RESPEITÁVEL PÚBLICO

Vida circense: jovem pinheirense escolheu fazer da estrada seu lar

Tiarles deixou sua cidade e foi viver o sonho de trabalhar no circo

O jovem está trabalhando com o circo Fox há mais de um ano Foto: Sabrina Monteiro TP

Você já deve ter se perguntado inúmeras vezes como será a vida no circo, se as crianças estudam, se eles apenas viajam sem destino certo e como se preparam para os espetáculos. Por isso, nesta edição vamos contar um pouco da história e da rotina do jovem Tiarles Garcia, 18 anos, que resolveu seguir o sonho e saiu de Pinheiro Machado para trabalhar no circo Fox, que nesta semana está com o seu espetáculo em Candiota, na sede do município.

Vindo do Estado do Paraná, o circo Fox é uma companhia familiar que está espalhada por todo o Brasil e com diferentes nomes, mas todos são irmãos, sobrinhos, tios, netos e por aí vai. Em conversa, Tiarles contou que o Fox veio da cidade de Boa Esperança, mas viajam o ano todo e suas casas são trailers, ônibus, motorhome e carretas. A equipe de trabalho atualmente é composta por 32 pessoas, sendo algumas agregadas como é o caso dele, mas a maioria é família mesmo.

Ao ser questionado sobre o tempo que ficam em cada lugar, ele respondeu que depende do tamanho da cidade. “Quando a cidade é pequena geralmente ficamos quatro dias, e quando é maior ficamos por um mês, mas tudo sempre depende do movimento”.

 

COMO COMEÇOU

Tiarles realiza diversos números durante as apresentações Foto: Divulgação TP

Sobre o início na vida circense, o jovem respondeu que sempre sonhou com isso, mas que na região o trabalho não é muito reconhecido e isso acabou dificultando o processo. “Meus pais sempre foram amigos de pessoas que trabalham em circo, e eu sempre amei tudo isso e acabei aprendendo algumas coisas”, contou, dizendo que conheceu o Fox durante a pandemia e pediu uma oportunidade, que lhe foi dada. “Faz mais de um ano e meio que eu moro no circo, e eu saí de Pinheiro com essa oportunidade de mostrar o meu talento para o Rio Grande do Sul e para o Brasil todo”.

Em relação a rotina de ensaio, ele disse que um roteiro é criado e mostra todos os números que serão apresentados no dia do espetáculo, e a preparação é feita uma hora antes do público chegar. “Cada um tem a sua posição, como o bilheteiro, na lanchonete para atender e fazer as comidas, o nosso sonoplasta, os artistas, vendedores e porteiros”, explicou, dizendo que é trapezista e que faz lira americana, tecido acrobático e um número no chão com bambolês, rodando mais de 40 de uma só vez. “Eu aprendi a fazer muita coisa no Grupo Tholl, onde trabalhei algumas vezes com eles e assim ganhei experiência”, comentou.

 

ENSINO

 

Uma das partes mais curiosas é saber como que os jovens fazem para estudar, se precisam realizar matrículas em cada cidade que passam ou se optam pelo ensino em casa. Mas na verdade, existe uma lei que garante os direitos de quem trabalha e mora em circo, parques e de forma itinerante em geral. Por este motivo, em cada cidade em que o circo chega para apresentar seu trabalho, as crianças são matriculadas na escola durante aquele período, seja de um mês ou uma semana.

Mas você leitor deve estar se perguntando como eles aprendem desta forma, e segundo a resposta de Tiarles que também é estudante, em cada nova cidade os responsáveis pedem para que os professores apliquem trabalhos mais reforçados para eles, colocando um carimbo ou assinatura para comprovar que foi feito em uma escola e supervisionado, assim, eles conseguem apresentar nos próximos educandários o que já fizeram e aprenderam. “Algumas escolas não aceitam, mas é o nosso direito. Teve uma vez que acionaram o Conselho Tutelar, porque pensaram que nós não estudávamos, mas em toda a cidade fazemos uma nova matrícula”, explicou ele, contando que todos os finais de ano realizam um tipo de provão, do mesmo estilo daqueles que são aplicados para alunos que não conseguem alcançar a nota necessária durante o ano letivo.

 

DIFICULDADES

 

Ao ser questionado sobre as dificuldades encaradas ao longo dos dias, o jovem disse que são várias e que para trabalhar no circo precisa gostar muito do que faz, pois nem sempre o local escolhido para a parada é o que vai dar sucesso para eles.

“É muito difícil. Tem cidades que não nos fornecem energia, então o tempo que ficamos precisamos optar pelo uso do gerador para abastecer a estrutura do circo e mais os trailers e lugares que moramos, então acaba sendo muito gasto e precisamos ficar de olho para não deixar a máquina desligar. Eu amo muito, mas é preciso ser apaixonado mesmo para viver no circo”, relatou, dizendo que na hora do show tudo é lindo, mas que há muito trabalho por trás de tudo. “Mas nada paga a alegria de subir no palco, de levar a alegria para as pessoas e ver que eles estão gostando do nosso show. Então esse é o nosso pagamento, ver o povo feliz com a nossa apresentação, isso sim não tem preço”, destacou, dizendo que para ver os seus pais em período de trabalho, eles acabam indo em algumas cidades em que o circo está.

 

CANDIOTA

Em Candiota o espetáculo do circo Fox, de propriedade de Djalma Farias, teve sua estreia nesta quinta-feira (7), e encerra as apresentações no domingo. O valor do ingresso para criança é de R$10,00 e para adulto R$20,00.

Para a apresentação o grupo preparou diversos números tradicionais do circo, como trapezista, mágico, palhaço, globo da morte, números acrobáticos e ioiô chinês. Também terá personagens, mundo Disney, bolos fofos, Sonic, transformes e o Batman no globo da morte. Nesta sexta-feira (8), o show está marcado para às 20h30. No sábado para às 18h e também 20h30, e no domingo às 16h, 18h e 20h30. O próximo destino será Aceguá.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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