TRAGÉDIA

Incêndio destrói uma das casas mais antigas de Pinheiro Machado

Ajuda de voluntários foi essencial para cessar o incêndio no centro de Pinheiro Machado Foto: Divulgação TP

A manhã deste domingo (12) foi de pânico para uma conhecida família pinheirense. Por volta das 11 horas, um incêndio tomou conta do prédio onde residia e trabalhava o casal Carlos Flávio e Maria do Carmo Fadel Furtado. Segundo informações obtidas na Monografia Histórica do Município de Pinheiro Machado, de Odil Peraça Dutra, tratava-se de uma das construções mais antigas da cidade – do ano de 1900, em estilo colonial clássico, de propriedade de José Marcelino Ratto e adquirida pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil em 1945.

O SINISTRO – A reportagem do Tribuna do Pampa esteve no local algumas horas depois do ocorrido e acabou encontrando a moradora, que aceitou contar o que havia passado. Segundo ela, a causa do incêndio foi um curto circuito na rede elétrica. Para quem conhecia o prédio, o fogo iniciou no escritório, localizado em seguida do corredor de entrada, onde ao lado ficava a mercearia com os mais variados itens para venda. “No final de semana fica muita caixa de papelão e de plástico das mercadorias ali e acabou pegando fogo em tudo, foi muito rápido. Nós olhamos para trás e o fogo já estava por toda a parte, não tinha o que fazer”, descreveu Maria do Carmo.

PAVOR – Ainda segundo ela, enquanto saiu para a rua em busca de ajuda, Fadel permaneceu dentro da residência tentando salvar os pertences adquiridos ao longo de tantos anos de trabalho. Eles começaram a empreender em 1989, quando abriram uma videolocadora. “Meu marido ficou lá e depois saiu pelos fundos. Nós estávamos tentando salvar alguma coisa, mas não conseguimos salvar nada, nem meus óculos, telefone, nada. Fiquei de pijama na rua e os vizinhos me trouxeram roupas”, disse.

O casal morava e trabalhava ali há aproximadamente três décadas. Bastante emocionada, Maria do Carmo contou que perdeu o pai justamente em um incêndio e, naquele instante, acreditou que também perderia seu companheiro desses últimos 46 anos. “Eu gritava e ele não respondia, foi um pavor pensar que eu perderia meu marido do mesmo jeito que perdi o pai”, afirmou. Segundo resumiu, o susto foi enorme, mas o momento era de agradecer pela vida e pelo apoio da população. “Povo solidário esse nosso. Já ganhei até dinheiro aqui na rua. Duas casas emprestadas, móveis, tudo o que se pode imaginar. Só podemos agradecer mesmo”, finalizou.

As chamas também danificaram o prédio ao lado, que precisou ser esvaziado às pressas Foto: Gislene Farion/Especial TP

MOBILIZAÇÃO – Casos de incêndio em um município que não conta com um Corpo de Bombeiros só têm uma saída: união entre Brigada Militar e população. E isso não faltou naquela manhã. De acordo com relatos, dezenas de pessoas se uniram à guarnição de serviço para tentar cessar as chamas que, de modo muito rápido, iam destruindo os pertences da família Fadel e grande parte da estrutura da antiga construção. Além dessa, o prédio ao lado, onde estava instalada uma loja de artigos religiosos, também ficou bastante danificado. O fogo começou a atingir o telhado e os voluntários trataram logo de tentar salvar o que conseguiam para evitar mais uma tragédia e prejuízo.

O médico e amigo da família atingida, Ruy Celso Pereira Ratto, conseguiu resumir em uma rede social o ocorrido daquele triste dia. “Hoje esta cidade mostrou de modo comovente o espírito solidário do seu povo. Dezenas de pessoas tentavam debelar o fogo da casa do Fadel e tiravam tudo da casa ao lado. Dentre todos, estava meu sobrinho, ao lado de um policial que foi atingido na cabeça por um armário de vidro e poderia ter tido ferimentos terríveis. Meu respeito a todos os heróis anônimos, orgulhos desta cidade. O amigo Fadel não perdeu tudo. Perde tudo quem perde a vergonha, a hombridade, a honestidade, a dignidade e o respeito pela família e pelas pessoas”, escreveu.

Para o jornal, a Brigada Militar contou que as empresas BBM e Fagundes foram as responsáveis pelo fornecimento dos caminhões-pipa para ajudar na ação. O policial atingido durante o socorro garantiu que estava bem e que com ele não havia ocorrido nada grave. Os bombeiros foram acionados, mas conseguiram chegar somente depois para prestar atendimento. A equipe especializada que atende os pinheirenses tem sede em Bagé – cerca de 80 quilômetros de distância.

Prédio foi totalmente consumido pelas chamas Foto: Gislene Farion/Especial TP

PODER PÚBLICO – Minutos depois do sinistro, tão logo os primeiros vídeos começaram a circular pelas redes sociais, muitos pinheirenses levantaram a questão da necessidade da instalação de um Corpo de Bombeiros no município e da falta de ação do Poder Público diante do tema. O jornal entrou em contato com a Prefeitura de Pinheiro Machado para tratar do assunto. De acordo com a chefe de Gabinete, Lóren Ferreira, o atual governo (desde quando ainda era interino) já buscava soluções. Segundo Lóren, uma reunião ocorreu em março de 2021 no Corpo de Bombeiros Militar de Rio Grande, onde o Executivo formalizou a solicitação da instalação do Serviço Civil e Auxiliar de Bombeiros Voluntários (SCAB Voluntários) como alternativa para suprir a falta de um serviço efetivo no município. O projeto, conforme explicou, capacitaria um grupo de voluntários para atuar em casos de incêndio, mas na época não houve adesão de pessoas dispostas a participar.

Ainda segundo a chefe de Gabinete, novas tentativas serão realizadas ainda nesta semana pelo prefeito Ronaldo Madruga. “O prefeito, na sexta-feira (17), irá tratar a respeito da doação de um caminhão para que possamos dar seguimento à instalação do serviço aqui. Precisamos de uma série de equipamentos e de treinamentos, mas acredito que conseguindo esse caminhão, o projeto consiga ser implementado”, afirmou. Para a reportagem, ela disse ainda que as vereadoras Laura Ratto (MDB) e Elizete Baldez (Progressistas) também estão com agenda marcada em outro município para buscar subsídios e acredita ser nessa mesma modalidade.

AJUDA – Na terça-feira (14), o Circo Águias do Riso, que está de passagem por Pinheiro Machado, reverteu toda a renda da bilheteria para ajudar a família Fadel. Quem puder e quiser colaborar também, as doações podem ser feitas através do Pix (CPF) 013.828.310-99, em nome de Flávia Ritta Furtado; na rua Florentino Bueno, nº 231 ou de segunda a sexta na Câmara de Vereadores.

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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