CANDIOTA

Futuro do carvão foi tema durante lançamento das obras da MAC

O deputado Lucas Redecker (discursando) e o prefeito Folador tocaram no assunto durante o ato de lançamento das obras da rodovia. O TP indagou Ranolfo e Eduardo Leite sobre o assunto após o evento Foto: Silvana Antunes TP

O futuro do carvão mineral nunca esteve tão em jogo como agora. Desde a Revolução Industrial na Inglaterra no fim do século 18 até hoje, o carvão é um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento da humanidade. Agora, questionado ambientalmente, ele é tido e havido como o vilão das mudanças climáticas no planeta.

Contudo, no Brasil, esta riqueza é muito pouco utilizada. Do ponto de vista da produção de energia elétrica, como todos já sabem, o carvão é usado um pouco mais em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Em solo gaúcho, é em Candiota que estão as duas únicas usinas em funcionamento – Pampa Sul e Fase C.

Mais recentemente, as apreensões aumentaram e muito, depois que o presidente da Eletrobras, Rodrigo Limp, declarou que o fechamento da Usina de Candiota (Fase C) é considerada, tendo em vista que os contratos de fornecimento de energia por ela, vencem em dezembro de 2024 e por enquanto não há uma definição de como serão renovados. Outra preocupação é quanto a privatização da Eletrobras, que é realidade, sendo que a unidade pertence a CGT Eletrosul, que é uma subsidiária da segunda maior estatal brasileira.

Durante o lançamento das obras de revitalização da rodovia Miguel Arlindo Câmara (MAC), no fim da manhã desta quinta-feira (9), com a presença de muitas autoridades, dentre elas do governador do Estado, o assunto foi inevitável.

Pelas redes sociais, o Sindicato dos Mineiros de Candiota provocou o debate. “Por mais que seja importante uma estrada em boas condições, ainda pesam sobre todos nós o risco de fechamento da Usina de Candiota em 2024. A melhoria de uma estrada terá total sentido se por ela continuarem transitando os trabalhadores e o futuro de seus empregos garantidos”, assinalou, criticando também algumas posições do atual governo do Estado sobre o carvão.

REDECKER – O primeiro a tocar no assunto durante o lançamento das obras foi o deputado federal Lucas Redecker, que é ex-secretário de Minas e Energia do RS e atual presidente do PSDB gaúcho. Lembrando da proclamação de República Rio-Grandense em solo candiotense em 1836, o deputado assinalou que a cidade tem riquezas na sua história, mas também em seu solo, que é o carvão. “Temos uma incongruência em relação ao nosso carvão, senão vejamos. O Brasil tem mais de 80% de sua matriz elétrica de energia limpa e 3% de carvão, enquanto que no mundo é mais de 40%. E nós que temos que pagar o preço não utilizando o carvão aqui de Candiota? Isso tá errado. Nós vamos lutar, independente de qualquer posição em Brasília, para que continuemos com o projetos de carvão na termoeletricidade, garantindo o mínimo de segurança ao sistema energético brasileiro. As pessoas daqui sobrevivem desta riqueza e tenho certeza que daqui 10 ou 20 anos teremos ainda mais tecnologia, como já tem hoje, para minorar ainda mais os impactos ambientais. Não podemos admitir essa perseguição contra o carvão nacional”, defendeu.

FOLADOR – O prefeito candiotense, Luiz Carlos Folador, dizendo fazer dele as palavras de Redecker, reforçou a defesa do carvão. “Tudo que vão fazer na Alemanha e nos Estados Unidos, nós já fizemos aqui há muito tempo. Nosso ar é de qualidade, as áreas mineradas são regeneradas, devolvemos a água para a natureza com PH 7,5 e as torres de dispersão possuem 200m para um particulado de 0,003%. Aqui temos sustentabilidade e nosso balanço ambiental é positivo. A tecnologia está avançando. A geração de energia a carvão é fundamental, sem falar na utilização da cinza na indústria cimenteira. Vamos parar com este preconceito”, pediu.

RANOLFO – O governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB) não falou do tema durante o lançamento, porém a reportagem do TP o abordou após o enceramento da cerimônia. Sem aprofundar qual a visão do governo estadual, Ranolfo se limitou a dizer que este é um ponto de atenção para o governo estadual também. “A Secretaria de Meio Ambiente tem esta instrução por parte nossa de dar apoio pela representatividade do desenvolvimento desta região histórica em razão disso. Não temos dúvidas sobre isso, inclusive estava na minha agenda uma visita a uma mina de carvão (o deslocamento por terra impediu a chegada a tempo). Mas conversei com o prefeito Folador e numa próxima vinda, como sinal de apoio, quero fazer uma visita e conhecer mais a importância desse setor”, disse.

LEITE – Da mesma forma, o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), que já se manifestou em outras ocasiões pela descarbonização do RS, não falou durante a cerimônia, mas foi questionado pelo jornal. “Temos que ter clareza que o mundo se alinha num conceito de energias renováveis, limpas, o que não contempla o carvão. O que nós lutamos é que seja feita a chamada transição justa, inclusive dentro no nosso plano Avançar na Sustentabilidade, o Estado disponibilizou R$ 5 milhões para a contratação de uma consultoria para ajudar a estruturar um processo de transição que garanta para as regiões que tenham atividade carbonífera, como é o caso aqui, tanto com uma reconversão para novas matrizes energéticas como econômica para sustentar as famílias que dependem desta atividade. Aliás, o investimento na MAC vem nesta esteira, porque na medida que vamos fazendo investimentos em infraestrutura, se busca ativar a diversificação da economia e ter menos dependência, se preparando para o processo futuro. Não sou a favor de uma simples desativação. Não podemos desprezar o que houve até aqui e diante disso não podemos apertar um botão e deixar todo mundo desamparado. Não é justo nos demandar que desativemos usinas quando temos 80% de nossa matriz renovável, como foi dito. É um processo que deve ser feito com serenidade e tranquilidade, sem deixar ninguém para trás”, analisa.

HAMM – O deputado Afonso Hamm (Progressistas) não estava no lançamento das obras da MAC, porém esteve em Candiota no início desta semana, quando igualmente foi demandado pelo TP sobre a questão. O deputado disse que em relação a Fase C é preciso trabalhar pela ampliação do contrato por mais 15 anos, no sentido de se continuar a geração de energia com maior economicidade, pois, segundo ele, está se falando de um térmica com o custo do megawatt (MW) em torno de R$ 90, enquanto as demais variam entre R$ 500 e R$ 1 mil. “Precisamos manter esta usina, porque ela gera milhares de empregos. Ela representa desenvolvimento econômico e já estamos, juntamente com o prefeito Folador, sensibilizando o governo federal. Não aceitamos, sob hipótese alguma, a desativação ou parada desta usina”, afirmou.

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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