CLIMA

Neve e chuva congelada são registradas na região

Em Piratini, a população também registrou o fato

Em Piratini, a população também registrou o fato Foto: Divulgação TP

Nesta quarta-feira (4), a previsão anunciada nas plataformas digitais do Tribuna do Pampa através de conversa com os meteorologistas da Universidade Federal de Pelotas ainda na noite de segunda-feira acabou se confirmando. A partir da combinação de frio intenso e circulação de umidade, foi possível registrar a ocorrência de chuva congelada e neve em pequenos flocos nos municípios de Pinheiro Machado e Piratini.

Para Allef Matos, Fernando Rafael e Gabriel Cassol, que monitoram as estações meteorológicas de Pinheiro Machado e Herval, inicialmente a análise dava conta de que o fenômeno pudesse ocorrer entre o final da noite de terça-feira (3) e o início da madrugada de quarta-feira (4). Foram esses dados os responsáveis por deixar os acadêmicos em alerta e possibilitaram os registros in loco. Segundo informações, o modelo meteorológico ECMWF (utilizado nessas estações) foi o único que manteve em suas projeções a possibilidade de neve na região. A equipe fez vigília durante toda a madrugada no Parque Charrua, um dos dois locais de onde fazem o monitoramento em Pinheiro Machado, e acompanharam de perto as alterações das condições do tempo. Nesse período, os dados indicavam que a neve deveria ocorrer entre às 6h e às 8h da manhã. Apesar de algumas horas de atraso em relação à previsão inicial, o mérito das análises acabou sendo reconhecido e o fato ganhou repercussão nacional nos principais veículos de comunicação.

Conforme contaram ao TP, o conhecimento técnico permitiu que a equipe se deslocasse até a Serra dos Velleda, no interior do município, para acompanhar a chegada do fenômeno. “A Serra dos Velleda é um dos pontos mais altos da região, com altitudes que chegam a até 470m (20m mais alto que o Parque). Por ser um dos pontos mais altos e já na encosta da serra do sudeste, ela produz um efeito de levantamento orográfico da parcela de ar. O escoamento que vem de oeste ou sudoeste, ou seja, do interior da campanha ou do norte do Uruguai, quando chega ali é forçado a subir. Se tiver umidade, vai condensar e formar nuvens. Era essa a nossa esperança,” explicou Allef.

Somente por volta das 11h da manhã, as áreas de chuva que estavam em Candiota foram se aproximando e o grupo pode testemunhar a ocorrência do que tanto esperavam: era a chuva congelada dando os sinais de que a dedicação ao projeto havia dado resultado. “Em meio a essa chuva congelada começou a nevar também”, relataram. O fenômeno pode ser observado por cerca de 15 minutos e puderam registrar através de vídeos que agora circulam pelo Brasil.

Passada a euforia, o olhar dos estudantes voltou-se para outras localidades. “Novas áreas de chuva começaram se formar entre Santana do Livramento e Dom Pedrito e seguiram em direção a Bagé, Candiota e Pinheiro Machado. Pelo deslocamento dessas áreas (que vimos através do radar da aeronáutica) havia chance de pegar mais a região de Torrinhas e fomos pra lá”. Logo no início da tarde, durante os 30 minutos que estiveram lá, puderam testemunhar bastante chuva congelada.

Embora já estivessem satisfeitos com o que presenciaram, antes de voltar ao Parque Charrua, decidiram retornar à Serra dos Velledas na esperança de observar mais algum feito. “Ali pelas 14h30 testemunhamos mais um pouco de chuva congelada e neve fraca, até que começou a chover mais forte, dessa vez só chuva e com pouquíssimos grãos de gelo”, relataram.

A partir disso, conforme explicaram ao TP, o ar frio começou a ficar muito raso e nas camadas acima já estava mais quente – características que indicavam o seu derretimento e o fim do evento atípico. Para os jovens estudantes, a satisfação pelo ocorrido foi imensa. “A possibilidade não era grande, por ser um cenário um pouco limítrofe, mas acreditamos e viemos atrás. Quando as esperanças estavam acabando a natureza nos prestigiou e a querida neve veio nos visitar. Foi um momento mágico e inesquecível para todos nós”, concluíram.

SAIBA MAIS – O projeto, que começou em meados de 2016 e pode ser colocado em prática a partir de 2017, visa monitorar a região que é extremamente fria e tem o turismo pouco explorado – diferente da serra gaúcha que se utiliza bastante desse fenômeno climático. Segundo os acadêmicos, através das pesquisas já foi possível constatar que o inverno de Pinheiro Machado é tão frio quanto o de São José dos Ausentes, que é considerada a cidade mais fria do estado.

Comentários do Facebook