DIA DO COLONO E MOTORISTA

Lugar de mulher também é no campo e no caminhão

Como forma de prestar homenagem às duas categorias pela data, o TP traz entrevistas com mulheres, que falaram sobre a vida no campo e na direção de um caminhão

Na próxima segunda-feira (25), de acordo com o decreto nº 63.461, de 21 de outubro de 1968, é comemorado o Dia do Motorista no Brasil, junto ao Dia de São Cristóvão, santo católico considerado o padroeiro dos motoristas no país. Conta uma parte da história, que Cristóvão, depois de se tornar cristão, ajudava pessoas que precisavam atravessar o rio, transportando-as em cima dos seus ombros.

Nesta data, também se comemora o Dia do Colono, aquele que escolheu como princípio de vida fazer brotar na terra o sustento de toda nação, aquele que espera a cada colheita que seu trabalho seja reconhecido.

A data de 25 de julho foi instituída como Dia do Colono em 1968, com a criação da Lei Federal 5.496, em 5 de setembro daquele ano, porém, a data já era conhecida desde 1924, quando estavam ocorrendo as comemorações do centenário da vinda dos alemães para o Rio Grande do Sul.

São consideradas duas datas importantes e com muito reconhecimento, tanto para o motorista, responsável pelo transporte de pessoas ou de cargas de modo a fazer grandes transformações na sociedade e até mesmo salvar vidas, como para o Colono, pois é através dele e do seu trabalho agrícola que é gerada a produção do alimento.

Na região, o dia é sempre motivo de comemoração. Em Hulha Negra, salvo nestes três últimos anos em razão da pandemia de Covid-19, o maior evento do município é realizado para fazer referência a data, a Festa do Colono. Os motoristas também costumam receber homenagens nos Legislativos.

VALORIZAÇÃO FEMININA – Para lembrar a data, o Tribuna do Pampa traz duas histórias especiais, desta vez com mulheres, uma colona e uma motorista. Em uma sociedade ainda bastante voltada a profissões masculinizadas, algumas mulheres que atuam no campo e na cidade junto a homens e ocupam cargos antes ocupados somente por eles, mostram seus potenciais e profissionalismo. Confira as histórias a seguir:

“Perdi o medo e digo que dirigir caminhão também
é para mulher”, afirma Milena Pereira

Milena tem 23 anos e completa neste mês um ano como motorista de caminhão Foto: Eduardo Jacques/Especial TP

Com 23 anos, casada e mãe do Fábio e do Lorenzo, Milena Machado Pereira, de Candiota, resolveu mudar a rotina e no próximo dia 28 de julho completa um ano como motorista na empresa Fagundes Construção e Mineração Ltda. Junto a outras motoristas, ela integra a equipe de profissionais que trabalha na Mina de Candiota com a extração e carregamento de carvão mineral diariamente.

Conforme Milena relatou ao TP, ser motorista de caminhão surgiu após uma decisão de mudança de vida. “Trabalhei como camareira, na área de limpeza, e por último em restaurante. Com carga horária pesada e insatisfação, decidi mudar. Ainda no restaurante, conversei com pessoas experientes que me incentivaram a tirar carteira para caminhão, que certamente conseguiria uma colocação na Fagundes, pois é uma empresa de oportunidades”, contou.

Sobre o início da profissão como motorista, Milena ressalta que a troca de serviço foi como da água para o vinho. Ela também falou sobre os medos iniciais e na superação para chegar onde está. “De auxiliar de cozinha passei para um caminhão grande e com caçamba grande. Inicialmente tinha medo da profissão de motorista, de dirigir caminhão, mas meu marido sempre me incentivou por já trabalhar na Fagundes com veículos bons. Foi quando tomei coragem e tirei minha carteira com total apoio dele e do amigo Jogada. Quando fui contratada, torcia para pegar um caminhão pequeno, mas enfrentei o medo, deixei ele de lado para dar uma vida melhor para minha família”, relatou.

A motorista lembra que foi treinada por outra mulher e que não teve dificuldades. “A Priscila foi ótima para meu aprendizado e no oitavo dia eu já estava andando sozinha, estava liberada, em uma função que jamais imaginei que teria. Hoje adoro dirigir e me sinto acolhida, vesti a camiseta da empresa”.

O TP também perguntou a Milena sobre seu sentimento com relação a função que ocupa na empresa. Ela diz não se ver em outro serviço. “Na empresa, as mulheres também são valorizadas, tratadas de forma igual, passam pelos mesmos procedimentos que os homens. Hoje me sinto muito feliz. Dirijo caminhão Volvo e Mercedes, já estou dando treinamento com o Mercedes para quem ainda não dirige este tipo de caminhão. Me sinto feliz em passar um pouco do meu conhecimento aos colegas”.

Solicitada também a deixar uma mensagem, principalmente as mulheres, Milena é enfática. “Mulher que gosta, digo que vá e tire a carteira de motorista, pois para mulher o serviço é escasso, ainda mais nesta área. Sou uma pessoa que hoje incentiva as mulheres. Tem gente que ainda diz que dirigir caminhão não é serviço para mulher, mas digo que é sim, porque tu querendo tu vai e faz, apesar de ser de muita responsabilidade”, finalizou.

“Minha vida é o campo”, diz Janete Radatz

Janete Radatz trabalha com a agroindústria e auxilia a família na lida do campo Foto: Divulgação TP

Com 49 anos e natural de Bagé, Janete Martinez Machado Radatz, está há 17 anos morando no assentamento Potiguara, interior de Hulha Negra. Casada com Dirceu Germano Radatz, 56 anos, natural de Formigueiro, ela mora e trabalha na propriedade junto aos filhos Diego Germano – que também já tem lote próprio – e Gisele.

Em entrevista ao TP, Janete contou sempre ter trabalhado com agricultura, visto a família possuir lavoura de arroz, lavoura de soja e agora estar em preparação para contar também com lavoura de trigo. Com o título de colona pela vida no campo, Janete conta que a rotina começa cedo na propriedade. “Temos tambo e temos que tirar leite, tanto para envio para a indústria como uso na agroindústria familiar Pampalac, que quando há produção também integra nossa rotina. Todos os dias ainda temos que colocar feno para o gado e cuidar da lavoura, além das atividades de lida na casa. Nosso sustento vem de várias frentes, cada um é envolvido com uma atividade na propriedade”, relatou.

Questionada pelo jornal acerca da importância da data, Janete fala em gratidão e orgulho. “A data especial dedicada ao colono, acho importante, tenho gratidão a Deus por ser colona e conseguir ter um pedaço de terra e tirar o sustento de toda família desde sempre. Tenho muito orgulho disso. Estamos muito felizes”, destacou.

Sobre a profissão, ela complementa dizendo que não se imaginaria em outra profissão. “Sempre temos fatores negativos no campo, principalmente relacionado ao clima ou preço de mercado. Mas minha vida é o campo, gosto do que faço, é um lugar tranquilo para se morar, em meio a natureza. Ainda acho que estar no campo e produzir é uma das coisas boas de se fazer, não tem preço”.

Na agroindústria Pampalac, há produção artesanal de queijo minas frescal, natural, colonial, temperado, iogurte natural e com sabor. A produtora ainda adiantou que há organização para produção também de requeijão.

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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