrentou?

Adriano dos Santos: Primeiramente, a gente quer agradecer a comunidade por esse expressivo resultado das urnas. Acho que surpreendeu muito gente. Os analistas políticos tinham ideia que a diferença seria pequena e, na realidade, a diferença foi realmente expressiva para uma eleição diferente, porque temos uma mudança. Tivemos um governo de excelência, que está fechando agora os oito anos, que é governo (Luiz Carlos) Folador (PT), e encerrando o governo dele, viria algo novo. É um novo governo. É uma nova oportunidade que acho que colocou esse cenário de três candidaturas. Todos esperavam ter a oportunidade de entrar no governo de Candiota. Então, nos bastidores da política se pensava que a diferença seria pouca, mas realmente eu acredito que o que levou a esse resultado foi a esperança da população de continuidade de um projeto de excelência e com a expectativa de mudança, que foi o que dominou as urnas em toda a nossa região. Apesar da força política dos adversários, também representamos a renovação da política.

 

adriano-dos-santos-16TP: O prefeito Folador governou com o apoio dos governos federal e estadual. Sua realidade é outra. Como o senhor pretende buscar apoio em Brasília e Porto Alegre?

Adriano dos Santos: Temos hoje muitos deputados federais e estaduais, inclusive muitos vieram apoiar a nossa campanha, dos partidos aliados e a bancada do PT. Conseguimos entrar em contato com deputados federais e fazer uma força-tarefa para buscar emendas para o município. Independente da situação hoje de o Partidos dos Trabalhadores (PT) não estar à frente do projeto federal e estadual, nós temos partidos aliados que vão nos ajudar muito. E a presença do prefeito Luiz Carlos Folador nestes últimos anos na presidência da Famurs (Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul) e todo o trabalho realizado aqui na região, abre muitas portas para o município de Candiota. Não tenho dúvida. Inclusive, nós estamos visitando, a convite dos deputados, todos os ministérios em Brasília, acompanhado dos deputados da nossa bancada. Um convite deles para abrir portas de programas para Candiota, independente da mudança, de não estarmos com a representação à frente do Executivo nacional e estadual. Dificuldades teremos, mas eu acho que, numa situação de crise que está o país, todos os municípios estão com dificuldades e os governos estadual e federal também, a situação não vai ser fácil para ninguém. Mas também na crise a gente tem que se modificar e criar propostas novas de trabalho, que foi uma coisa que a gente colocou dentro do nosso programa de governo. Ideias caseiras, com propostas locais de desenvolvimento e que a gente consiga superar essa crise com a prata da casa, com ideias que a gente construa em nível de região.

Independente da questão da crise, já temos uma previsão de investimentos para o ano que vem, garantido de programas R$ 10 milhões (recursos federais e vinculados). Isso não é pouco para um primeiro ano de governo. Recursos para serem aplicados nas áreas da educação, saúde, saneamento, água e esporte. A quadra da Oito de Agosto (assentamento) é um deles. Obras a serem licitadas, que já estão empenhadas. Então, Candiota, apesar da dificuldade, entra em outra realidade, num cenário diferente. Mas é um governo novo numa situação de crise, onde todos nós teremos que ser responsáveis e tratar de forma séria a questão da gestão, inclusive reduzir gastos públicos.

 

TP: Em seu plano de governo, o senhor admite que a rodovia Miguel Arlindo Câmara (MAC) é um problema do município e promete recuperá-la trecho a trecho. Explique melhor como é esse plano de recuperação da principal via de acesso à cidade?

