Deu o número e matou

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*Marco Antônio Ballejo Canto

Um amigo diz que no Brasil “tu dá um número e matou; noventa e cinco por cento não sabe, o resto é tímido, não questiona”. Poucas são as pessoas que explicam suas conclusões apoiadas em dados esta­tísticos.

Certa vez, alguém disse que o especialista sabe tudo de nada. O jornalista deve ser aquele que sabe quase nada de quase tudo. Coisas da profissão, aborda­gem de muitos temas.

Outro dia, no site www.ego.globo.com, que vive especulando a vida alheia, en­contrei esta pérola: Katie Holmes gasta quatorze milhões de dólares em seis meses. Subtítulo, a família Kruise comprou três apartamentos de quatro milhões de dólares cada um.

Comprou apartamentos, investiu, gastou. No título a senhora Kruise gasta, a seguir a família adquire. Interessante. Em restaurantes, a gastadeira senhora Kruise consumiu sete mil dólares, em roupas “de griffe”, quatorze mil, e em equipamentos de ginástica, sete mil dólares. Opa! A ordem de grandeza caiu de milhão para mil, com a maior naturalidade, e dos dois milhões de dólares gastos, a dife­rença entre o total e os imóveis, a matéria esclarece como foram gastos trinta e um mil, ou seja, um e meio por cento dos gastos. Ilustrativo.

Em certa época, o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, fez uma matéria de duas páginas tratando dos três maiores escândalos ocorridos no Estado, selos na As­sembléia, três milhões de reais; departamento de trânsito, quarenta milhões, e numa estatal, duzentos e cinqüenta milhões. O maior destaque, na Assembléia, três milhões.

Em outra ocasião, a notícia era de que o país per­deu quarenta mil empregos em outubro ou novembro, não lembro o mês. Vinham sendo abertas cento e cinqüenta mil novas vagas por mês e o país perdeu quarenta mil. Na verdade, perdeu cento e noventa mil entre as que não foram abertas e as existentes. Ficamos com quarenta mil. Menos impacto. No mês seguinte perdemos seiscentos e cinqüenta mil, as não abertas nem fazem diferença.

Tratando das migrações internas no Rio Grande do Sul, do sul empobrecido para o norte, dois jornalistas do maior jornal do Estado usaram os números dos censos oficiais de 2000 e 2007. A cidade de Bagé, pouco mais de cem mil habitantes, perdeu mais de dois mil habitantes. Esqueceram o crescimento vegetativo ocorrido no período. Levando em conta este parâmetro, a cidade perdeu, no mínimo, oito mil habitantes. Que diferença faz?

Nos telejornais vivem trocando milhão por bilhão, sem o menor constrangimento.

Certa vez a Cidinha, ainda bem pequenina e sem conhecer bem os veículos dizia à mãe:

– Chegou um carro na casa da vizinha.

A mãe perguntou: – que carro?

– Não sei, disse a menina, um fusca ou uma ja­manta*.

* jamanta: caminhão grande.

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