Colocar no poder um sujeito doido de atar é sempre um risco. Se o doido ainda estiver senil, a coisa pode ficar bem pior.
Certa vez, quando prefeito de Hulha Negra, fui acompanhar as rainhas do carnaval de várias cidades brasileiras em Melo, no Uruguai, onde ocorria a ‘Fiesta de las Reinas de Carnaval’. Algo assim, que meu espanhol é muito ruim, o inglês também, o italiano, também, mas se precisar eu me viro em qualquer lugar onde se fala essas línguas. Certa vez em Buenos Aires falava devagar com uma advogada, com seus 80 anos, quando ela observou ‘hablas muy bien espanhol’, ao que respondi ‘compreendes muy bien português’. Eu estava falando em português. Mas volto ao que interessa.
No jantar com as autoridades, o assunto era Leonel Brizola, que já estava perto dos 80 anos, e logo passou a ser os grandes líderes e seus grandes erros quando em idade avançada. O intendente de Melo falou citando exemplos de várias lideranças conhecidas e foi tão eloquente que ainda hoje, uns 30 anos depois, ainda lembro.
Cito essas coisas para chegar em Donald Trump. Que ele é empreendedor e safado todo mundo sabe. Que ele por caminhos tortuosos construiu grande fortuna também. Que ele no governo é um perigo público também é sabido. Que ele está um velho senil, é possível. Delirante não há dúvida no ar. E este que já foi experimentado e reprovado após quatro anos de seu primeiro mandato, volta ao poder raivoso e destrambelhado. Nos quatro anos que ficou fora passou a acreditar que era o messias prometido para a América e que o incorporou, eleito, na sua figura fisicamente decadente. Quem olha Trump enxerga um velho, com cara de velho, com jeito de velho e com pensamento de velho, aquele que acredita que aprendeu tudo e que só vê o que ninguém viu.
“Nenhum país no mundo está correndo maior risco de passar por grandes problemas como os Estados Unidos. Alguns não estão correndo risco, estão com problemas.”
Trump onipotente esculhambou toda a ordem econômica mundial com suas tarifas e a sua convicção de que o mundo deve se ajoelhar aos pés da ‘santa cruz’, da América.
Trump faz uma política de extrema esquerda, protecionista, isolacionista, anarquista, nacionalista ao extremo, segregacionista, e como cereja do bolo, inundada de preconceitos.
Trump é um ‘eu gênio’, o cara que se acha. O líder que acredita que a ordem se impõe na marra e quem pode mais chora menos. Um idiota, charlatão e poderoso. E é aqui que mora o problema.
Nenhum país no mundo está correndo maior risco de passar por grandes problemas como os Estados Unidos. Alguns não estão correndo risco, estão com problemas.
E Trump está feliz. Tocou fogo no parquinho e está feliz. Delirantemente feliz.
Acontece que o mundo, a cada ano que passa, está menos se importando com os Estados Unidos. Em 2021, 11,09% das exportações brasileiras iam para os Estados Unidos e dos 88,91%, que não iam para os Estados Unidos, eram destinados à China 31,28%. Em 2019, 13% das exportações brasileiras iam para os Estados Unidos e, dos 87% que não iam para os Estados Unidos, eram destinados à China 27,6%. Pode-se observar que a cada ano a China fica mais importante e os Estados Unidos menos importantes para os exportadores brasileiros.
Com reservas de 400 bilhões de dólares em caixa, o Brasil pode passar por esta crise como quem passa por uma ‘marolinha’ e pode se beneficiar muito com os mercados que os norte-americanos estão perdendo. Um que outro setor pode sentir um pouco, mas no conjunto da obra me parece que a ‘América isolada’ é um grande negócio para o Brasil.