EDUCAÇÃO AMEAÇADA

Reitor da Unipampa espera que governo volte atrás em decisão

Reitoria diz estar preocupada com o futuro da universidade Foto: J. André TP

Na manhã da última quarta-feira (7), o rei­tor da Universidade Federal do Pampa (Unipam­pa), Marco Antônio Fon­toura Hansen, gentilmente recebeu em seu gabinete na Reitoria, no centro de Bagé, a reportagem do jornal Tri­buna do Pampa, para uma entrevista de cerca de 50 minutos.

Na oportunidade, Hansen esmiuçou e mostrou preocupação com o corte, que depois foi classifica­do de contingenciamento pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, de cerca de 30% no orçamento das universidades e institu­tos federais de todo o Brasil.

Além de falar sobre a redução orçamentária em si, que é da ordem de R$ 18,8 milhões, o reitor também abordou outros aspectos da jovem universidade criada em 2008, depois de uma intensa mobilização popular na região.

REFLEXOS DO CORTE – Indagado de que forma a medida do governo fe­deral atingiria a Unipampa e quais reflexos no campo do ensino, o reitor destaca que para a universidade está prevista uma retenção de recursos superior a 33%. Ele fez questão de explicar que o corte ou contingenciamento (nas palavras do ministro), é direcionado mais as verbas de custeio da instituição, ou seja, para o pagamento de terceirizados da limpe­za, segurança e motoristas, para energia elétrica, água, telefone, combustível, entre outras despesas. “Isso é o que mantêm a universidade em funcionamento”, enumera o reitor.

Hansen ressalta, que em 2016, a sua administra­ção já havia feito um corte de 27% na contratação de terceirizados, com dispensa de quase 130 pessoas. “Isso é um baque. Cada ação desta do governo, de redução, ela significa menos recursos que ficam na região”, alerta.

Além do corte no custeio, também houve já no passado, diminuição dos recursos de capital, que são aqueles destinados às obras e investimentos da universi­dade, como equipamentos. O reitor lembrou que a Uni­pampa é uma universidade jovem, possuindo 11 anos de fundação. Segundo ele, há muito que fazer em ter­mos de obras na Unipampa. “Quando eu assumi (final de 2015) dei prioridade para as obras em andamento, inclu­sive fazendo readequações: onde teria ar-condicionado, neste momento não teve e assim por diante”, lembra, evidenciando que o corte nesta área neste ano foi de 52% dos 8 milhões que es­tavam previstos. “Ficamos com R$ 4 milhões. Se divi­dirmos pelos 10 campi, por ano dá R$ 400 mil, e por mês dá um valor ínfimo de pouco mais de R$ 30 mil”.

Hansen ainda tem esperança de que a medida seja reavaliada pelo go­verno. “Porque se isso se concretizar, a universidade vai até setembro e não ha­verá mais recurso para nada. Não tem recursos para os laboratórios, para pesquisas, para deslocamento no caso da extensão. Então ao que se vê, é que a universidade não é apenas para forma­ção profissional, mas tem todo um contexto cultural, econômico e comunitário envolvido”, disse.

Ele descartou o fe­chamento de algum campus, porém é sincero em dizer que setores da universidade sofrerão paralisação, caso se mantenha a medida.

Ainda, o reitor ques­tionou o corte linear de 30% para todos. “A Unipampa, por exemplo, já fez seu dever de casa no passado e é injusto ser atin­gida com este per­centual”, reclama.

PRESSÃO ERRADA – O condicionamento da liberação dos recursos à apro­vação da reforma da Previdência, expressado pelo ministro da Edu­cação quando tro­cou a palavra corte por contingencio­namento, foi cri­ ticado pelo reitor. “Isso é uma pressão errada porque gera toda uma instabilidade nacional nestas instituições. Não há necessidade de uma contingência tão drástica, porque afeta todas as ações da universidade”, recrimina.

O reitor fez questão de enfatizar, que o que está colocado não é uma visão partidária ou contrária ao governo e sim de defesa da educação.

MOBILIZAÇÃO – Lem­brado pela reportagem que a Unipampa foi fruto de uma mobilização popular, quando em 2005, mais de 50 mil pessoas lotaram a praça Silveira Martins, em Bagé, o reitor afirma que caso o governo federal não se sensibilize, será sim ne­cessário uma mobilização da sociedade, salvo se entenda que educação não é funda­mental. “Este é um momento que vamos precisar de todo o mundo, de forma pluriparti­dária, porque está em jogo a educação”, convoca.

