PANDEMIA

Coronavírus muda rotina de candiotenses que moram no exterior

O mundo na luta contra a pandemia do coronavírus. Esse é o atual status em mais de 150 países. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), depois de ter sido identifi­cada pela primeira vez em dezem­bro de 2019, a covid-19 já causou mais de 15 mil mortes. Os últimos números mostram que mais de 325 mil pessoas foram diagnosticadas com a doença.

No Brasil, segundo dados divulgados neste domingo (22) pelo Ministério da Saúde, o nú­mero de mortes chegou a 25 e 1.546 pessoas haviam contraído a doença. Com a atualização, todos os estados brasileiros já possuem casos da pandemia que tem como principal característica o rápido contagio.

Diante do caos mundial, o que tem mudado consideravelmen­te é a rotina da população. O que os países tentam evitar é um colapso igual ao que acontece na Itália: somente no último sábado (21), o país registrou 793 vítimas fatais da covid-19. Segundo especialistas, evitar aglomerações é uma im­portante estratégia para diminuir a disseminação do vírus.

As adaptações estão acontecendo por todo lugar já há algumas se­manas. Neste final de semana, a reportagem do Tribuna do Pampa conversou com candiotenses que moram no exterior e vivem dife­rentes situações.

Michele Cougo – Toulouse, na França

Na época do registro, Michele Cougo aproveitava a liberdade pelas ruas da cidade francesa Foto: Divulgação TP

No país, segundo dados da OMS, até o último sábado (21) havia o registro de 12.475 casos da covid-19. Conforme contou a candiotense Michele Cougo, de 33 anos, que mora na França há mais de um ano, o presidente Emmanuel Macron fez um pronunciamento na quinta-feira (12) para suspender as ações nas escolas e tudo o que estivesse relacionado os público infantil. “Ele queria tentar mostrar para as pessoas que elas deveriam ficar mais em casa, mas ninguém mudou muito a rotina. Na sexta-feira (13), quando eu e meu companheiro fomos no mercado fazer compras para um fim de semana de acampamento, vimos várias prateleiras vazias, mas também não demos muita bola. Quando voltamos já ouvimos falar que as coisas realmente iriam mudar porque o número de mortos na França havia aumentado muito”, contou.

Foi então que as medidas para evitar a circulação de pessoas precisaram ser mais rígidas. “O presidente fez um novo pronunciamento onde não falou as palavras “confinamento” ou “quarentena”, mas disse seis vezes que a França está em guerra – uma guerra sanitária – e ele pediu para as pessoas ficarem em casa, explicou porque não devemos circular por aí e também afirmou que só existem quatro motivos para sair às ruas: saúde, trabalho (para os que não podem trabalhar em casa e isso tem que ser justificado por escrito), comprar coisas essenciais para vida (comida e medicamentos) e fazer esporte ou sair com os cachorros (desde que perto de casa)”, disse Michele.

Segundo ela, a partir daquele dia as pessoas só podem andar na rua com um atestado de deslocamento e, em caso de descumprimento da medida, há cobrança de multa. “Já no dia seguinte ao pronunciamento estava tudo vazio. Meu companheiro ainda foi trabalhar, mas ninguém queria mais sair de casa. Eu só tive coragem de sair no dia seguinte. Fiz meu atestado, fui andar de bicicleta e comprar comida. No mercado ainda pude entrar normal, mas alguns produtos já não tinham há alguns dias – como massa e ovos. Deu para perceber a tensão e o medo em algumas pessoas, aquele medo de se aproximar”, descreve a candiotense.

De acordo com Michele, com o passar dos dias a intensificação dos cuidados de higiene e para evitar o contato ficam mais nítidas. “Tem cada vez menos gente na rua. Nesses últimos dias, o mercado já restringiu acesso de seis pessoas por vez para fazer as compras e há também um número limitado de itens. As massas voltaram para as prateleiras, mas ovos ainda não. O transporte público diminuiu muito e os eventos há várias semanas já estavam sendo cancelados, primeiro com mais de mil pessoas e depois todos eles”, lembrou ela.

Michele, doutora em Ciências, se mudou para a cidade de Toulouse em dezembro de 2019. Para o TP, a jovem confessou que não tem a menor ideia de quando a situação vai melhorar por lá. Além disso, compartilha o sentimento de inquietação diante do fato da França estar com as fronteiras fechadas e não sabe quando vai poder visitar o Brasil. Antes do caos da covid-19, ela planejava visitar a família em maio, mas a única certeza que tem agora é que esperar o tempo passar dentro de casa é a única saída para não contrair o coronavírus e garantir as condições de saúde.

Dione Brião – Dublin, na Irlanda

Dione Brião destacou o cancelamento da festa mais tradicional da Irlanda Foto: Divulgação TP

Na Irlanda, conforme levantamento da OMS, até o último sábado (21) 683 pessoas haviam contraído a doença causada pelo novo coronavírus. Para a reportagem, Dione Brião, de 30 anos, contou como tem sido a rotina por lá. O candiotense mora no exterior há pouco mais de três anos e os primeiros registros de pessoas infectadas pela covid-19 ocorreram no início de março.

