QUESTÃO ENERGÉTICA

Apesar de tímido, Plano Nacional de Energia 2050 inclui carvão mineral

Das 243 páginas do PNE 2050, apenas cinco são dedicadas à fonte

PNE 2050 foi lançado pelo ministro Bento Albuquerque (C) na última semana, em Brasília Foto: Divulgação MME/Especial TP

Foi lançado na última semana, pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em parceria com a Empresa de Pesquisa Ener­gética (EPE) o Plano Nacional de Energia – PNE 2050, um dos princi­pais instrumentos de planejamento do MME, na medida em que suas análises buscam modelar e analisar o impacto no horizonte de longo prazo de diferentes escolhas de política energética tomadas hoje. O objetivo, portanto, é auxiliar os tomadores de decisão num contexto em que as relações são muito complexas, as in­certezas e variáveis são abundantes, e, além disso, há a possibilidade de se deparar com eventos raros, inespe­rados e de grande magnitude.”Uma das principais mensagens que o PNE 2050 traz é a mudança de paradigma sobre a disponibilidade de recursos energéticos. A disponibilidade de recursos supera em muitas vezes as projeções mais otimistas de deman­da por energia para os próximos 30 anos. Temos a grande oportunidade de passar a sermos exportadores líquidos de energia!”, afirmou o Ministro Bento Albuquerque.

No que tange ao carvão mineral – ativo abundante na região e fundamental para a economia local -, foram dedicadas apenas cinco das 243 páginas do PNE 2050. Contudo, os analistas consideraram importante, pois já houve um tempo em o minério chegou a estar fora do planejamento estratégico energético de longo prazo no Brasil.

CARBOQUÍMICA – Afora o PNE tratar da descarbonização em capítu­lo específico – assunto debatido pelo mundo todo, o espaço dedicado ao carvão mineral traz a possibilidade de ampliação do setor com a car­boquímica, o que é alvissareiro. “A implantação de uma indústria carbo­química (envolvendo, basicamente, a produção de metanol, fertilizantes, combustíveis e olefinas) a partir da transformação do carvão em gás de síntese (syngas) é outra possibilidade aberta ao carvão nacional. A porta de entrada nessa indústria é a gasei­ficação do carvão em larga escala, para a qual vem sendo aprimorada tecnologia adequada ao carvão com características semelhantes às do carvão brasileiro. Nesse sentido, o Rio Grande do Sul, por meio da lei 15.047/2017, criou a Política Esta­dual do Carvão Mineral e instituiu o Polo Carboquímico no Estado”, destaca o texto.

MODERNIZAÇÃO O PNE 2050 ainda traz a iniciativa do governo federal em instituir, desde 2017, um Grupo de Trabalho (GT) Interminis­terial para o carvão mineral nacional.

Estabeleceu-se que, no âmbito do GT, medidas propositivas relaciona­das ao carvão mineral deveriam ter como características: sinalização de longo prazo, de modo a viabilizar de­cisões de investimentos; foco na mo­dernização do parque termelétrico a carvão mineral nacional; ausência de ônus para o Estado; medidas de cunho horizontal; adoção de tecno­logias ambientalmente apropriadas na atividade de mineração; revisão de descontos tarifários para as fontes incentivadas; e não concessão de novos subsídios ao carvão mineral (e não estender os já existentes).

O GT concluiu ainda pela orientação de modernização do par­que termelétrico a carvão mineral nacional, centrada na substituição de usinas antigas e ineficientes (como exemplos as fases A e B da Usina de Candiota), que estão sendo descomissionadas pelo fim da vida útil, por plantas mais modernas, limpas e eficientes nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, permitindo a recuperação ambiental de áreas carboníferas degradadas.

MME sinaliza com modernização de térmicas a carvão

Usinas desativadas, como as fases A e B de Candiota, poderão ser substituídas por unidades modernas Foto: Arquivo TP

O Ministério de Minas e Energia (MME) pu­blicou nesta semana, duas portarias prevendo a criação de um grupo de trabalho (GT) para discutir a situação do complexo termelétrico Jorge Lacerda, em Santa Ca­tarina, e outra lançando um programa de modernização do parque térmico a carvão nacional. Segundo o Canal Energia, o GT terá prazo de 180 dias para analisar todos os aspectos relacionados à atividade carbonífera nos estados da região Sul, o que inclui desde a mineração à geração de energia elétrica.

O ministro de Minas e Energia, Bento Albu­querque, anunciou durante reunião na Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) na última sema­na, que o grupo deve apresentar nesse período ações a serem implementadas. Segundo Albuquerque, a “geração a carvão moderna” terá um papel na matriz elétrica nos próximos 30 anos. A fonte, como vimos, já foi incluída tanto no Plano Decenal quanto no Plano Nacional de Energia 2050.

O secretário de Planejamento e Desenvolvi­mento Energético do MME, Paulo Cesar Domingues, informou durante o evento que a discussão sobre Jorge Lacerda deve envolver não apenas o governo, mas to­dos os representantes da cadeia produtiva do carvão. A proposta é analisar os impactos de uma eventual decisão de Engie de desativar o complexo térmico de 857 MW. O presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral, Luiz Fernando Zancan, disse que a decisão deve impactar a economia de 15 municípios catarinenses.

O levantamento do grupo de trabalho tam­bém será usado na proposta de modernização do MME, explicou Domingues. A portaria que cria o programa prevê a concessão de incentivos para man­ter a atividade de produção de energia e a mineração. O governo pretende, com isso, dar uma sinalização de longo prazo e uma demonstração de que tem inte­resse na fonte.

LEILÕES O MME publicou esse mês portaria com o calendário dos leilões até 2023. Para 2021 estão previstos dois certames de existente A-4 e A-5, des­tinados à substituição de térmicas a óleo cujos con­tratos vencerão nos próximos anos por usinas a gás e a carvão mineral nacional. Foram incluídos outros dois leilões de energia nova A-5 e A-6, onde também será possível a participação de empreendimentos a carvão.

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