DE RENGUEAR CUSCO

Compra de nobreaks ainda é necessidade da Sigma Meteorologia para garantir registros de temperatura

Quedas de energia podem comprometer informações captadas pelas estações meteorológicas

Apesar do inverno ter começado essa semana, as cenas de congelamento e frio intenso já têm sido registradas Foto: Leomar Garcia/Especial TP

Que o frio já está de “renguear cusco”, como diz o gaúcho, isso ninguém tem dúvida. Afinal, já foram vários dias sentindo na pele as baixas temperaturas. Mas foi apenas às 6h14 desta terça-feira (21) que o inverno começou oficialmente. A estação mais fria do ano se estende até 22 de setembro, com o equinócio da primavera.

Na região, conforme apurou a reportagem do Tribuna do Pampa, a equipe da Sigma Meteorologia já está de prontidão para mais uma vez fazer os registros de um dos municípios mais frios do Rio Grande do Sul. No último domingo (19), segundo levantamento da MetSul Meteorologia, 38 cidades gaúchas registraram temperaturas negativas, e Pinheiro Machado liderou a lista com -6,6 graus, mais uma vez superando São José dos Ausentes, conhecido como o município mais frio do Estado.

SIGMA – Para quem não lembra, a instalação das estações meteorológicas – e da possibilidade de comprovar o frio pinheirense – começou com um projeto de estudantes do curso de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Eles viam potencial aqui e necessidade de empreender um olhar atento ao que a população e os visitantes já conseguiam sentir, literalmente, na pele. Depois o projeto virou empresa e, atualmente, se mantém graças à parceria dos envolvidos.

Segundo informado, a Sigma conta com duas estações meteorológicas em Pelotas (uma na área urbana e outra no interior), duas em Pinheiro Machado (na Serra do Veleda e no Curral de Pedras), uma em Pedras Altas (no Passo da Areia) e outra em Herval (na Guarda Nova).

Na foto, o meteorologista Fernando Rafael com uma das estações meteorológicas instaladas no interior pinheirense Foto: Divulgação TP

EQUIPAMENTOS – Em conversa com o meteorologista Fernando Rafael, a demanda mais urgente para garantir a continuidade dos registros de dados das estações meteorológicas instaladas na região é a aquisição de nobreaks. Tratam-se de dispositivos de proteção, movidos à bateria, que protegem equipamentos eletrônicos em caso de quedas ou variações de eletricidade, funcionando como fonte de alimentação.

“Pinheiro Machado tem um problema muito grande com queda e desabastecimento de energia e a gente acaba perdendo muito dado em função disso. Para manter uma estação ligada, se não for autônoma como não é o caso das nossas, o jeito é usar pilhas, mas seria um consumo muito alto porque às vezes falta energia por muitas horas seguidas. É comum na Serra do Veleda ficar um ou dois dias sem luz e aí não tem pilha que dê conta. O nobreak não iria aguentar todo esse tempo, mas ele nos fornece autonomia de cinco ou seis horas pelo menos”, explicou o profissional.

Ainda segundo contou, o investimento mais recente foi realizado ainda no ano passado, com a instalação de um novo transmissor de dados na estação meteorológica do Curral de Pedras. Além disso, um primeiro contato já foi estabelecido com o Poder Público, através do vice-prefeito Rogério Moura, que ficou de dar um retorno sobre a possibilidade de investir no projeto.

DADOS – Nesta semana, a partir de dados coletados nas estações meteorológicas em Pinheiro Machado, Fernando aproveitou para abordar a importância de se obter esse tipo de registro e de levar em consideração as características geográficas de cada região. “No Curral de Pedras (baixada), nesta segunda-feira, registramos -5,9 graus; no domingo, -6,6 graus. Já na Serra do Veleda (local alto e descampado), os registros foram de 6,3 graus e 3,1 graus positivos. Há uma diferença de temperatura de 12,2 graus e 9,7 graus, respectivamente, dentro do mesmo município. Temos aqui o material para provar que sim, micrometeorologia existe, e muitas pessoas sentem essas diferenças de temperatura na pele e dia a dia, conforme varia a tipologia do relevo e as condições meteorológicas presentes. Precisamos de mais monitoramento para quebrar paradigmas e trazer informações técnicas com o intuito de possibilitar o conhecimento da população sobre o fato de que essas diferenças ocorrem sim muitas vezes ao ano, porque ainda tem muita gente que duvida”, enfatizou. Conforme lembrou, os estudos meteorológicos podem impactar positivamente em áreas como o turismo e agricultura.

O INVERNO – Questionado sobre o inverno recém iniciado, o meteorologista explicou que – apesar do astronômico só ter começado nesse dia 21, o climático já estava padrão antes mesmo do mês de junho. “Esse vai ser um mês mais frio que comumente acontece em junho observado na média; o mês de julho dever ser dentro da média, com alguns episódios mais fortes de frio, intercalados com períodos mais quentes; e agosto poder ser comum termos dias mais quentes que o normal. Com relação às chuvas, junho e julho serão ligeiramente abaixo da média; enquanto agosto e setembro mais próximos da média. Não vai ser um inverno muito chuvoso, o que é preocupante e pode agravar os quadros de estiagem. Embora venha se observando dias mais úmidos e com mais ocorrência de nevoeiros na nossa região, o inverno deve ser ligeiramente com chuvas um pouco abaixo da média”, resumiu Fernando – lembrando que ocorrências de geada e neve não há como prever com tanta antecedência.

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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