Conforme relato, o isolamento domiciliar já acontece há duas semanas e as medidas para evitar aglomerações foram levadas bastante a sério pela população. “As escolas, as lojas e os bares estão todos fechados. Só farmácias e supermercados ainda estão abertos por aqui, mas com número limitado de pessoas para evitar muito fluxo de pessoas ao mesmo tempo. Nesses locais, o que eu achei bem legal são as faixas no chão para que as pessoas mantenham certa distância umas das outras, tudo está bem sinalizado”, destacou.

Na Irlanda, quando saem de casa, as pessoas têm utilizado máscaras e os primeiros dias de restrições foram bem parecidos a outros diversos lugares pelo mundo: a população lotou os supermercados e se preocupou em adquirir muitos itens alimentícios para estocar em casa. “Isso aconteceu só no início, esvaziaram os mercados igual tem acontecido no Brasil. Depois acredito que as pessoas tenham se conscientizado e não estão comprando tanto, pelo menos os produtos não estão mais em falta aqui onde eu moro”, disse Dione.

Para ele, que possui um negócio na área da alimentação, a rotina tem continuado praticamente a mesma. “Eu tenho meu negócio aqui com um sócio, é uma espécie de fast food que vende cachorro-quente, então a nossa rotina nesse sentido não mudou muito. Todos o serviço tem sido feito por delivery e não temos nenhum tipo de contato físico com as pessoas, a maioria das empresas do gênero alimentício tem trabalhado assim aqui. O pagamento é online e o delivery deixa a comida na porta da casa do cliente, aperta a campainha e ele pega. Não tem essa de se cumprimentar e passar dinheiro, é tudo online mesmo”, descreveu.

Na última semana, conforme lembrou, aconteceria o tradicional St. Patrick’s Day (Dia de São Patrício). Segundo Dione, a data é tão importante para os irlandeses quanto o carnaval é para o Brasil. O coronavírus mexeu também com a cultura local. “Tem uma foto bem marcante desse evento no ano passado e nesse ano, é uma imagem da mesma rua e esse ano foi tudo cancelado. Onde tradicionalmente fica lotado pelos milhões de turistas que vem para cá, dessa vez não tinha ninguém na rua, a gente realmente fica com medo e só sai de casa se for muito necessário mesmo”, descreveu o candiotense.

Daniela Lacerda – Cidade do México

Daniela Lacerda conta sobre a tensão com as fronteiras do México ainda abertas Foto: Divulgação TP

Na capital do México, há quase dois anos, é onde mora a candiotense Daniela Lacerda, de 38 anos. A reportagem também fez contato com ela para saber as consequências do coronavírus e como tem sido a nova rotina diante de uma pandemia que exige que as pessoas fiquem isoladas. No país, até as últimas atualizações, pouco mais de 250 casos foram registrados.

“No princípio, lá no final de fevereiro com os primeiros casos da doença, nossa rotina foi manter os hábitos de higiene um pouco mais severos – o uso do álcool em gel para sair de casa, evitar aglomerações e evitar o uso do metrô. Conforme o aumento dos casos íamos ficando mais em casa, saídas somente a mercados, escola e trabalho. Agora estamos oficialmente de quarentena, inclusive fazemos o mercado online”, contou ela.

No México, as escolas e universidades começaram o recesso na última sexta-feira (20) e deve se estender até 20 de abril. Segundo Daniela, alguns professores estão buscando as plataformas online possibilitando atividades nesse período; muitas pessoas estão tendo a possibilidade de fazer seu trabalho home office e a partir desta segunda-feira (23) estão proibidos os eventos com aglomeração de pessoas. “Aqui as medidas do governo estão sendo tomadas no sentido de higienização dos metrôs e informativos, mas as fronteiras do país continuam abertas. Aeroportos também seguem funcionando e, segundo as autoridades, estão tendo os cuidados com as medidas sanitárias. Muitos voos daqui para o Brasil estão sendo cancelados, vejo casos de brasileiros que querem retornar ao país de origem e não estão conseguindo”, disse.

Para Daniela, quem está longe da família numa hora dessas se sente impotente. “Apesar disso, o melhor a fazer nesse momento é ficar onde estamos. É, de fato, uma situação triste. Nunca imaginamos que iríamos passar por isso, mas todos os familiares distantes estão levando os protocolos à risca: os que podem estão se mantendo em casa e isso nos deixa um pouco mais tranquilos. Também temos amigos brasileiros aqui e costumeiramente fazíamos encontros, que agora são apenas virtuais. Amigos mexicanos aderiram de fato a quarentena”, relatou a candiotense.

Segundo ela, de um modo geral, a sensação é de apreensão embora os números de pessoas que contraíram a covid-19 não seja tão alto se comparado a outros países da América. “Os Estados Unidos (EUA) já contabilizam 26 mil casos e isso faz com que a tensão aqui aumente devido o fluxo de pessoas que atravessam a fronteira diariamente. Também ficamos um pouco desconfiados pelos números que o governo nos apresenta, existem muitos estadunidenses que trabalham aqui e vice-versa, mas estamos procurando manter a calma. De certo modo, parece que a vida segue seu fluxo normal, temos aqui muitos mexicanos que trabalham na informalidade – o que nos faz crer que o governo está tentando evitar medidas maiores de contenção para não criar pânico e não prejudicar a economia local”, finaliza.

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