Brizola na Legalidade

Semana passada foi celebrado o aniversário de Leonel Brizola, nascido em 22 de janeiro de 1922. Se vivo estivesse o Governador teria completado cento e três anos. Muitos registros foram feitos, como de costume, ano a ano. A coluna de hoje, então, vem para relembrar um acontecimento dos mais relevantes na história política brasileira, tendo sido Brizola foi o grande motor dele, qual seja: a Campanha da Legalidade.

Jânio Quadros renuncia à Presidência da República, registrando, para tanto, que o fazia por conta de “forças ocultas”, que impediam a continuação do seu governo – anos depois ele iria admitir que foi um blefe, pois acreditava que haveria comoção pela sua permanência. Nada houve. A “força oculta” era Carlos Lacerda, o “Corvo da Guanabara”. O mandato foi curto. Mas gerou consequências profundas na vida política brasileira.

Brizola resistiu. O país seguiu a reboque da sua investida democrática e constitucional…

João Goulart era o Vice-Presidente na época. Logo, por conta da cadeia de sucessão prevista no texto constitucional de 1946, era ele quem deveria assumir o posto máximo, a Presidência. Jango se encontra na China em missão oficial. E, diante da renúncia, retorna ao Brasil para se assentar na cadeira presidencial. Até aí tudo bem.

Porém, os apupos golpistas começaram a pipocar. Jango não poderia assumir consideradas as suas “tendências comunistas”, diziam. Era apenas um pretexto para subverter a ordem constitucional e impor um – mais um – golpe de Estado. Há relatos, inclusive, de que o Vice-Presidente, ao chegar ao Brasil, seria preso. Ou, pior, teria a sua vida cerceada. Tudo para estimular a vacância do posto máximo da República brasileira e, com isso, colocar em seu lugar alguém mais “agradável” aos intentos da “elite” civil e militar de então.

Brizola resistiu. O país seguiu a reboque da sua investida democrática e constitucional, comandada, mediante armas, trincheiras, povo na rua e discursos inflamados em cadeia nacional de rádio, desde a Sede do Governo Gaúcho. Era a Campanha da Legalidade.

Dione Kuhn bem expressa o fervor dos acontecimentos, a saber: “[…] as rádios divulgaram uma entrevista de Brizola dizendo que se fosse preciso reagiria à bala contra o golpe: Ninguém dará o golpe pelo telefone. O Rio Grande não aceita o golpe e a ele não se submeterá. […]. Constituição ou guerra civil. Estava lançada a Campanha da Legalidade”.

Ao longo de 11 dias, o Rio Grande esteve sintonizado na mesma frequência, acompanhando durante manhã, tarde e noite a evolução de uma crise que beirou a guerra civil. Transformado pela primeira vez no Estado em alavanca popular, o rádio foi o trunfo de Leonel Brizola. Sem o poder do microfone, o governador não teria aflorado da forma como aflorou, levando grande parte dos Generais do III Exército a se colocar ao lado da Constituição. Jango, no fim das contas, foi empossado no cargo de Presidente, ainda que tenha havido uma suavização dos seus poderes, mediante a instituição temporária do parlamentarismo – que cairia em 63. Evitara-se o golpe de Estado. Em 64, no entanto, a história seria diferente…

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