ESPECIAL CORONAVÍRUS

Governo coloca todo o RS em bandeira preta a partir deste sábado

Também foi suspenso temporariamente o sistema de cogestão regional

Pela primeira vez todo o estado foi classificado em bandeira preta Foto: Divulgação TP

Diante do crescimento ex­ponencial de contágio de coronavírus e do pico de internações em leitos hospitalares desde o início da pandemia, o que já levou ao esgotamento de UTIs em algumas regiões, o governo do Estado decidiu, na quinta­-feira (25), ampliar as restrições para preservar vidas. A principal medida anunciada pelo governa­dor Eduardo Leite é a suspensão temporária do sistema de cogestão regional, o que obrigará os muni­cípios a adotar os protocolos da bandeira apontada pelo Distan­ciamento Controlado a partir des­te sábado (27) até o domingo (7). Além disso, a vigência do mapa da 43ª rodada será antecipada para sábado, colocando todo o Rio Grande do Sul em bandeira preta, nível mais grave do sistema gaú­cho de enfrentamento à pandemia.

“Tivemos um crescimen­to muito forte e sem precedentes nas internações em leitos clíni­cos e de UTI, por isso, é tão im­portante que alinhemos medidas mais restritivas, e precisamos dos prefeitos agora. Não dá para pagar para ver a partir das medidas já adotadas essa semana. Elas foram importantes, sem dúvida nenhu­ma, mas precisamos avançar na direção de uma efetiva conscienti­zação coletiva de que não estamos dentro da normalidade. E para dar esse golpe na taxa de contágio, precisamos ser mais restritivos desde já”, anunciou o governador durante reunião com prefeitos re­presentantes das 27 associações regionais de municípios.

A decisão pela bandeira preta é baseada em uma nova sal­vaguarda devido ao nível crítico de leitos livres e do elevado cres­cimento na ocupação hospitalar. A nova regra impõe garantia de ban­deira preta às 21 regiões quando a razão de leitos livres de UTI sobre leitos ocupados por Covid em UTI estiver menor ou igual a 0,35 a nível estadual. Conforme o Gabi­nete de Crise, o ajuste no modelo é necessário, pois, quando a capa­cidade hospitalar está próxima do limite, alguns dados podem sofrer atrasos de preenchimento devido à sobrecarga das equipes e, além disso, os indicadores de “veloci­dade do avanço” e de “variação da capacidade de atendimento” se tornam prejudicados – uma vez que, mesmo havendo demanda por leitos, podem não ser preenchidos devido à lotação das áreas Covid dos hospitais.

Na situação atual, o Es­tado se encontra próximo de 0,23, sendo que aproximadamente para cada leito livre há quatro leitos ocupados por pacientes confir­mados para Covid-19 em terapia intensiva (UTI). Na quinta-feira (25), os dados apontavam 1.323 pacientes internados por Covid-19, 181 internados suspeitos e 978 internações por outras doenças, sobrando apenas 221 leitos livres. “Não faz sentido que não seja as­sim, na medida em que todo o sistema hospitalar do Estado está submetido ao mesmo mecanismo de regulação hospitalar. O colapso de uma região, consequentemente, vai significar demanda para outra região e, assim, todas estarão fra­gilizadas. Mesmo que uma região esteja com menor possibilidade de contágio, qualquer contágio que ocorra encontrará o sistema com­prometido. É hora de todo o Esta­do seguir o mesmo protocolo, em um mesmo sentido”, afirmou Leite em transmissão ao vivo nesta tar­de.

 

 

 Restrições serão reavaliadas na próxima semana

Na macrorregião Sul, que contempla Bagé, Candiota, Hulha Negra, Pedras Altas e Pinheiro Machado, mais de 80% dos leitos estão ocupados Foto: Reprodução TP

No final da próxima sema­na, o governo deverá convocar nova reunião com a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) para avaliar os resultados das ações adotadas até aqui. Além da queda temporária da cogestão, será mantida a suspensão de atividades não essenciais entre 20h e 5h, cujo horário foi ampliado a partir do diálogo com prefeitos, e o Gabinete de Crise decidiu derrubar temporariamente também a Regra 0-0, que permitia que municípios com zero internação e zero óbito nos últimos 14 dias pudessem adotar os protocolos da bandeira imediatamen­te anterior à da sua região.

A decisão tem como base, principalmente, o alto índice de leitos ocupados e o risco altíssimo de es­gotamento da capacidade hospitalar do Estado. Em gráfico atualizado diariamente, o governador mostrou que no dia 7 de fevereiro o RS tinha 720 leitos livres, número que caiu para 292 na quarta (24) e 221 (25). “Ou seja, de mais de 700 leitos livres, caímos para menos de 300 em cerca de 15 dias. E o grande problema é este: o ritmo que isso vem tendo não nos permite esperar para ver o quanto as restrições recentes permitiram de redução de contágio. E essa redução para menos de 0,3 leito livre para cada leito ocupado vai impactar na estrutura do Estado como um todo”, esclareceu o governador.

A secretária da Saúde, Arita Bergmann, reforçou a necessidade de se fazer um “enfrentamento co­letivo” à pandemia. “Precisamos de uma tomada de posição que pode não ser a que gostaríamos, mas a que se faz necessária para frearmos essa escalada do vírus. Precisamos fazer uma mudança para evitarmos o pior, que é perder vidas – amigos, familiares, colegas. E isso nos move para fazer o enfrentamento coletivo, com apoio de todos”, afirmou Arita.

A expansão em 125% dos leitos de UTI adulto SUS no Estado foi fundamental para evitar o esgo­tamento da capacidade hospitalar até aqui, mas a velocidade de propaga­ção do coronavírus e o crescimento das internações por Covid-19 estão muito além do que a estrutura é ca­paz de suportar. “Quando fizemos a primeira reunião, com todos os pre­feitos eleitos, em 24 de janeiro, não imaginávamos que estaríamos hoje com 91% de taxa de ocupação dos leitos de UTI. Naquela oportunidade, estávamos com 74%. Isso significa que tudo que preparamos, em termos de retaguarda de leitos, não está sendo suficiente para atendermos as demandas diárias que temos. Temos 4.925 gaúchos internados por Covid. É um número maior do que a popu­lação de 230 municípios. Para dar conta, seriam necessários 60 novos leitos de UTI por dia. Não temos como fazer 60 leitos novos por dia. Depende de espaço, equipamentos, equipes, vários fatores”, detalhou a secretária.

 

ALERTA MÁXIMO A Secretaria da Saúde acionou, nesta quinta (25), o último nível da fase 4 do Plano de Contingência Hospitalar, montado no início da pandemia. Além da suspensão imediata das cirurgias eletivas (com exceção das cirurgias de urgência ou que representem risco para o paciente), a fase 4 pressupõe a instalação de leitos emergenciais em salas de recuperação e em UTIs intermediárias. Junto à ocupação dessas áreas, devem ser acionadas as equipes técnicas desses setores, especialmente as equipes médicas e de enfermagem. “Esgotamos a possibilidade de buscarmos alter­nativas para podermos acolher as pessoas, especialmente na questão dos leitos de UTI. Atualmente, 60% dos pacientes que chegam à UTI vão a óbito, e esse número está au­mentando. Isso sem considerar que muitos não chegarão aos leitos de UTI porque não teremos leitos de UTI. Já perdemos 12 mil vidas. Se não fizermos nada, chegaremos a 200 óbitos por dia, e a 15 mil óbitos até o dia 15 de março”, alertou a secretária.

Na macrorregião Sul, os estão os municípios de cobertura impressa do TP, a ocupação de leitos está em 84% (foto).

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