INOVAÇÃO

Jovem candiotense com deficiência participa de teste clínico de prótese em Caxias do Sul

Prótese do projeto “Garra” está em desenvolvimento e promete ser funcional e com baixo custo

Luciano juntamente com a equipe em Caxias do Sul Foto: Divulgação TP

No último dia 27, o jovem candiotense Luciano Coutinho, 23 anos, foi até a cidade de Caxias do Sul para participar de um teste clínico de desenvolvimento de uma prótese de mão em formato de pinça, que faz parte do projeto “Garra”, pensado e criado pela empresa Longhi Automação em parceria com a Universidade de Caxias do Sul (UCS).

Luciano, mais conhecido como Mãozinha, chegou até o estudo do projeto por meio de uma matéria publicada aqui no Tribuna do Pampa, em setembro deste ano. Na edição, a equipe do TP falou sobre o dispositivo feito com alicate de pressão criado por ele, para ser o seu suporte em tarefas diárias e fazer o papel de uma mão, já que ele nasceu com a ausência do membro esquerdo. A matéria foi lida pela médica que atua em Candiota, Lidiane Klauck, que enviou o material para sua irmã Lianete Klauck, e para o seu cunhado Mosart Longhi, ambos proprietários da empresa Longhi Automação.

Por coincidência, no mesmo dia em que o material foi enviado ao casal, o projeto Garra havia acabado de receber a autorização para o início de seus testes clínicos, e alguns dias depois a intermediação entre os criadores e Luciano foi feita, até chegar o dia do encontro. O transporte de Luciano até Caxias do Sul, foi feito pela Prefeitura de Candiota por meio da Secretaria de Saúde.

 

A IDEIA

 

Segundo o médico responsável pelo projeto, Alexandre Avino, a ideia surgiu após a equipe criar um Ventilador Pulmonar Emergencial, o Frank5010, que foi elaborado por engenheiros, empresários, médicos e fisioterapeutas para ser um suporte em meio à pandemia da Covid-19, com a utilização de recursos locais e produção em tempo recorde.

Na sequência, o Projeto Garra nasceu. O trabalho coletivo criou uma prótese funcional em formato de pinça, que foi projetada para amputados de antebraço, e que além de restaurar a mobilidade, também oferece um suporte na realização de atividades diárias. “O movimento da Garra é acionado por um disparo de potencial elétrico, lido por um sensor, em resposta à contração muscular. Os testes pré-clínicos foram concluídos com sucesso, validando a eficácia da prótese”, explicou Avino.

Na sexta-feira (27), Luciano viajou até Caxias do Sul e foi o primeiro a realizar o teste clínico da prótese, e além de ter encantado a equipe, também demonstrou habilidade nos exercícios realizados com a prótese. “O Projeto GARRA representa uma inovação significativa, desafiando a norma atual do Sistema Único de Saúde (SUS), que oferece principalmente próteses estéticas”, disse Mosart, afirmando que, tanto a Longhi Automação quanto a UCS, estão prontas para transformar esse cenário, proporcionando uma solução funcional para amputados de antebraço em todo o país.

 

EXPERIÊNCIA

Na foto, Luciano está realizando o teste com uma garrafa plástica Foto: Divulgação TP

A equipe do TP entrou em contato com Luciano após a viagem, para saber como foi a experiência de usar a prótese e a sensação de utilizar as duas mãos.

Em sua fala, o jovem ressaltou que os testes foram bem simples, mas eficazes, e contaram com a ajuda de objetos usados durante a rotina diária. “Foi proposto um teste para eu pegar com a prótese de mão alguns objetos do dia a dia: uma garrafinha de água 600ml, um copo de vidro, um cubo mágico e com o auxílio da outra mão, uma tampa de um pote. Todos foram executados com sucesso”, disse ele, afirmando que a experiência foi muito boa.

Ao mencionar o teste executado por Luciano, Avino disse que o jovem cumpriu todo o processo com sucesso, conseguindo executar atividades cotidianas que requerem o uso das mãos, abrindo e fechando a pinça efetivamente. “Mesmo com um treinamento mínimo de alguns minutos e superando, inclusive, uma adaptação ao seu antebraço não customizada”, ressaltou o médico.

 

A GARRA

 

Você deve estar se perguntando o motivo da prótese ser uma pinça ou garra, mas segundo os estudos realizados pela equipe, “foi o movimento de pinça que permitiu ao homem a realização de trabalhos manuais, auxiliando inclusive durante o processo evolutivo da espécie no manuseio e construção de artigos de caça e demais ferramentas. A recuperação deste movimento, desta ação manual, mesmo que mecanicamente, traz um benefício imensurável a quem perdeu uma parte tão significativa do seu corpo ou quem não pôde contar com isso desde o nascimento”, explicou o médico..

Além disso, o equipamento foi pensado para ser um apoio efetivo, para que a mão operante possa realizar atividades com maior precisão e efetividade.  Segundo Avino, os trabalhos foram iniciados com o que se chama de esforço multidisciplinar, e com pouco mais de um ano, o produto já está em fase final de desenvolvimento e passando pelos testes clínicos. “A Garra executa um movimento de pinça entre o polegar e o conjunto dos demais dedos, orientados pelo dedo indicador. Seu acionamento ocorre por um disparo de potencial elétrico lido por um sensor, a partir de uma contração de um grupo muscular”.

 

RELEMBRE

Luciano, mais conhecido como Mãozinha, sempre fez o possível para realizar todas as atividades ao longo dos dias, mas uma das poucas coisas que ele não conseguia fazer era segurar um prego e martelar, o que atualmente já não é mais um problema. Ele, que trabalha na Fase C de Candiota, como almoxarife I na empresa Manserv, criou um dispositivo para ser o seu suporte em atividades do cotidiano com ajuda dos colegas, utilizando um alicate de pressão no braço. Com esta invenção, Mãozinha já conseguiu quebrar uma parede e colocar o encanamento para dentro, segurando uma talhadeira com a mão postiça.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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