* Luiz Fernando Mainardi
Em 2021, em um ato nada mais que ideológico, o governador Eduardo Leite presenteou a empresa privada de energia elétrica Equatorial com a CEEE, vendendo a superavitária estatal gaúcha por apenas R$ 100 mil. Esta ação neoliberal, da privatização pela privatização, sem uma explicação técnica lógica para ser feita, é algo que vai na contramão do mundo, quando vemos a reestatização de empresas de serviços essenciais ocorrendo nos principais países do globo.
E serviços essenciais precisam, obrigatoriamente, ficar na mão do estado. Isso porque a empresa privada, por óbvio e por direito, só pensa no lucro – e na maximização dele. O serviço sempre fica em segundo plano. A CEEE tinha problemas? Claro que sim, mas nada que se compare ao caos que se vive hoje com a Equatorial. A empresa diminuiu drasticamente o seu quadro de funcionários, substituindo colaboradores experientes por terceirizados, eno que diz respeito a melhoramentos de rede, não se vê efetivamente um investimento que conduza a uma melhoria no serviço.
O que vive hoje a Região Metropolitana é um cenário de cotidiano em outras regiões do estado, como a Campanha, principalmente nas localidades rurais:um serviço instável até mesmo com uma leve garoa, com demora no reestabelecimento da energia e, tão grave quanto, sem dar retorno aos consumidores, que ficam no escuro da energia e das respostas.
O grande problema de se tomar uma decisão cega, descriteriosa e ideológica, como Eduardo Leite e seus deputados de base fizeram ao privatizar a CEEE, é que a conta sempre chega e as contradições ficam evidentes. Depois da privatização sempre vem a hipocrisia. Hoje, na enxurrada de reclamações, principalmente vindas do principal cliente da Equatorial, a cidade de Porto Alegre, Eduardo Leite se faz de desentendido, quer denunciar a empresa à Aneel e até ameaça cassar sua concessão, tudo isso como se ele, Eduardo Leite, não fosse responsável por este caos.
Uma CPI se faz necessária para que possamos trazer à luz as entranhas do que ocorre na Equatorial. Quais as responsabilidades efetivamente a empresa tem nesta concessão? Quais obrigações a Equatorial tem no âmbito dos investimentos? Qual o tamanho do seu quadro de funcionários e suas respectivas qualificações? São algumas perguntas que precisam de respostas para que possamos, de fato, cobrá-la.Deve-se dizer que o debate não é a reestatização da empresa, neste momento, mas de garantir que o serviço seja prestado adequadamente. A população gaúcha merece transparência, mas, acima de tudo, merece um serviço de qualidade.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*