33 ANOS HULHA NEGRA

“Ainda temos problemas estruturais no município, mas hoje podemos dizer que vivemos bem”, destaca assentado

Arnaldo Ferreira começou no tambo com quatro vacas e atualmente possui 35 animais em lactação

Há quase 24 anos residindo no assentamento Banhado Grande, interior de Hulha Negra, Arnaldo da Silva Ferreira, de 50 anos, natural de São Gabriel é um exemplo de morador em meio a luta diária para sobrevivência e ascensão ao longo da história de emancipação da cidade. Ele, ao lado da esposa Luciane de Vargas Ferreira, natural de Formigueiro, acompanhou a evolução do município ao longo dos anos. O casal, que hoje é pai de Laura e Jonas e trabalhava em uma fazenda em 2001, ficou junto a outras 27 famílias, assentados no local. Destas, cerca de sete ainda permanecem nos lotes.

Arnaldo junto dos filhos e esposa Foto: Divulgação

O COMEÇO

Solicitado pela reportagem do Tribuna do Pampa a relembrar acerca da situação do município naquela época, fazendo uma comparação com a vida diária, Arnaldo usou o termo “terrível”. “Não tínhamos estradas, não tínhamos luz, não tínhamos casa, construí, em madeira, uma de dois metros e meio por cinco para viver. Carregava leite na chincha do cavalo por quase três quilômetros até as pontes lá debaixo. Naquela época a gente trocava por comida. Nunca passei fome, mas quase, um arroz e um beijão eu sempre tinha pra comer e um ovo frito, mas passei muita necessidade. Tinha dias, que antes de termos estradas, que eu fazia 4,5km a cavalo pra ir a Bagé para resolver alguma coisa, às vezes passava o dia inteiro para ir de ônibus e voltar, sem dinheiro e sem comer. Não foi nada fácil”, recorda.

SOBREVIVÊNCIA DO CAMPO

O produtor contou que todos os alimentos e sustento da família são originários do campo, que sempre plantaram tudo para comer. “Comecei com um tambinho de quatro vacas e com seis comprei a primeira ordenhadeira. Em 2017 montei a sala de ordenha com 15 vacas e hoje estou com 35 em lactação, só lido com leite. As plantações que faço, são milho para silagem, trevo para pastagens. Trabalho junto com minha filha, de 22 anos, que cursa Zootecnia em Dom Pedrito e tem o lote dela no Tapete Verde, mas com ligação com o nosso. Estamos finalizando a construção da sala de alimentação, conseguimos financiar e realizar esse sonho. Temos também horta, quinta de frutas, carne de gado, porco, galinhas, ovo, então praticamente tudo vem do campo. Hoje nossa vida é um paraíso, uma outra realidade, mas sempre com os pés no chão”.

Sustento da família é originário do tambo Foto: Divulgação

MELHORIAS DO MUNICÍPIO

Arnaldo disse ao jornal que em comparação com o que passou, que hoje se vive em um paraíso. “Hoje temos ônibus na porta de casa, mas cansei de levar minha filha por quilômetros de trator ou à cavalo para estudar. No meu ponto de vista tivemos uma grande evolução apesar de Hulha Negra ter muito o que melhorar quanto a estradas, quanto a água potável que temos uma grande dificuldade, pois no poço artesiano a água é salgada e fica difícil utilizar em algumas ocasiões”, destacou o assentado, acrescentando haver a necessidade de um olhar diferenciado para o interior por parte da Prefeitura.
Arnaldo conta que logo no início as dificuldades quase o levaram a desistir de ter seu próprio espaço no campo. “Sempre trabalhei de empregado, comecei a trabalhar com 11 anos e dizia que um dia ia trabalhar por conta própria, mas foi muito difícil, muita coisa faltava, tudo que difícil. Graças a Deus e ao nosso trabalho, assim como nosso sonho de ter e sobreviver do tambo, hoje estamos tranquilos, sempre trabalhamos muito e estamos felizes”, relatou fazendo também referência a equipe da Emater pelo suporte à família ao longo dos anos.

 

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