RECONHECIMENTO

Dia do Médico: Clínico Lafayette diz que medicina é a união da ciência com a arte

Lafayette atende em Candiota Foto: Divulgação TP

Graduado em 1972, o clínico geral Antônio Lafayette Rodrigues Pereira, 73 anos, que presta atendimento em Candiota, também conversou com o jornal sobre momentos marcantes da profissão lembrados até hoje e expôs sua visão sobre a medicina.

Entre os locais de atuação dele estão hospitais do o Rio de Janeiro, Teresópolis /RJ, Igarapé /MG e Candiota (Pronto Atendimento e Postos de Saúde da sede, Seival, Vila Operária, Assentamento Santa Lúcia, Assentamento 8 de Agosto e Assentamento 20 de Agosto).

Ao falar sobre a profissão durante a pandemia, Lafayette diz que o grande impacto foi presenciado durante os trabalhos desenvolvidos no Centro de Operações Emergenciais (COE) de Candiota. “Tive contato com diversos casais contaminados, algumas pessoas que já não estavam mais com o vírus em atividade e no final acabei tendo que emitir 41 atestados médicos para que aquelas pessoas permanecessem em repouso em suas residências. Foi uma atividade intensa, totalmente dedicada no combate ao vírus”, lembrou.

O TP também pediu ao clínico, que destacasse momentos marcantes da profissão ao longo destes quase 50 anos de atuação. Conforme Antônio Lafayette, dois momentos são sempre lembrados por ele, um ocorrido no Hospital do Andaraí e outro no Hospital Estadual Getúlio Vargas, de emergência, no Rio de Janeiro.

“Em uma noite de segunda-feira, do dia 31 de dezembro de 1973, estava de plantão, pois era cirurgião de emergência, com várias equipes atuantes diariamente e mais de mil consultas diárias. Por volta das 23h a Polícia Militar trocou tiros com uma quadrilha de traficantes nas proximidades do hospital. Um dos bandidos recebeu seis tiros no abdômen, chegou sangrando muito. Ainda no corredor tivemos que prestar atendimento de urgência. Ao entrar no centro cirúrgico com um colega um policial permaneceu sob guarda. O paciente tinha perfurações em diversos órgãos. À meia noite de 31 de dezembro para 1º de janeiro de 1974 chegou. Não tínhamos relógio, mas o foguetório anunciou a chegada do novo ano. No momento, parei meu ato cirúrgico e cumprimentei meu colega desejando feliz Ano Novo. Em seguida ele me propôs que deixássemos o homem morrer, porque estávamos salvando a vida dele e depois ele poderia nos assaltar. Eu respondi pra ele dizendo que o que o indivíduo fazia do pescoço pra cima era problema da polícia, da sociedade, e o que eu via ali era um abdômen com diversas perfurações, que estava suturando e fazendo transfusão para que o homem não morresse, pois pra mim como médico, bandido ou honesto é a mesma coisa. Depois, no próximo plantão, entrei no hospital e fui até a enfermaria para saber como o paciente tinha passado. De longe percebi um rapaz de traje azul, típico de enfermaria, em pé, junto a porta de entrada, encostado no batente e ao lado dele havia um policial. Vi que era o paciente, fiquei contemplando, e ele me fez uma pergunta: – doutor foi o senhor que me operou? Respondi: – sim amigo. Ele estendeu a mão direita em minha direção e me disse: – obrigado doutor. Foi um momento emocionante”, relatou.

Outra situação citada por Lafayette foi o atendimento de uma paciente de 13 anos. “Chegou uma paciente com a ‘doença do caramujo’. Era uma menina que tomava muito banho de açude e em Minas é comum, e que se não tratada a tempo, pode levar a morte. A menina estava ruim, tivemos que passar sangue a noite inteira, mas o problema era que a menina era de família religiosa e não admitiam transfusão. Me senti na obrigação de salvá-la, mas o pai da menina entrou na CTI e nos proibiu de fazer o tratamento. Achei um absurdo aquilo, o pai se rebelou conosco e chamei a polícia, que o deteve. Disse na ocasião que eu era obrigado a salvar vidas. Passei a noite inteira com a paciente até a chegada da equipe de cirurgia, lutando pela vida dela. Cumpri meu papel e fiquei de consciência tranquila”, contou.

Por fim, quando questionado sobre a medicina ser vista como uma mercadoria, ele disse concordar ser um produto, mas que não deve ser vista como uma mercadoria. “Medicina é ciência e arte, pois o médico tem que conhecer através do estudo e ter a sensibilidade de descobrir a hora de fazer as intervenções. O jovem formado ainda não está calejado, só adquire com o tempo. Quando se adquire um plano de saúde, é um produto, mas não chamaria de mercadoria, mas sim o resultado de ação da ciência e arte, um produto que é a restauração da saúde. Os médicos que entendem como mercadoria estão errados e cabe ao governo tomar providências quanto a isso e aos pacientes fugirem dos maus profissionais”, manifestou o médico.

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