MARCO HISTÓRICO – Fa­lando da universidade em si, Marco Hansen avalia que a Unipampa estabeleceu um marco histórico na região a partir de sua fundação em 2008. Para ele, o papel inclusivo que a universidade desempenha é seu grande diferencial, formando pes­soas para que especialmente fiquem na região e ajudem no desenvolvimento local. “Aliás, o desenvolvimento regional é um dos nossos motes principais”, analisa, lembrando que ele, jun­tamente com a reitora da Universidade da Região da Campanha (Urcamp), Lia Quintana, trouxe o Centro de Desenvolvimento Regional, que é uma parceria entre o MEC e o Centro Brasilei­ro de Estudos Estratégicos (CGEE) – tendo sido criados apenas quatro polos no Brasil, sendo um deles em Bagé. “Isso resultará em proje­tos, que precisam ter início, meio e fim e voltados diretamente para as nossas comu­nidades”, explica.

O reitor lem­bra que o fato de a Unipampa possuir campus em Bagé, São Borja, Uruguaia­na, Itaqui, Santana do Livramento, Ale­grete, Caçapava do Sul, Dom Pedrito, São Gabriel e Ja­guarão, permite um entendimento, uma integra­ção e interface da região da fronteira como um todo, sen­do ele o presidente do Con­selho de Reitores da União Parlamentar do Mercosul. Além disso, a universidade está em todo o RS através do Ensino à Distância (EAD) – modalidade que ganhou força a partir do ano passa­do. “A Unipampa desde sua implantação só tem crescido. Somos mais de 15 mil alunos hoje”, evidencia.

O reitor também des­taca que após a implantação da Unipampa, os Índices de Desenvolvimento Humano e os Índices de Desenvolvimen­to da Educação Básica (IDHs e Idebs) da região, estão em evolução positiva. “Por isso, que o corte anunciado é muito complicado”, indica.

SAIR DOS MUROS – Um dos grandes desafios, de acordo com o reitor, é que a universidade saia dos seus muros e compartilhe o seu conhecimento com toda a sociedade. “Nós temos que mostrar os bons exemplos da Unipampa. Não podemos ser um ‘colegião’. Precisa­mos ser uma instituição que cumpra o que de fato diz a Constituição e estamos co­tidianamente fazendo isso”, atesta.

Reitor Marco Antônio Fontoura Hansen recebeu o TP na manhã de quarta-feira (7) Foto: J. André TP

GESTÃO – Com eleições para reitor marcadas para agosto deste ano, Marco Hansen, que possui um vasto currículo – sendo geólogo e doutor em Engenharia de Recursos Hídricos e Sane­amento Ambiental, além de expedições de pesquisas a Antártica e experiência também na iniciativa pri­vada-, diz que ainda avalia a possibilidade de concorrer à reeleição.

Falando um pouco de sua gestão, ele lembra que logo que assumiu, em dezem­bro de 2015, precisou criar ações de economia, porque em 2016 trabalhou com um orçamento de R$ 7 milhões a menos. “Assumimos com mais de 40 obras em anda­mento e muitas delas em es­queleto e outras no alicerce, sendo que, só não consegui­mos tocar e finalizar as que estão com alguma judiciali­zação. Procuramos sempre alavancar novos projetos de pesquisas, com novos grupos para o desenvolvimento da instituição e mais de 400 ações de extensão, como por exemplo, o projeto de codifi­cação de toda a arborização urbana – implantada poste­riormente em Nova York, e o Animacampus, com ações nos finais de semana, que envolvem a comunidade”, destaca.

Ainda, Hansen aludiu que o quadro de professores da Unipampa possui mais de 80% de doutores – que é um grande diferencial das demais instituições, que na grande maioria cumpre, se­gundo ele, apenas o mínimo de 30% exigido pelo MEC. “Estamos convictos que fi­zemos muito, porém há muito por fazer. Estou ainda avaliando o cenário para uma reeleição. O que fazer não falta e existe muita gente boa na Unipampa”, disse.

 

Comentários do Facebook