Adriano dos Santos: A MAC agora ela está sendo feita através de uma parceria público-privada. A questão de fazer a MAC trecho a trecho é uma questão de responsabilidade. Se nós formos fazer a MAC hoje, ela não é menos de R$ 10 milhões. Isso dentro do orçamento do município é quase um terço. Num orçamento que é gasto mais de 45% dele com mão de obra, 25% com educação e 15% com saúde, não sobra esse valor para investir na MAC. Então, para fazer a MAC de forma responsável, temos que buscar parcerias público-privadas (PPPs) e, ao mesmo tempo, buscar recursos e fazer licitações trecho a trecho dela, de forma responsável e definitiva. E também seguir fazendo a pavimentação das áreas urbanas onde ainda não têm. Já estamos buscando programas e projetos para isso. Alguma coisa já está encaminhada dentro dos R$ 10 milhões.

Temos o Cideja (Consorcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental dos Municípios da Bacia do Rio Jaguarão), que tem sido um grande instrumento de desenvolvimento regional. Não tenho dúvida que, através do Cideja, a gente consiga adquirir uma usina de asfalto, não só para contemplar Candiota, mas para contemplar os municípios que fazem parte do consórcio e que também necessitam desse serviço dentro de suas comunidades.

 

TP: A qualidade da água e sua distribuição são gargalos a enfrentar. A criação de uma autarquia resolverá isso?

Adriano dos Santos: Temos hoje a previsão da construção de uma hidráulica nova na sede do município. Acredito que por aí a gente consiga já dar um passo grandíssimo na questão do fornecimento de água, tanto aqui na cidade quanto no meio rural que já está sendo levado às adutoras. A autarquia é a gestão da água. É nós termos definitivamente resolvido o problema. O serviço, o município não vai deixar de fazer, enquanto a autarquia não for criada. A autarquia vai ser criada como um órgão gestor ligado ao município. Já estamos debatendo de que forma vamos fazer a criação dessa autarquia, até porque ela está prevista no plano de águas do município de Candiota. Até a mesma ser criada, o serviço continuará sendo mantido e qualificado pelo município da forma que deve ser.

 

TP: Como será a montagem do seu governo e qual o papel terá o vice-prefeito Gil Deison Pereira (PTB)?

Adriano dos Santos: Estamos agora preparando a transição até porque, independente de sermos a continuidade, somos um governo novo. Tem pessoas novas envolvidas no projeto que foi criado e hoje o Deison faz parte de todo esse debate. Estamos participando de um movimento contra a privatização da CRM, um movimento pró-carvão, é o Deison ele não é o vice, ele é protagonista, junto com a gente, desse projeto. A visão que eu tenho do vice é a mesma que eu tenho do meu nome para prefeito. O Deison vai ter um papel não só de vice, como conhecido por aí que fica no bastidor da política, decorativo, mas de protagonista do projeto. Hoje, estamos discutindo a possibilidade, inclusive, e vamos fazer alguns reconhecimentos em nível de Estado, do orçamento participativo. E o Deison vai junto, talvez até como a figura que vai fazer a implantação desse processo do orçamento. Claro que é algo que vamos conversar ainda com a equipe para debater, mas ele é partícipe de todo esse projeto. Todas as discussões políticas também vão passar pelo vice, como também vão passar pelos partidos aliados.

A nossa transição está acontecendo agora, onde vamos reconhecer o que nós vamos assumir. Apesar de ser uma sucessão, montamos uma equipe de transição, que não debatemos os nomes ainda, mas eu e o Deison somos as principais figuras dessa equipe. Vamos criar essa equipe de transição para acompanhar o governo até o fim, para nos colocarmos a par de todas as situações que enfrentaremos a partir do ano que vem, mas passaremos a debater a questão de governo a partir de 2017, como um governo novo. Não podemos hoje começar a atrelar pessoas a secretarias que ainda não são nossas. Temos uma carta pública, quando a gente fez a composição dos partidos, onde cada partido tem uma secretaria, dos partidos que compõem o governo. A partir de 2017, iremos debater com eles como vai ser essa composição e vermos quem serão as pessoas que eles vão indicar para essas funções. Pretendemos (em termos de gestão) mudar para melhor efetividade dos serviços públicos, que realmente eles cheguem aos nossos cidadãos como nossos cidadãos precisam.

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