Despedidas

Lembro de vez em quando que o jovem Guilherme Arantes cantava “Toda aquela paz que eu tinha. Eu que tinha tudo…”. Cantava na mesma música “Não estou bem certo se ainda vou sorrir sem um traço de amargura”. Era um jovem se deparando com algumas amarguras da vida. Há momentos em que os jovens são mais dramáticos que os problemas em análise indicariam.
Quando o indivíduo fica mais velho é diferente. Morreu Isabel, do vôlei. Sim, era dois anos mais jovem que eu. Quem ainda acompanha esporte talvez saiba que as gerações de atletas medalhistas olímpicos e campeões mundiais no vôlei brasileiro tiveram gerações que pavimentaram o caminho que pegaram como estrada de barro. Isabel, Jaqueline, Ana Moser, entre tantas mulheres de muita fibra, Renan, Bernard, entre tantos homens que tiraram o esporte do limbo e o colocaram na primeira prateleira dos esportes admirados no país. Naqueles anos de admiráveis conquistas eu também pensava que tinha tudo.
Eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim, vou ser sempre assim, Gabriela. Na voz de Gal Costa cantando Modinha para Gabriela, Sônia Braga interpretou Gabriela, na novela da Globo, 1975, baseada na obra Gabriela, Cravo e Canela, livro de Jorge Amado lançado em 1958. Não é por acaso que minha filha se chama Gabriela. Em 1975 eu estava concluindo o ensino médio e me preparando para um voo imenso, pensava eu, a universidade. Eu não sabia, mas naquele tempo eu tinha tudo. Hoje, de Gal Costa resta a voz e a lembrança de alguém que embalou a vida de muitos em seus mais belos dias.
E não é que morre também Rolando Boldrin. Não é pouca coisa para tão poucos dias. Tinha 86 anos, um bom tempo para viver. Ninguém neste país chegou aos meus ouvidos contando causos com Rolando Boldrin no seu programa Sr. Brasil, TV Cultura. Causo é uma história com final engraçado. Conto alguns causos de vez em quando, inclusive nesta coluna. Porém, além de mostrar a produção cultural de artistas conhecidos ou pouco conhecidos de todos os cantos do país, Rolando Boldrin apresentava o seu programa no mais bonito cenário com peças do artesanato brasileiro que já vi. Um gentil homem na mais pura e ampla expressão do que isto queira dizer.
E de tantos que se vão a minha volta, dia desses se foi o Seu Derceu. Assim gostava de ser chamado. Construiu minha casa em Hulha Negra em 2002 (vendi em 2010) e a casa está lá na esquina da praça para quem quiser admirar uma das obras de um bom homem. Casa concluída, na sala havia uma lajota aparentemente mal colocada. Cristina, a dona da casa, observou: – Esta lajota está fora do prumo, seu Derceu. Este, olhou de canto de olho e disse:
-São seus olhos, Dona Cristina!!!

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