
O diretório nacional esteve reunido na quarta-feira (17), em Brasília, quando tomou a decisão de abrir um processo contra os oito deputados que descumpriram a orientação Foto: Alexandre Amarante/Especial TP
A Executiva Nacional do PDT, a Comissão de Ética e os presidentes dos Movimentos Sociais do PDT decidiram, na manhã da última quarta-feira (17), instaurar processo disciplinar contra os oito deputados federais que desrespeitaram decisão partidária e votaram a favor da reforma da Previdência em primeiro turno. Por decisão da maioria, os deputados também estão com suas representações partidárias suspensas até que o processo seja concluído – o que pode demorar até 60 dias.
A decisão vem na esteira da deliberação do Diretório Nacional do partido, reunido em março, que fechou questão por unanimidade contra a reforma apresentada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL). De acordo com o presidente nacional da legenda, Carlos Lupi, a decisão é soberana e representa todas as instâncias partidárias. O partido também deliberou que filiados que façam parte de grupos de financiamento externo não mais recebam legenda do PDT para disputar eleições. “O diretório nacional decidiu. Temos uma proposta paralela que Ciro Gomes (ex-candidato à presidência pelo partido) está nos ajudando a levar a todos os cantos do Brasil e que achamos que seja uma reforma justa. Todos tiveram todas as instâncias partidárias para discutir, apresentar propostas. E somente no dia da votação, depois de meses de discussões internas, os parlamentares se posicionaram a favor desta covardia contra os trabalhadores brasileiros. Mas é importante lembrar também que ainda terá uma segunda votação na Câmara, em agosto. O ser humano vive da evolução. E acho que todos podem evoluir durante esse processo”, previu Lupi.
Da bancada gaúcha de três deputados federais, apenas Marlon Santos votou a favor da reforma. Afonso Motta e Pompeo de Mattos seguiram a orientação partidária. O caso mais famoso de rebeldia foi da jovem deputada paulista Tabata Amaral, que era uma aposta futura dos trabalhistas.
Na região, o TP escutou as direções do PDT, sendo que o diretório de Candiota fechou questão no ano passado em apoiar o deputado Marlon Santos o único do PDT gaúcho a descumprir a orientação.
CANDIOTA – O presidente da sigla, secretário de Cultura do município, Sérgio Marques, assinalou que o diretório e a executiva municipal deliberaram sobre o assunto em reunião realizada no último domingo (14), adotando uma postura cautelosa sobre o tema.
Sérgio disse ao jornal que agora é necessário aguardar a decisão do diretório nacional durante o processo de investigação, porém a sigla em Candiota discorda de um processo de expulsão. “Isso seria um prêmio para os deputados que seguiram a orientação, pois eles ficam com o mandato, enfraquecendo nossa bancada federal e ainda retiram recursos do PDT do Fundo Partidário, bem como de emendas parlamentares. Defendendo que eles sejam punidos administrativamente, mas não expulsos”, assinala.
Quando ao deputado Marlon Santos, Sérgio Marques demonstra resignação, porém não esconde certa decepção. “Quando pactuamos o apoio do PDT local a ele, não havia nada em sua trajetória trabalhista que o desabonasse, além dele ter firmado apoio contra a privatização da CRM quando deputado estadual e de destinar recursos para o município. Mas os oito deputados terão uma segunda chance agora na votação do segundo turno da reforma”, disse.
PINHEIRO MACHADO – O presidente do PDT pinheirense, Fernando Martins, o Nonô, que possui forte ligação com o deputado federal Afonso Motta, foi sucinto e direto em relação ao que deve acontecer, dizendo que este assunto não foi debatido ainda internamente e que essa é uma opinião sua. “Entendo que é correta a atitude do partido. Existe uma decisão partidária que não foi seguida. Se tu tens uma ideia sobre qualquer assunto tens que debater dentro da instância partidária e se for derrotado segue a decisão da maioria. Isso é democracia”, analisa.
Para Nonô, a expulsão nesse caso seria o caminho correto. “Decisões partidárias têm que ser respeitadas. O político tem que ter ideia própria sobre qualquer assunto, mas deve debatê-las internamente, nas instâncias em debate, porque senão não precisa ter partido. Pra ser ideia própria, tem que ser candidatura avulsa. Os partidos políticos se tornam frágeis em razão de aceitarem decisões pessoais daqueles que possuem mandato eletivo. Um partido deve estar a serviço da coletividade e não a serviço de alguns. Filiação partidária é algo sério e alguns não entendem assim. Quando tu te filia a um partido tu pelo menos tem que conhecer o seu histórico de lutas, seja de direita ou de esquerda”, pontua, dizendo não ser contra uma reforma, porém contrário a essa apresentada, que prejudica os mais pobres.
PEDRAS ALTAS – A Executiva do partido em Pedras Altas também entende que expulsão é o caminho a ser seguido. Em nota ao TP, o partido expôs seu pensamento em relação ao assunto. “O partido deve expulsar quem não seguir as orientações, senão fica tudo sem sentido. As discordâncias devem ser internas e quando se chegar a um denominador, deverão ser cumpridas as decisões. O PDT discutiu isso a exaustão internamente e a orientação foi contrária à reforma. Aqueles que não seguirem, devem ser expulsos, pois o partido se comprometeu a votar em bloco”, assinala a nota.
HULHA NEGRA – O vice-prefeito de Hulha Negra e que preside o partido na cidade, Igor Canto, afirmou que se ele fosse o presidente em nível nacional, expulsaria os deputados que votaram a favor da reforma. Desconfiado que isso deve acontecer de fato, Igor fala com desencanto sobre a política no Brasil. “Se a coisa fosse séria mesmo, teria que expulsar. Mas tudo que gostaríamos que não tivesse acontecendo, está. Vimos os deputados recebendo recursos para votar a favor com o governo na reforma da Previdência”, disse.
O dirigente fez questão de frisar que o partido ainda não debateu internamente o tema e que a opinião expressada é pessoal.